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Mandetta ameaça deixar o DEM e diz que vacina não pode ser arma política

Em entrevista exclusiva à EXAME, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, diz que "vai dar uma chance" para o partido depois do Carnaval

Luiz Henrique Mandetta. (Marcelo Casal jr/Agência Brasil)

Luiz Henrique Mandetta. (Marcelo Casal jr/Agência Brasil)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 5 de fevereiro de 2021 às 11h18.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2021 às 11h20.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta pode deixar o DEM. A insatisfação veio depois do racha do partido na eleição para a presidência da Câmara, na segunda-feira, 1º de fevereiro, em que muitos deputados não votaram em Baleia Rossi (MBD), candidato apoiado por Rodrigo Maia (DEM).

“Como eu não tenho mandato, eu estou muito tranquilo. Eu posso ficar sem partido para fazer essa discussão com todos os partidos, para ter uma transversalidade ampla, e, na hora certa, falar que este caminho é o melhor. Eu não estou convicto de que eu permaneço no partido, mas ainda vou dar a chance para eles abrirem essa discussão. Eu devo ir a Brasília depois do Carnaval e lá vai ter uma série de conversas”, disse Mandetta em entrevista exclusiva à EXAME.

Outra insatisfação de Mandetta veio da fala do presidente do DEM, ACM Neto, em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada na quinta-feira, 4. O ex-prefeito de Salvador disse que em 2022 o partido poderia apoiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Luciano Huck, e o próprio Mandetta como candidato à presidência da República - na última pesquisa EXAME/IDEIA o ex-ministro aparece com 1% das intenções de voto. Questionado se será candidato, Mandetta diz que ainda não sabe.

“O presidente do partido, o ACM Neto, dá uma entrevista em que fala que o pode estar com Doria, com Bolsonaro, com Huck, ou seja, um momento em que o país quer que aponte o caminho, ele aponta para o nada? Ele aponta para o ‘qualquer coisa serve desde que atenda os interesses do partido’. Espero que o partido reflita”, afirma.

O ex-ministro da Saúde ainda avalia que o racha que ocorreu durante a eleição do Congresso Nacional é fruto do sistema político brasileiro em que há um grande número de partidos.

“O Rodrigo [Maia] era quem capitaneava a agenda desse desejo que a sociedade tem de ter um governo moderado e principalmente responsável, que respeite os indivíduos, que não persiga a minoria. O DEM prega isso. Quando chegou a eleição, o Rodrigo Maia perdeu o timing de fazer a discussão dentro do partido com os deputados que lá estão. Não só o DEM fez isso, todos os que não fizeram entraram rachados. Há a falência do sistema partidário”, avalia.

Ministério da Saúde ficou em silêncio

Fora do Ministério da Saúde desde abril do ano passado, por divergências com o presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia de covid-19 no país, Mandetta destaca que o governo federal deixou de fazer a sua parte em vários momentos da crise, como também agora, no processo de vacinação.

“A decisão política do governo federal foi sair do SUS [Sistema Único de Saúde]. A ordem foi: fiquem em silêncio absoluto, na aquisição da vacina, como na hora de se fazer o plano. Quando começou a cobrança do STF [Supremo Tribunal Federal] para ter um plano de vacinação, o Ministério pegou aquele plano da gripe, convencional do idoso, e fez um corte e cola e escreveu covid. Não teve essa fase da construção com estados e municípios”, afirma.

Luiz Henrique Madetta também considera que a vacina está sendo usada de forma política. Há duas semanas, o governo incluiu os caminhoneiros no grupo prioritário de imunização contra a covid-19, para tentar evitar uma greve generalizada.

"Se tem um problema político com greve de caminhoneiros, resolva. Agora usar a vacina como arma de negociação, ou de sedução, é um crime porque as nossas crianças estão todas fora de aulas e se a gente quer a volta de aulas, deveria ter priorizado a vacinação para professores acima de 50 anos, se não tivesse para todos", afirma.

Para o ex-ministro, também faltou articulação e posicionamento do Ministério da Saúde na intenção do setor privado em adquirir 5 milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat. O governo federal também negocia a compra do imunizante com o laboratório.

"O que aconteceu foi que o setor privado bolou um plano para comprar a mesma vacina que o governo estava adquirindo, por um preço 3 vezes maior, para doar metade para o SUS e usar metade para os seus funcionários. Deixou as empresas em uma situação de vácuo. O que o Ministério deveria dizer é que o setor privado pode comprar de um laboratório que eu não vou adquirir”, diz.

 

 

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