Gestão Doria começa a fechar hotéis do programa De Braços Abertos
A ação começou por volta das 7 horas no Hotel Santa Maria, localizado na Alameda Barão de Limeira, na Santa Cecília
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 17h22.
São Paulo - A Prefeitura de São Paulo fechou nesta sexta-feira, 26, o atendimento de um dos sete hotéis que participam do De Braços Abertos (DBA), programa voltado a dependentes químicos criado na gestão Fernando Haddad (PT).
A ação começou por volta das 7 horas no Hotel Santa Maria, localizado na Alameda Barão de Limeira, na Santa Cecília, região central da cidade.
A reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" acompanhou a retirada dos moradores. Um deles, que se identificou apenas como Daniel, ao deixar o local disse que iria para o "fluxo" da Cracolândia, que reunia centenas de usuários no início desta manhã nas imediações da Praça Julio Prestes, no Campos Elísios
Das 28 moradores, 11 ainda não tinham destino definido até o fim desta manhã, dos quais três se recusaram a receber atendimento e oito não estavam presentes no início da desocupação. Outros 15 homens foram encaminhados para os Centros Temporários de Acolhida (CTA) Prates, no centro, e Santana, na região norte, enquanto dois se mudaram para o Hotel Parque Dom Pedro, também do DBA.
"Não houve nenhum encaminhando da Prefeitura para outro hotel. Esse deslocamento foi feito pelo próprio usuário, que tem livre circulação e optou por se dirigir a esse hotel", comentou o chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, José Castro, que coordenou a operação.
Os moradores foram avisados do fechamento no início da semana, de acordo com Castro. Já os funcionários que atuavam no local teriam sido demitidos pelo Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), responsável por gerir o espaço. "Em 2016, o Iabas herdou o gerenciamento do Hotel Santa Maria quando o local já apresentava problemas estruturais e sociais crônicos, o que contribuiu para o processo de deterioração do espaço", informou por meio de nota.
Beneficiário do DBA há quatro anos, o artista plástico Narciso Rodrigues, de 51 anos, aceitou ser transferido para o CTA Prates, mas chegou a chorar ao fazer críticas ao fechamento do hotel. "Isso aqui era o nosso sonho. Nós íamos fazer a manutenção. Aqui tem pessoas que são pedreiros, pintores", conta.
Já Manoel Rodrigues Guimarães, de 61 anos, foi para o Centro de Acolhida Especial Morada São João, destinado a idosos. "Esse aqui (Hotel Santa Maria) era o melhorzinho dos que eu passei", compara ao se referir ao demais espaços vinculados ao DBA.
Para Marcos Vinicius Maia, de 35 anos, do movimento A Craco Resiste, mais ex-moradores devem voltar para a Cracolândia com a decisão. "Eles não vão ficar lá (nos CTAs). Isso é uma política inversa. Aqui eles entram e saem a hora que querem, têm cuidados. É a casa deles", defende.
Situação
Questionado pelo prefeito João Doria (PSDB) durante a campanha eleitoral, o DBA deve ser descontinuado pela gestão. Segundo beneficiários, seus contratos de varrição (pelos quais são pagos semanalmente em dinheiro) têm validade apenas até o fim de março - o que não foi confirmado pela Prefeitura.
"O programa De Braços Abertos acabou quando o prefeito João Doria tomou posse. Em respeito a cada um dos usuários, nós mantivemos o que havia de melhor, de positivo do programa anterior", declarou nesta sexta-feira, 26, o coordenador do programamunicipal Redenção, Arthur Guerra.
Segundo Guerra, a Prefeitura preparou os CTAs durante todo o ano passado para fazer essa transição - que ainda não tem data. "A ideia é que aos poucos, e com dignidade e respeito, nós possamos oferecer outro tipo de pensionato para essas pessoas que não esses hotéis", disse.
O coordenador ressaltou ainda que o Hotel Santa Maria, além de questões de insalubridade e problemas estruturais, também era um local em que drogas eram consumidas livremente pelos moradores."Isso é pago com dinheiro público, muito difícil de se manter uma situação dessa, muito difícil", complementa.
Já Castro ressaltou que o fechamento do hotel, que era pago pela Prefeitura, ocorreu principalmente devido às "condições indignas" do local, que envolveriam insalubridade e problemas estruturais - pelos quais o proprietário chegou a ser autuado.
"Nós estamos intensificando o atendimento da saúde nos nossos equipamentos, o que era muito frágil dentro desses hotéis. Ele praticamente não existia", afirma. Segundo ele, a desocupação foi construída com "muita tranquilidade" e foi "um sucesso".
"O critério principal que está sendo utilizado nessa operação é o bem-estar das pessoas, então, da mesma maneira que vamos respeitar o quesito da singularidade no atendimento deles dentro dos equipamentos. Toda e qualquer outra operação vai ter como princípio o bem-estar dos usuários", aponta.