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Opinião: A nova cultura dos doers e a reconstrução silenciosa da infraestrutura brasileira

Um olhar sobre a mudança real no Brasil, onde a execução e a governança constroem um futuro mais sólido e duradouro

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 11h54.

Por George Santoro*

Há transformações que não nascem de grandes gestos, mas de hábitos persistentes. Assim ocorre hoje no Brasil. Longe do espetáculo, longe da retórica que tanto se vê e tão pouco se cumpre, uma nova cultura se firma. Ela não faz ruído. Não se oferece à comoção. Trabalha. E trabalha com método.

Essa cultura é a dos doers, aqueles que compreendem que execução não é etapa posterior ao planejamento, mas sua razão de existir. A literatura internacional já sugeria esse caminho. Estudos na Harvard Business Review e no Academy of Management Journal apontam que instituições que dominam a arte de implementar superam aquelas que apenas planejam. Andrews e Woolcock, ao examinar diversas experiências de governo, concluem que a verdadeira capacidade estatal não reside em acumular intenções, mas em transformar intenções em realidade.

O Brasil, por um capricho ou talvez por uma maturidade tardia, começa a ilustrar tais ideias. No setor de transportes, onde por décadas estivemos presos entre ambição e inércia, o país estruturou ou contratou mais de R$ 600 bilhões em projetos. Realizou 22 leilões rodoviários. Organizou uma carteira adicional de R$ 400 bilhões para os próximos anos. Remodelou concessões ferroviárias, ressuscitou projetos paralisados e deu forma a obras que pareciam condenadas ao adiamento eterno. Creio que jamais tivemos, desde o início dos anos 2000, um conjunto tão expressivo de entregas.

O mercado, atento como sempre, foi o primeiro a reagir. As emissões de debêntures de infraestrutura, que há pouco somavam R$ 3,4 bilhões, ultrapassaram R$ 44 bilhões em 2025. Não há retórica capaz de produzir esse salto. Há confiança. E confiança nasce de sinais: segurança jurídica, previsibilidade regulatória, boa governança e, sobretudo, execução.

Enquanto isso, o mapa logístico do país se move. Corredores como a Rota Sertaneja, a Rota do Agro e a Rota da Celulose conectam regiões produtivas com custos menores e prazos mais racionais. Pesquisas do Banco Mundial e da Transportation Research Board lembram que países que estruturam corredores logísticos integrados ganham competitividade e estabilidade. O Brasil, enfim, ensaia esses passos.

A sustentabilidade, que tantas vezes foi apenas ornamento discursivo, assume papel central. A criação da primeira taxonomia sustentável de transportes da América Latina, os observatórios públicos de dados e as novas práticas de integridade mostram que o país articula logística, clima e desenvolvimento econômico de modo mais coerente. Após a COP30, deixamos de ser espectadores e assumimos posição mais firme na arena internacional.

O que se ergue no Brasil é mais do que obras e mais do que números. É uma mudança de espírito administrativo. Uma lenta reconstrução de credibilidade, feita sem pressa e sem alarde, como as coisas duradouras de que falava Machado. Governança não retarda projetos, apenas impede que eles se percam. Planejamento não disputa com velocidade, apenas lhe dá direção.

Os doers não são heróis épicos nem personagens excepcionais. São pessoas comuns que trabalham de forma incomum. Mostram que o futuro não se escreve por decreto. Constrói-se. E talvez seja essa constatação simples, quase prosaica, que devolva ao Brasil uma esperança mais sólida: a de que grandes transformações podem nascer do trabalho bem executado.

*Por George Santoro, secretário executivo do Ministério dos Transportes

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