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Eleições 2022: MDB pede moderação a Lula em troca de apoio

O ex-presidente tentar atrair siglas posicionadas fora da polarização, mas sem dispensar os sinais dirigidos ao seu grupo fiel

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva fala durante sua visita ao acampamento de protesto de 10 dias dos povos indígenas em 12 de abril de 2022 em Brasília, Brasil (Andressa Anholete / Correspondente/Getty Images)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de abril de 2022 às 11h11.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou a interlocução com a parte do MDB que apoia sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. O petista participou de um jantar com senadores, na noite de segunda-feira, 11, na residência do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), em Brasília.

No encontro, indicou que está disposto a fazer alianças e compor um eventual governo que vá além da esquerda. Lula ouviu dos presentes o conselho para que evite o discurso voltado a agradar apenas ao seu campo político e concentre a campanha em três pontos: "bolso, bucho e democracia" - uma referência aos temas inflação, renda e ataques ao regime democrático, considerados fragilidades do presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário em outubro.

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Lula, que se reuniu com emedebistas já convertidos, trabalha para tentar atrair siglas posicionadas fora da polarização, mas sem dispensar os sinais dirigidos ao seu grupo fiel. Ontem, na manhã seguinte ao jantar, visitou o acampamento Terra Livre, organizado por grupos indígenas na capital federal. Em discurso, prometeu, caso eleito, criar um ministério para tratar das políticas indígenas. E disse que pretende fazer um "revogaço" de decretos assinados por Bolsonaro na área ambiental.

O petista mantém foco na tática de se apresentar como o principal rival do presidente, mas nada indica no atual cenário que algo próximo de uma "frente ampla" antibolsonarista sonhada pelo PT seja factível no primeiro turno. O próprio MDB e outros partidos que buscam uma chamada terceira via - PSDB, União Brasil e Cidadania - prometem divulgar, em maio, um nome único para a disputa ao Planalto.

Senadores do PT, do MDB, do PSD e da Rede participaram do jantar idealizado por Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos coordenadores da campanha do ex-presidente. Segundo participantes, Lula pediu que esses partidos - adversários em eleições anteriores - juntassem os "cacos" em prol de um projeto contra Bolsonaro. O petista acenou aos parlamentares falando que está disposto a rodar o País e pedir votos para deputados e senadores que estiverem com ele.

'Bolha'

Até o momento, contudo, a pré-candidatura de Lula não conseguiu superar a órbita de aliados históricos, como o PSB - que serviu de abrigo para o ex-tucano e futuro candidato a vice, Geraldo Alckmin -, o PV e o PCdoB.

No caso do MDB, a divisão em torno da pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) reflete a existência de duas correntes antigas no partido. Uma delas, mais próxima do petismo e de Lula, é encabeçada pelo senador Renan Calheiros (AL). Outra liderada pelo ex-presidente Michel Temer, sustenta a candidatura da senadora. Enquanto Lula jantava com caciques da legenda, incluindo Renan, Simone Tebet se reunia com Temer e com o presidente da sigla, Baleia Rossi (SP), para tentar fortalecer sua pré-campanha e fazer um contraponto ao grupo antagônico.

Para o cientista político Christian Lynch, professor do Instituto de Estudos Políticos e Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Lula tem feito acenos a antigos aliados, como MDB, PSD e Progressistas, mas os líderes das legendas calculam o preço do embarque e aproveitam o período da pré-campanha para barganhar mais espaço em um eventual governo.

Negociação

"Há muito tempo para a eleição. É de interesse dos partidos barganhar o máximo possível, obter o máximo de concessões do ex-presidente Lula. No caso do MDB, temos a questão dos palanques regionais. O PT tem aliados importantes do partido na Bahia e em outros Estados da Região Nordeste, mas há um esforço por setores do MDB em viabilizar uma candidatura de centro em torno da senadora Simone Tebet", avaliou o professor da Uerj.

Ainda sem conseguir emplacar um candidato ao Palácio do Planalto o PSD não deve apoiar ninguém no primeiro turno da eleição presidencial e avalia liberar os diretórios regionais para apoiar Bolsonaro ou Lula, de acordo com integrantes da legenda.

O presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, porém, ainda não desistiu da candidatura própria. Depois de frustrados os planos A (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado), B (Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul) e C (Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo), aliados dizem que a candidatura pode ser assumida pelo próprio Kassab, que mantém pontes com o atual governo e também com o PT.

O primeiro mandato de Lula no Palácio do Planalto foi marcado por uma relação singular com os partidos que compunham sua base no Congresso: pelo escândalo do mensalão, esquema de compra de votos de parlamentares.

'Atração'

"A oportunidade para essa atração existe. O quanto ela vai ser aproveitada dependerá da agenda de prioridades que o ex-presidente colocará para esse (eventual) governo. Tem alguns temas que muito possivelmente ficarão restritos à retórica de campanha", disse o cientista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez.

Cobrado pelos aliados do MDB para evitar discurso radical de esquerda, o ex-presidente avisou que, se eleito, voltará "mais sabido", "mais calmo e com mais experiência" se for eleito novamente. No campo da retórica, Lula continua fiel à estratégia de fazer contraponto a Bolsonaro, o que alimenta a polarização no País.

Depois de ser alvo de críticas ao afirmar que todos deveriam ter direito ao aborto no Brasil, o petista defendeu nesta terça, 12, a demarcação de terras indígenas, se posicionou contra a proposta que permite mineração nesses territórios e contra a tese do marco temporal defendida por Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal - ação que estabelece que só poderão solicitar demarcações os povos que comprovarem que habitavam a área requerida na data de promulgação da Constituição Federal, ou seja, em 5 de outubro de 1988.

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