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Lava Jato pode esclarecer crime, diz irmão de Celso Daniel

Familiares de Celso Daniel defendem a tese de crime político, pela qual o prefeito teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas de corrupção


	O ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, morto em 2002: familiares defendem a tese de crime político, pela qual o prefeito teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas de corrupção
 (JOSE LUIS DA CONCEIÇAO/AGÊNCIA ESTADO)

O ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, morto em 2002: familiares defendem a tese de crime político, pela qual o prefeito teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas de corrupção (JOSE LUIS DA CONCEIÇAO/AGÊNCIA ESTADO)

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Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2016 às 16h04.

São Paulo - O irmão do prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em janeiro de 2002, Bruno Daniel, disse em entrevista à Rádio Estadão ter esperança que a 27ª fase da Lava Jato, Carbono 14, deflagrada nesta sexta-feira, 01, possa lançar luz sobre as investigações do assassinato.

Bruno e outros familiares de Celso Daniel defendem a tese de crime político, pela qual o prefeito teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas de corrupção em financiamento de campanhas do PT e de aliados.

"A operação Lava Jato, nesta etapa Carbono 14, pode lançar luz sobre o que aconteceu naquela época", afirmou Bruno. "É necessário esclarecer por que razão a direção do PT teria remetido, através de esquemas ilícitos, cerca de R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto, dinheiro com qual ele teria adquirido o jornal do Grande ABC mediante chantagem ao Lula, ao José Dirceu e ao Gilberto Carvalho", complementa.

Bruno Daniel acusa o PT de tentar dissuadir a família de seguir pressionando pela apuração do caso.

"O partido fez tudo o que era possível e imaginável para reforçar a tese da polícia, segundo a qual o crime seria um crime comum. Isso foi feito por inúmeros estratagemas. Por que razão o Partido dos Trabalhadores, com pouquíssimas exceções, se portou desse jeito?", questionou.

Ele citou apenas três pessoas do PT, Hélio Bicudo - hoje um dos autores do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff -, o ex-senador Eduardo Suplicy e o então vereador em Santo André Ricardo Alvarez de não serem coniventes com os indícios de crime político.

A Carbono 14 investiga supostos repasses do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Ronan.

Segundo as investigações, Bumlai tomou um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões em 2004 do Banco Schahin. Parte dos recursos foi destinada a pagar dívidas do PT.

Metade do valor, segundo disse Bumlai à Polícia Federal, teria sido destinada a quitar dívidas da campanha petista em Campinas, em 2002 e 2004.

A força-tarefa diz também que a operacionalização do esquema se deu inicialmente com o Frigorífico Bertin. De acordo com os investigadores, os outros R$ 6 milhões do montante foram destinados a Ronan Maria Pinto.

Os procuradores agora querem saber o porquê. Em coletiva nesta manhã, a Lava Jato admitiu que investiga o elo com a morte de Celso Daniel, mas não deu maiores detalhes.

Bruno disse que cabe à polícia investigar, mas que ele acredita que Ronan teria informações sobre a morte de seu irmão e que obteve recursos ao chantagear dirigentes petistas para manter o silêncio.

"Imagino, agora é só imaginação, pois quem deve elucidar isso é a investigação, mas imagino que ele (Ronan) tenha chantageado essas pessoas porque ele revelaria coisas relativas ao assassinato do Celso", afirmou.

Gilberto Carvalho

O irmão lembrou que foi encontrado um dossiê sobre corrupção na prefeitura de Santo André, no apartamento de Celso Daniel, três meses após a morte.

Bruno alega que o documento foi produzido pelo ex-ministro Gilberto Carvalho. Bruno também acusa Carvalho de tentar dissuadir a ele e seu irmão, João Francisco Daniel, a não insistirem no caso.

"À época da missa de sétimo dia do Celso, meu irmão e eu fomos procurados pelo Gilberto Carvalho, que disse que havia um esquema para arrecadação de recursos para campanhas eleitorais do PT e aliados e que ele próprio (Carvalho) havia levado ao José Dirceu, então presidente do Partido dos Trabalhadores a quantia de R$ 1,2 milhão no seu 'corsinha' preto", relatou.

"Nos perguntamos por que razão ele teria dito isso. A hipótese que a gente trabalha é que isso nos desestimularia a prosseguir nas investigações porque isso poderia representar uma mancha na história do Celso."

"Se houve problemas relacionados a esquemas espúrios de arrecadação de recursos, isso teria que ser apurado, mas nada justifica tortura e assassinato de quem quer que fosse", declarou.

Outro petista citado por Bruno na entrevista foi o atual prefeito de Mauá, Donisete Braga. "O então deputado estadual, Donisete Braga, teve seu celular rastreado na região do cativeiro do meu irmão, isso nunca foi esclarecido. O que estaria ele fazendo na região do cativeiro?"

Crime político

Na entrevista à Rádio Estadão, Bruno Daniel lembrou que a polícia trabalhou o tempo todo com a tese, a seu ver "estapafúrdia", de crime comum, e que o Ministério Público, a pedido da família, seguiu a tese de crime político.

Bruno lembrou também o caso do legista Carlos Delmonte Printes, que à época veio a público dizer que o assassinato de Celso Daniel tinha indícios que apontavam para queima de arquivo.

O legista deu uma entrevista ao programa de Jô Soares, na TV Globo, e pouco depois apareceu morto. A polícia, na ocasião, encerrou o caso como suicídio, destacou Bruno.

"Não foi encontrado nada no corpo dele que indicasse suicídio. Ele inclusive era de origem judaica e a família não aceitou que ele fosse enterrado em área separada no cemitério, como é da tradição deles", apontou.

Bruno destacou que seis pessoas já foram condenadas por envolvimento no caso da morte de seu irmão, mas que o suposto mandante Sergio Gomes da Silva, o 'Sombra', não foi ainda levado a júri popular.

Bruno Daniel diz que também seria importante questionar de onde o 'Sombra' tirou recursos para pagar o advogado, Roberto Podval.

"De onde saem os recursos de Sergio Gomes da Silva pra pagar o escritório de advocacia do doutor Podval, que cobra o olho da cara por seus serviços, de onde saem esses recursos?", insistiu.

Podval é também o defensor de José Dirceu, que foi preso na Lava Jato.

Outro lado

Contatado pela reportagem, Donisete Braga disse que sua resposta é "a resposta da Justiça". "O Tribunal de Justiça, por decisão unânime, por 25 votos a zero, rejeitou a denúncia, bem como o promotor Rodrigo Pinto.

Inclusive o próprio governador do Estado, Geraldo Alckmin, fez um documento informando minha presença no Palácio dos Bandeirantes no horário (do suposto rastreamento do celular)", disse o prefeito de Mauá.

Donisete Braga destacou ainda que a questão lhe causou dano político e pessoal e incluiu, em sua resposta, que até mesmo sua adversária na disputa eleitoral pela prefeitura em 2012, Vanessa Damo (PMDB), ficou inelegível por ter recorrido ao tema na campanha.

"Não quero repetir esse assunto que causou um transtorno imenso à minha vida", disse. Sobre a acusação de Bruno Daniel de que praticamente todos os membros do PT tentaram abafar a investigação do crime político, Donisete Braga disse que não iria se pronunciar. "Sem comentários", disse.

A reportagem também tentou contato com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, com o Instituto Lula, com o próprio partido, além de Carvalho e do advogado Roberto Podval e não recebeu retorno até o fechamento desta matéria.

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