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Em carta, mais de 300 diplomatas criticam Araújo e pedem mudanças

Em carta apócrifa que circula dentro do ministério das Relações Exteriores, diplomatas pedem mudanças na condução da política externa

Ernesto Araújo (Wilson Dias/Agência Brasil)

Ernesto Araújo (Wilson Dias/Agência Brasil)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 28 de março de 2021 às 11h48.

Última atualização em 28 de março de 2021 às 12h28.

Em carta apócrifa que circula dentro do ministério das Relações Exteriores, mais de 300 diplomatas pedem mudanças na condução da política externa brasileira, que tem causado, em sua visão, problemas diplomáticos e piorado a pandemia da covid-19.

Na última semana, o Brasil atingiu a marca de 300 mil mortes devido à doença. 

As críticas dos diplomatas se somam à do Congresso Nacional, que já “pediu a cabeça” do ministro ao presidente Jair Bolsonaro, que ainda resiste em fazer a mudança.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobrou, em uma reunião fechada, uma gestão mais incisiva do Itamaraty para facilitar a chegada de vacinas e insumos — depois, em plenário, reafirmou a necessidade de “boas relações diplomáticas” com a China, país com quem o chanceler não mantém boas relações.

Nesta quinta, dia 25, Araújo foi até a residência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para explicar sua estratégia a respeito do posicionamento do Brasil no cenário internacional.

Na carta, os diplomatas afirmam que a gestão de Araújo rompeu com tradicionais do Itamaraty, com preceitos da Relações Internacionais, o que tem gerado prejuízos para o país. 

Os prejuízos iriam desde a falta de vacinas para a imunização da população contra a covid-19 a prejuízos à imagem do Brasil no longo prazo.

Leia a carta na íntegra

“Brasília, 27 de março de 2021

Nos últimos dias, o Brasil superou a trágica marca de 300 mil mortes por covid-19, tendo o papel do Itamaraty na resposta à pandemia ganhado grande relevância no debate nacional. 

Neste momento, às vésperas da celebração do dia do diplomata, não há o que se comemorar. Pelo contrário, nunca foi tão importante reafirmar os preceitos constitucionais que balizam as Relações Internacionais da República Federativa do Brasil definidos no artigo 4 da Constituição de 1988, assim como as melhores tradições do Itamaraty.

Historicamente, a política externa se caracterizou por pragmatismo e profissionalismo. O corpo diplomático, formado por concurso público desde 1945 sempre investiu no diálogo respeitoso e construtivo com interlocutores internos e internacionais, com a imprensa e o parlamento. 

A constituição de 1988 consagrou princípios fundamentais pelos quais nossa diplomacia deve guiar-se, entre eles a independência nacional, prevalência dos Direitos Humanos, o repúdio ao terrorismo e ao racismo e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. 

Nos últimos dois anos, avolumaram-se exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo com os códigos mais elementares da prática diplomática. O Itamaraty enfrenta aguda crise orçamentária e uma série de incidentes diplomáticos com graves prejuízos para as Relações Internacionais e a imagem do Brasil.

A crise da covid-19 tem revelado que equivocados na condução da política externa trazem prejuízos concretos à população. Além de problemas mais imediatos como a falta de vacina, de insumos e a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país.

Nesse contexto, e diante da gravidade do momento, sentimos ser nosso dever complementar os alertas emitidos pela academia, pelo empresariado, pelos movimentos sociais, por prefeitos, governadores e Congresso Nacional a respeito dos graves erros na condução da política externa atual.

Nunca foi tão importante apelar à mudança e à retomada das melhores tradições do Itamaraty e dos preceitos constitucionais, conquistas da nossa sociedade e instrumentos indispensáveis para a promoção da prosperidade, justiça e independência em nosso país.

Essa carta foi elaborada por diplomatas da ativa, que não podem assiná-la como desejariam em razão de dispositivos da lei do serviço exterior, que a propósito, deveriam ser reexaminados por conta de sua flagrante inconstitucionalidade. 

Esperamos com essas reflexões oferecer mais elementos para que as necessárias e urgentes mudanças na condução da política externa ganhem maior apoio na sociedade, contribuindo assim para os esforços de superação das crises sanitária, econômica, social e política enfrentada pelo Brasil.”

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