Eletronuclear levou 4 meses para admitir acidente em Angra, diz Ibama
A Eletronuclear só reconheceu oficialmente para o Ibama a ocorrência do despejo de substâncias radioativas no mar no dia 30 de janeiro deste ano, ou seja, mais de quatro meses depois
Agência de notícias
Publicado em 24 de março de 2023 às 15h17.
Última atualização em 24 de março de 2023 às 15h24.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ( Ibama ) informou, nesta sexta-feira, 24, que a Eletronuclear demorou quatro meses para admitir o despejo de substâncias radioativas da usina nuclear Angra 1 no mar. O incidente ocorreu em setembro do ano passado e, segundo o Ibama, só foi reconhecido pela estatal, responsável pelas usinas de Angra 1 e 2, em janeiro deste ano.
O acidente ocorreu no dia 16 de setembro de 2022.O Ibama diz que recebeu denúncia anônima sobre o incidente no dia 29 de setembroe que imediatamente comunicou o ocorrido à Comissão Nacional de Energia Nuclear ( Cnen ).
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No dia seguinte, uma equipe do Ibama visitou a usina, mas o representante de Angra 1 negou que tivesse ocorrido vazamento. Segundo o instituto, em 7 de outubro, a Eletronuclear voltou a negar o ocorrido por meio de uma carta.
Reconhecimento "tardio"
A Eletronuclear só reconheceu oficialmente para o Ibama a ocorrência do despejo de substâncias radioativas no mar no dia 30 de janeiro deste ano, ou seja, mais de quatro meses depois.
No fim deste mês, o Ibama decidiu emitir dois autos de infração contra a Eletronuclear, no valor total de R$ 2,1 milhões, considerando que a empresa não comunicou o incidente imediatamente após o ocorrido, como determina a Licença de Operação da empresa.
Eletronuclear
Em nota, a Eletronuclear informou queforam despejados 90 litros de água contendo substâncias de “baixo teor radioativo”.
“Como os valores estavam muito abaixo dos limites da legislação que caracterizam a ocorrência de um acidente, a empresa tratou o evento como incidente operacional interno e informou o assunto nos relatórios regulares enviados às autoridades competentes”, diz a nota.
No texto, a estatal informa que fez análises de amostras da água do mar e de sedimentos marinhos, por conta própria e a pedido do Ibama, e encontrou radionuclídeos provenientes da usina em sedimentos marinhos.
“Foram encontrados dois elementos com uma atividade radiológica baixa, fato que foi devidamente informado aos órgãos fiscalizadores. Para ter uma ideia, o valor verificado foi bem menor do que o recebido por um indivíduo submetido a uma radiografia de tórax e cerca de mil vezes menor que a exposição anual proveniente da radiação natural, presente no nosso dia a dia.”
Estatal acreditava que não havia impacto ao meio ambiente
De acordo com a Eletronuclear, como o valor é também menos de 2% do limite de dose estabelecida pelas normas da Cnen, a estatal concluiu não ter havido impacto radiológico para o meio ambiente.
A estatal informou ainda que vai recorrer da multa junto ao Ibama, já que alega ter cumprido o que determina a legislação.
“A diretoria-executiva da Eletronuclear, empossada após os acontecimentos, ressalta que abriu processo interno para apurar se houve alguma falha nas comunicações e está tomando as providências para que, daqui para a frente, todos os eventos sejam divulgados com ampla transparência e publicidade.”
O Ibama, por sua vez, informou que “estuda medidas adicionais para evitar que episódios semelhantes voltem a ocorrer”.