Grampo mostra Lula como interlocutor do PMDB no pré-sal
Conversa com Jaques Wagner mostra os bastidores da aprovação no Senado do projeto que acabava com participação obrigatória da Petrobras
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2016 às 13h56.
São Paulo - Os grampos da Operação Lava Jato que monitoraram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com autorização da Justiça mostram que, mesmo fora do governo, ele foi um dos principais interlocutores de caciques do PMDB , que nesta terça-feira, 29, desembarcam da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff.
Em conversa gravada da entre Lula e o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no final de fevereiro, os dois discutem os bastidores da aprovação pelo Senado do projeto que acabou com a participação obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo nos campos do pré-sal - uma das derrotas do governo Dilma no Congresso.
Proposta pelo senador José Serra (PSDB-SP) - arquirrival dos petistas - o projeto foi aprovado no dia 24, com texto substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB-RR), após acordo entre o PSDB e parte da bancada peemedebista.
"A orientação que ela (presidente Dilma Rousseff) passou: só não pode dar o Serra", afirma Wagner, para Lula, em conversa após a aprovação do projeto pelo Senado.
Lula então conta que esteve reunido com a bancada governista do PMDB e tratou do assunto. "Deixa eu te falar uma coisa de bom senso, vai ficar entre eu e você essa porra. Logo que foi a primeira votação do José Serra, você está lembrado? Eu estava em um almoço, Jucá, Renan (Calheiros, presidente do Senado), (José) Sarney, (Edison) Lobão, eu. Quando me disseram que o Renan ia votar a posição do Serra, eu falei na mesa 'o Renan, pelo amor de Deus, o PMDB não pode embarcar nessa porra. O PMDB pode até flexibilizar mas garantindo que a decisão seja da Petrobras".
Para Lula, "no fundo, no fundo, um pouco dos que eles fizeram foi isso" ao aprovar o projeto, com o substitutivo de Jucá.
Briga
Ao saber de Lula que ele havia se encontrado com a cúpula congressista do PMDB, Wagner fala: "Presidente ainda bem que você tocou no ponto, porque o Renan publicamente estava trabalhando para essa posição que ficou saindo. Então a gente ia ficar no isolamento, porque o Lindbergh acha que ia ganhar."
Wagner diz que defendeu Dilma, afirmando que ela não mudou de posição. O diálogo gravado entre os dois petistas ocorre no domingo, 28 de fevereiro, após a festa de aniversário dos 36 anos do PT, no Rio, em que Lula fez discurso aos partidários.
O ministro da Casa Civil começa a conversa dizendo que tinha uma reunião marcada com senadores e que não queria desmarcar por conta da votação do projeto da Petrobras.
"A festa foi boa. Acho que não tinha aquele mal humor que a imprensa falava contra a Dilma, sabe. Eu falei ó 'tem problemas? Tem. O partido não é obrigado a acatar tudo que o governo faz, o governo não é obrigado a atender tudo que o partido quer. Mas temos que ter em conta que a Dilma é nossa presidenta. E ela sabe que somos o exército dela', afirma Lula.
O ex-presidente brincou com Wagner: "É que nem a mãe da gente, faz comida a gente não gosta, mas come".
Lula demonstrou desacordo com o enfrentamento travado pelo governo no Congresso pela aprovação do projeto - o Senado aprovou por 40 votos favoráveis, 26 contrários e duas abstenções, o texto substitutivo, alterando as regras de exploração de petróleo do pré-sal.
A proposta retira da Petrobras a exclusividade das atividades no pré-sal e acaba com a obrigação de a estatal a participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração dos campos.
Lula relatou, também, conversa com lideranças sindicais, que tinham ato público marcado contra o governo Dilma. "Vamos imaginar que a medida provisória do Serra era o bode. Tirou o bode da sala e colou uma coisa mais razoável, que é garantir que a Petrobras tenha preferência, mas que pode ser negociado montando uma boa diretoria da Petrobras, um bom conselho nacional de política energética", afirma Lula.
Para o ex-presidente, "ficará também muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada".
"Acho que Dilma poderia conversar com a nossa base, criando uma comissão especial para tentar fazer um acordo estratégico com os chineses em cima do pré-sal em cima desses 30%. Tentando dar para os caras um discurso que coloca, como fala, um capilé, uma rota de fuga."
São Paulo - Os grampos da Operação Lava Jato que monitoraram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com autorização da Justiça mostram que, mesmo fora do governo, ele foi um dos principais interlocutores de caciques do PMDB , que nesta terça-feira, 29, desembarcam da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff.
Em conversa gravada da entre Lula e o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no final de fevereiro, os dois discutem os bastidores da aprovação pelo Senado do projeto que acabou com a participação obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo nos campos do pré-sal - uma das derrotas do governo Dilma no Congresso.
Proposta pelo senador José Serra (PSDB-SP) - arquirrival dos petistas - o projeto foi aprovado no dia 24, com texto substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB-RR), após acordo entre o PSDB e parte da bancada peemedebista.
"A orientação que ela (presidente Dilma Rousseff) passou: só não pode dar o Serra", afirma Wagner, para Lula, em conversa após a aprovação do projeto pelo Senado.
Lula então conta que esteve reunido com a bancada governista do PMDB e tratou do assunto. "Deixa eu te falar uma coisa de bom senso, vai ficar entre eu e você essa porra. Logo que foi a primeira votação do José Serra, você está lembrado? Eu estava em um almoço, Jucá, Renan (Calheiros, presidente do Senado), (José) Sarney, (Edison) Lobão, eu. Quando me disseram que o Renan ia votar a posição do Serra, eu falei na mesa 'o Renan, pelo amor de Deus, o PMDB não pode embarcar nessa porra. O PMDB pode até flexibilizar mas garantindo que a decisão seja da Petrobras".
Para Lula, "no fundo, no fundo, um pouco dos que eles fizeram foi isso" ao aprovar o projeto, com o substitutivo de Jucá.
Briga
Ao saber de Lula que ele havia se encontrado com a cúpula congressista do PMDB, Wagner fala: "Presidente ainda bem que você tocou no ponto, porque o Renan publicamente estava trabalhando para essa posição que ficou saindo. Então a gente ia ficar no isolamento, porque o Lindbergh acha que ia ganhar."
Wagner diz que defendeu Dilma, afirmando que ela não mudou de posição. O diálogo gravado entre os dois petistas ocorre no domingo, 28 de fevereiro, após a festa de aniversário dos 36 anos do PT, no Rio, em que Lula fez discurso aos partidários.
O ministro da Casa Civil começa a conversa dizendo que tinha uma reunião marcada com senadores e que não queria desmarcar por conta da votação do projeto da Petrobras.
"A festa foi boa. Acho que não tinha aquele mal humor que a imprensa falava contra a Dilma, sabe. Eu falei ó 'tem problemas? Tem. O partido não é obrigado a acatar tudo que o governo faz, o governo não é obrigado a atender tudo que o partido quer. Mas temos que ter em conta que a Dilma é nossa presidenta. E ela sabe que somos o exército dela', afirma Lula.
O ex-presidente brincou com Wagner: "É que nem a mãe da gente, faz comida a gente não gosta, mas come".
Lula demonstrou desacordo com o enfrentamento travado pelo governo no Congresso pela aprovação do projeto - o Senado aprovou por 40 votos favoráveis, 26 contrários e duas abstenções, o texto substitutivo, alterando as regras de exploração de petróleo do pré-sal.
A proposta retira da Petrobras a exclusividade das atividades no pré-sal e acaba com a obrigação de a estatal a participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração dos campos.
Lula relatou, também, conversa com lideranças sindicais, que tinham ato público marcado contra o governo Dilma. "Vamos imaginar que a medida provisória do Serra era o bode. Tirou o bode da sala e colou uma coisa mais razoável, que é garantir que a Petrobras tenha preferência, mas que pode ser negociado montando uma boa diretoria da Petrobras, um bom conselho nacional de política energética", afirma Lula.
Para o ex-presidente, "ficará também muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada".
"Acho que Dilma poderia conversar com a nossa base, criando uma comissão especial para tentar fazer um acordo estratégico com os chineses em cima do pré-sal em cima desses 30%. Tentando dar para os caras um discurso que coloca, como fala, um capilé, uma rota de fuga."