A Escola Tsso da Silveira, em Realengo: integração para evitar novas tragédias (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2011 às 13h52.
Brasília - Representantes de diversas instituições ligadas à educação infantil avaliaram que o combate à violência nas escolas requer medidas que vão além do aumento da segurança nas instituições de ensino. Para especialistas, umas das medidas seria a integração da comunidade à rotina escolar. O debate sobre o tema ocorreu hoje (18), na Comissão de Direitos Humanos do Senado.
A reunião já estava agendada quando ocorreu, há quase duas semanas, o assassinato de 12 crianças na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo (RJ).
“Não consigo enxergar que se combata a violência trancando mais ainda as escolas. Isso não resolve. O melhor caminho é o contrário: a comunidade se integrar ao processo escolar”, afirmou o representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) Antônio de Lisboa Vale.
Ele destacou que não existe qualquer “solução milagrosa” para esse problema. Entretanto, afirmou que de imediato é importante que os dirigentes escolares estimulem o uso de seus espaços pela comunidade para a promoção de ações de lazer e cultura. Outro ponto destacado pelo representante da CNTE foi a necessidade de qualificação dos profissionais que atuam na segurança das escolas para lidar com a violência estudantil.
Uma das diretoras do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro/DF) Rosilene Correa ressaltou que a violência na escola não será resolvida sem que o Estado entenda “de uma vez por todas” que destinar mais recursos para a educação não é gasto, mas investimento. “Nós, da nossa geração, temos que pedir desculpas às crianças e adolescentes de hoje por não termos sabido entregar uma escola pública melhor.”
Outro ponto destacado por Rosilene Correa é que os professores são preparados para o ensino pedagógicos, mas não têm preparo para lidar com a violência escolar. Ela afirmou que, caso o agravamento da violência entre estudantes continue se agravando, os professores terão que inserir em suas grades de preparação para o ensino a qualificação no combate à violência.
Já o presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Yann Evanovick, informou que a entidade terá uma reunião, amanhã (19), com o ministro da Educação, Fernando Haddad, para propor a realização em todo o país de uma “caravana pela paz nas escolas”. Ele julgou inconcebível qualquer tipo de estigma e preconceito entre os estudantes.
Ele ressaltou a necessidade urgente de os gestores estimularem ações de valorização e respeito à diversidade. Segundo o presidente da Ubes, o desrespeito às individualidades mais a desagregação dos valores familiares são os principais causadores de vários tipos de violência escolar, especialmente do bullying.
Também convidado para a audiência pública, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo, julgou fundamental e urgente a instalação de ambulatórios psiquiátricos nas escolas para o atendimento imediato a estudantes e profissionais da educação que apresentem atitudes potenciais para o desencadeamento de ações violentas. Para tanto, ele ressaltou a necessidade de uma qualificação dos professores.
“Um ato extremo como o de Realengo poderia ser evitado se o professor fosse treinado para detectar os primeiros sintomas e ter para onde mandar esse aluno. Existem atos prévios, como o forte interesse por assuntos ligados à violência, evidências de planejamento de atitudes violentas e a discussão com colegas do se que pretende fazer, que não podem ser desconsiderados”, afirmou o presidente da ABP.
Outra questão levantada pelo psiquiatra foi a generalização da violência estudantil como se fosse bullying. Segundo ele, existem doenças psiquiátricas como o Transtorno do Déficit da Atenção (TDA) e o distúrbio bipolar que podem levar o estudante ou o profissional de educação a condutas antissociais, por vezes violentas. Antônio Geraldo acrescentou que muitas vezes, esses transtornos acarretam no uso de drogas e de álcool.