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FHC reconhece que há uma certa solidão no poder

Após completar 80 anos, o ex-presidente revelou também que não está seguro se será lembrado no longo prazo

FHC: "não é solidão no sentido de que você não seja cercado por pessoas, mas é que você tem de ser muito reservado em muitas matérias" (Germano Luders/EXAME)
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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2012 às 17h57.

São Paulo - Num tom intimista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) reconheceu que há uma certa solidão no poder e revelou, após completar 80 anos, que não está seguro se será lembrado no longo prazo. Em entrevista concedida ao jornalista Eric Nepomuceno, e que será transmitida às 21 horas de hoje, no Canal Brasil, o ex-presidente afirmou que tem pavor de ficar semilúcido ou semiparalítico e que conversa, por meio da memória, "com aqueles que já se foram". "Eu fico imaginando o que fulano, o que beltrano, sobretudo a Ruth Cardoso, o que diriam em certa circunstância", disse. No breve bate-papo, o ex-presidente dimensionou a sua solidão como grande e ressaltou que aquele que tem poder tem de "tomar cuidados que normalmente não precisaria tomar".

"Não é a solidão no sentido de que você não seja cercado por pessoas, mas é que você tem de ser muito reservado em muitas matérias, porque tudo o que você fala circula", ressaltou. "E certas questões no poder são suas, você não pode delegar, não tem nem com quem conversar", acrescentou. O ex-presidente se considera uma pessoa feliz e avalia que a vida não lhe deve nada. "Eu acho que eu devo à vida, eu não tenho do que me queixar", afirmou. "Eu não me sinto credor dos outros, talvez eu deva retribuir por muito o que recebi", emendou.

O tucano admitiu que não está seguro se, no longo prazo, será lembrado. No curto prazo, ele disse acreditar que será recordado pela estabilização da economia e por ter sido um democrata. "Na história, as pessoas são julgadas, rejulgadas, voltam a ser julgadas e a percepção futura vai variando", disse. "Eu não tenho a pretensão de ter um julgamento estável", afirmou.

Ele disse ainda que poderia ter sido mais audacioso na juventude e foi categórico quando questionado se tinha alguma frustração em sua trajetória política. "Na política, eu não tenho frustrações", respondeu. O tucano considerou ainda que, se não tivesse perdido as eleições para a Prefeitura de São Paulo, em 1985, "não teria sido provavelmente mais nada". "Eu não tinha maturidade", observou. Ele reconheceu ainda que a Revolução Cubana, de 1959, foi uma "marca muito forte" e um fato "muito significativo".

"Eu acho que, para a minha geração, a Revolução Cubana foi uma marca muito forte, não tem uma palavra minha de crítica à Revolução Cubana", lembrou. "Eu sei o que aconteceu depois, mas eu acho que isso não apaga o que significou naquele momento". Ele admitiu ainda que uma de suas angústias é a morte. "Não que eu sofra a angústia da morte, mas a angústia da morte significa: E a vida para quê? O que é a vida?", respondeu. "Não há resposta".

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São Paulo - Num tom intimista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) reconheceu que há uma certa solidão no poder e revelou, após completar 80 anos, que não está seguro se será lembrado no longo prazo. Em entrevista concedida ao jornalista Eric Nepomuceno, e que será transmitida às 21 horas de hoje, no Canal Brasil, o ex-presidente afirmou que tem pavor de ficar semilúcido ou semiparalítico e que conversa, por meio da memória, "com aqueles que já se foram". "Eu fico imaginando o que fulano, o que beltrano, sobretudo a Ruth Cardoso, o que diriam em certa circunstância", disse. No breve bate-papo, o ex-presidente dimensionou a sua solidão como grande e ressaltou que aquele que tem poder tem de "tomar cuidados que normalmente não precisaria tomar".

"Não é a solidão no sentido de que você não seja cercado por pessoas, mas é que você tem de ser muito reservado em muitas matérias, porque tudo o que você fala circula", ressaltou. "E certas questões no poder são suas, você não pode delegar, não tem nem com quem conversar", acrescentou. O ex-presidente se considera uma pessoa feliz e avalia que a vida não lhe deve nada. "Eu acho que eu devo à vida, eu não tenho do que me queixar", afirmou. "Eu não me sinto credor dos outros, talvez eu deva retribuir por muito o que recebi", emendou.

O tucano admitiu que não está seguro se, no longo prazo, será lembrado. No curto prazo, ele disse acreditar que será recordado pela estabilização da economia e por ter sido um democrata. "Na história, as pessoas são julgadas, rejulgadas, voltam a ser julgadas e a percepção futura vai variando", disse. "Eu não tenho a pretensão de ter um julgamento estável", afirmou.

Ele disse ainda que poderia ter sido mais audacioso na juventude e foi categórico quando questionado se tinha alguma frustração em sua trajetória política. "Na política, eu não tenho frustrações", respondeu. O tucano considerou ainda que, se não tivesse perdido as eleições para a Prefeitura de São Paulo, em 1985, "não teria sido provavelmente mais nada". "Eu não tinha maturidade", observou. Ele reconheceu ainda que a Revolução Cubana, de 1959, foi uma "marca muito forte" e um fato "muito significativo".

"Eu acho que, para a minha geração, a Revolução Cubana foi uma marca muito forte, não tem uma palavra minha de crítica à Revolução Cubana", lembrou. "Eu sei o que aconteceu depois, mas eu acho que isso não apaga o que significou naquele momento". Ele admitiu ainda que uma de suas angústias é a morte. "Não que eu sofra a angústia da morte, mas a angústia da morte significa: E a vida para quê? O que é a vida?", respondeu. "Não há resposta".

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