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Igreja Católica quer abrir um "canal de diálogo" com o governo Bolsonaro

O novo presidente da CNBB, d. Walmor Oliveira de Azevedo, pretende se reunir com o presidente Jair Bolsonaro para discutir temas voltados à Igreja

Bolsonaro: o novo presidente da CNBB é considerado homem de diálogo (Adriano Machado/Reuters/Reuters)

Bolsonaro: o novo presidente da CNBB é considerado homem de diálogo (Adriano Machado/Reuters/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de maio de 2019 às 11h01.

Aparecida — A julgar pelo perfil dos bispos eleitos durante a 57ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em Aparecida (SP) até sexta-feira (10) a Igreja manterá sua atuação, sem "rupturas", reafirmando posicionamentos já conhecidos.

Além da tradição de marcar uma audiência da cúpula com o papa Francisco, a presidência recém-eleita da CNBB pretende se reunir com o presidente Jair Bolsonaro. O objetivo do encontro é abrir um "canal de diálogo" com o governo e discutir temas voltados à Igreja.

Segundo bispos ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, eventuais diferenças ideológicas existentes na Igreja são pouco perceptíveis e insuficientes para dividir os integrantes do episcopado entre "conservadores e progressistas". Os bispos disseram ainda evitar essa "classificação", sob o argumento de todos concordam em questões de moral e doutrina.

Na segunda-feira, dia 6, o arcebispo de Belo Horizonte, d. Walmor Oliveira de Azevedo, baiano da cidade de Cocos, foi eleito o novo presidente da CNBB para os próximos quatro anos. Dois vice-presidentes - d. Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), e d. Mário Antonio Silva, bispo de Roraima -, também foram escolhidos na assembleia-geral.

Doutor em teologia dogmática, d. Walmor foi transferido para Belo Horizonte em 2004. Considerado homem de diálogo, sempre trabalhou em união com seus bispos auxiliares.

Arcebispo emérito de Aparecida, d. Raymundo Damasceno Assis afirmou que, independentemente da troca da cúpula da conferência, a Igreja "não vai mudar", mantendo o olhar dirigido aos "pobres, negros, indígenas, quilombolas, sem-teto e aos desprotegidos". Segundo ele, a Igreja vai intervir se alguma dessas populações "sofrer ameaças ou correr riscos com novas políticas de governo".

D. Raymundo, que foi duas vezes presidente da CNBB, citou o documento Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023, aprovado na segunda-feira pelo episcopado. Com base nessas diretrizes, disse d. Raymundo, a Igreja vai atuar, "buscando contato com autoridades e reafirmando posições, como sempre tem feito". "Isso não depende da opinião de um ou de outro membro da diretoria da CNBB", declarou.

O arcebispo de Salvador, d. Murilo Krieger, foi na mesma linha. "A publicação de uma nota não depende da assinatura de todos os membros da diretoria." D. Murilo defendeu a independência da Igreja. "Igreja é igreja, governo é governo."

Defensor da causa indígena e de questões ligadas à terra, d. Erwin Krautler, bispo do Xingu, afirmou que ficou satisfeito com os nomes escolhidos na assembleia em Aparecida. Disse que não haverá ruptura de compromissos e que os "ideais" da Igreja estão mantidos.

Sínodo

Arcebispo emérito de São Paulo, d. Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo da Amazônia, foi questionado sobre a preocupação do Planalto com o que considera "agenda de esquerda" por parte da Igreja. Segundo ele, após conversas com generais, o caso está superado.

Como mostrou o Estado em fevereiro, informes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e dos comandos militares relataram encontros de cardeais brasileiros com o papa Francisco, no Vaticano, para discutir a realização do sínodo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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