Major Vitor Hugo (à direita) é o deputado responsável pela articulação política do governo na Câmara (Facebook/Reprodução)
André Jankavski
Publicado em 10 de março de 2019 às 08h00.
Última atualização em 10 de março de 2019 às 08h00.
São Paulo – O deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO) recebeu um dos desafios mais difíceis para um deputado de primeiro mandato: ser o líder no Congresso de um governo recém-eleito e que ainda patina para conseguir conquistar uma base dentro da Câmara dos Deputados.
Para complicar, Vitor Hugo precisa correr para garantir os 308 votos necessários para a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência. Trata-se da mais importante missão do início do governo do presidente Jair Bolsonaro.
E as cabeçadas do governo dentro do Executivo, que respingam na atuação no Congresso, não ajudam o trabalho do deputado. Ao contrário. Ele está na mira da situação e da oposição e recebendo críticas de todos os lados. O principal motivo seria a sua inexperiência. Vitor Hugo rebate.
"Vejo com humildade as críticas, mas não me desanimo", diz ele. "A forma como se deu a eleição, que resultou em um Congresso com vários partidos e sem loteamento de ministérios, fez com o que governo demorasse mais para formar a sua base. É uma mudança de paradigma."
Em conversa com EXAME, Vitor Hugo fala das suas expectativas para o andamento da Previdência no Congresso e quanto as crises envolvendo o governo, como o caso dos laranjas, podem afetar a tramitação dos projetos.
Como estão as conversas para a reforma da Previdência?
Tive uma receptividade muito boa dos deputados com quem conversei, especialmente do PSL. A maioria entendeu que a Nova Previdência precisa igualar o sistema dos servidores públicos com a iniciativa privada, além dos militares que terão mudanças em algumas leis, como a de pensões e a de promoção, o que também vai interferir nas polícias militares. Os deputados perceberam que quem ganha menos vai pagar menos e quem ganha mais vai pagar mais. Será um sistema muito mais sustentável. Os parlamentares enxergaram muito nexo na proposta. A alíquota será diminuída para mais de 20 milhões de pessoas.
E o diálogo com os deputados dos outros partidos?
Nas conversas de líderes de outros partidos, também senti essa mesma disposição. Havia isso antes da apresentação. Existirá um ponto ou outro de necessidade de conversa e esclarecimento, mas há a confiança da aprovação e um sentimento de boa proposta.
Muitos deputados com quem conversamos afirmaram que o projeto da reforma só andará com a chegada da proposta que fala da aposentadoria militar. Essa é a sua percepção?
Quando chegar o projeto dos militares, isso reforçará que a ideia é para todos. É um compromisso do presidente e das Forças Armadas de trabalhar no projeto. Isso somará esforços para que a proposta atinja que toda a sociedade contribua.
A reforma será desidratada? Vocês estão trabalhando com algum piso?
O governo fez a proposta inicial e na visão do governo é a ideal. Até porque tem uma economia maior do que 1 trilhão de reais. Mas, até pela experiência parlamentar do presidente Bolsonaro, o Congresso tem a palavra final. A posição do governo, no entanto, é buscar o máximo possível do projeto que foi apresentado. Quanto mais economizarmos em dez anos, mais os impactos da reforma serão sentidos no futuro. A economia voltará a crescer e os investimentos também. O país só tem a ganhar.
Muitos parlamentares e analistas estão criticando a condução política do senhor, especialmente por sua falta de experiência. O senhor tem visto essas críticas? Qual é a sua posição?
Eu recebo com humildade essas críticas, ainda mais por ser um deputado de primeiro mandato. Mas eu tenho conversado muito com o presidente da República, que é um eterno deputado, com o ministro Onyx Lorenzoni e com outros líderes. Era imaginado que uma pessoa de primeiro mandato teria essa inexperiência, mas eu vejo que existe um contexto maior que extrapola a figura do Vitor Hugo. A forma como se deu a eleição, que resultou em um Congresso com vários partidos e com um Executivo que não fez loteamento de ministérios, resultou em um governo que demora mais para formar a sua base. É uma mudança de paradigma. E para toda mudança é necessário tempo. Vejo com humildade as críticas, mas não me desanimo.
A crise dos laranjas do PSL está atrapalhando ou pode atrapalhar o andamento das reformas?
As reformas, em especial da Previdência, e as medidas que o governo vai apresentar com o tempo são tão estruturantes e relevantes para a vida das pessoas, que esses pontos são menores. Esses casos precisam ser investigados e as instituições estão funcionando para isso. Mas diante da importância de outros temas, fica de lado. A sociedade clama por uma Nova Previdência para garantir a sustentabilidade do sistema e pelo pacote de segurança do ministro Sérgio Moro. Há mais de 70.000 mortes, 50.000 estupros e 1 milhão de carros roubados todos os anos. Além das pessoas desaparecidas e policiais mortos. Há uma situação tão caótica na segurança e no âmbito fiscal que nenhuma dessas situações impeçam o governo de avançar.
Como será a sua liderança juntamente com os vice-líderes? O que será feito de diferente para engrenar essa articulação?
Selecionamos uma primeira leva de vice-líderes, que tem experiência e muita vontade de acertar. Eles não ajudarão apenas na reforma da Previdência, mas como para compor a base do governo.
Vocês estão confiantes na conquista dos 308 votos necessários para aprovar a PEC? Esperam uma tramitação será rápida?
Os ritos, por conta da segurança jurídica, não podem ser atropelados. Eles serão seguidos. E o governo está confiante com esses votos por conta da percepção da sensibilização de todos, inclusive da imprensa. As pessoas perceberam que é preciso mudar o sistema.