Lira diz não acreditar em terceira via e vê eleição polarizada em 2022
Para o presidente da Câmara, candidatos dos polos podem tender a posicionamentos mais ao centro e disputa presidencial deve repetir cenário visto no Brasil em eleições anteriores
Fabiane Stefano
Publicado em 25 de maio de 2021 às 12h05.
Última atualização em 25 de maio de 2021 às 18h14.
Para o presidente da Câmara dos Deputados , Arthur Lira (PP-AL), a eleição presidencial de 2022 não terá espaço para uma terceira via. O parlamentar acredita que o pleito repetirá o modelo polarizado que houve no Brasil na maior parte das disputas presidenciais desde a redemocratização. Em sua avaliação, os candidatos dos dois polos devem tender a posicionamentos mais ao centro para disputar os votos da população.
"Não acredito no Brasil em terceira via. Não houve desde 1989. O mais próximo que já se chegou foi com Marina Silva em 2014, porém na eleição seguinte já dissolveu como candidata", afirmou o deputado na 22ª edição do CEO Conference Brasil, evento promovido pelo banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), nesta terça-feira, 25.
Lira evitou dar prognósticos relacionados às pesquisas eleitorais mais recentes, pois em sua avaliação o presidente Jair Bolsonaro está em seu pior momento, enquanto o seu potencial oponente na eleição, o ex-presidente Lula, estaria em seu melhor. "Então a análise de quem estará melhor ou pior daqui um ano é muito relativa", disse.
"Pesquisa é um retrato do momento. Estamos numa complicação de vacinas, numa ausência, passaram-se três meses sem o auxílio emergencial, com uma população mais carente privada", afirmou.
Na última pesquisa EXAME/Ideia, divulgada na sexta-feira, 21, o ex-presidente apareceu na liderança das intenções de voto. Em um cenário de segundo turno entre ele e Bolsonaro, Lula tinha 45% das intenções contra 37% do atual presidente.
O presidente da Câmara vê uma guinada ao centro dos posicionamentos dos dois candidatos, sem uma terceira opção que ocupe o campo político. "Os dois irão convergir para o centro e o centro vai escolher qual o melhor para governar em 2022", disse.
Antes que a agenda política torne à disputa eleitoral, no entanto, o presidente da Casa afirmou que deseja aprovar as reformas tributária e administrativa que tramitam no Congresso. "É lamentável que percamos essa janela de 2021 açodando uma disputa de 2022", disse.
Agenda de reformas
O deputado reforçou que, entre as pautas que tramitam na Câmara, o principal legado que pretende deixar é o andamento das duas reformas.
A administrativa, que propõe mudanças no serviço público, como o fim da estabilidade para a maioria das carreiras e revisão de benefícios, teve a admissibilidade aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nesta terça. Depois de aprovada na comissão, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/2020, que trata do assunto, será encaminhada a uma comissão especial que discutirá o conteúdo da matéria.
Já a reforma tributária ainda está com o calendário incerto. Na segunda, Lira se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para tratar do andamento de seu projeto de discussão e aprovação de uma reforma fatiada. O presidente da Câmara reforçou que pretende dar andamento à reforma, mas defendeu que o procedimento não seja feito de forma "açodada".
"Se todos tivemos a paciência para esperar 24 meses um relatório, não podemos nos açodar na hora de discutir e dizer como vão ser votados os procedimentos", afirmou. "Temos que fazer uma reforma possível para o momento, que simplifique, desburocratize, não aumente a carga tributária e dê segurança jurídica. Se alcançarmos pelo menos 3 desses 4 pilares vamos entregar um legado para a população brasileira", disse.
O deputado sugeriu que a discussão comece pelo Projeto de Lei enviado pelo governo com a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) na Câmara dos Deputados, por meio infraconstitucional, e que a discussão do Refis, programa de refinanciamento de débitos tributários, seja feita no Senado. Lira mencionou também a possível discusão, em etapas seguintes, do imposto de renda de pessoa física e jurídica e da tributação de lucros e dividendos.