Rio de Janeiro: prefeitura considera implementar o lockdown. (Buda Mendes/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de fevereiro de 2021 às 09h10.
Última atualização em 2 de março de 2021 às 19h25.
O crescimento da pandemia no Brasil mobilizou Estados para tentar frear o avanço acelerado da covid-19. Vários governos decretaram nos últimos dias restrições de circulação de pessoas, principalmente no horário noturno, fechamento de estabelecimentos comerciais e até lockdown. Entre os mais restritivos estão Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal e Bahia, que vão fechar serviços não essenciais.
Com UTIs lotadas, o foco é evitar aglomerações e reduzir a transmissão do vírus no País, o que demora ao menos duas semanas dizem especialistas. Boletim do Observatório Covid-19, da Fiocruz, aponta 17 capitais com ocupação de leitos de UTI de pelo menos 80%.
Anteontem, o Brasil teve o maior número de mortes registradas em 24 horas, em um cenário de vacinação lenta. Especialistas temem piora do quadro nas próximas semanas e defendem ações mais rígidas para conter a doença - alguns pedem até lockdown (mais informações nesta página). Também preocupa a circulação de novas variantes do vírus, como a de Manaus, que estudos preliminares já mostraram ser mais contagiosa.
O governador Ibaneis Rocha (MDB), do DF, tornou mais rígida a quarentena duas vezes em menos de 24 horas. Anteontem, ele escreveu nas redes sociais que iria decretar lockdown, a partir de segunda, das 20 às 5 horas. Ontem, publicou decreto mais rígido, que prevê fechar serviços não essenciais o dia todo, a partir de domingo. Podem abrir em Brasília farmácias e supermercados, por exemplo. Cultos e missas foram dispensados do lockdown.
No Paraná e no Rio Grande do Sul, a proibição de atividades não essenciais começa hoje e vai até 8 de março. A fila geral por leitos em hospitais paranaenses era de 578 pessoas ontem. Em Porto Alegre, cinco hospitais - Moinhos de Vento, Vila Nova, São Lucas (PUC), Restinga e Santa Ana - tinham lotação igual ou maior do que 100%.
O governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), pediu a adesão de gestores e cidadãos. Já o prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB), criticou o fechamento total. O presidente Jair Bolsonaro também tem sido forte opositor. No interior, Gramado montou barreiras sanitárias para evitar turistas.
Santa Catarina e Bahia, por sua vez, apostaram em lockdown mais curto. O governo baiano proibiu lojas, shoppings, bares e restaurantes por dois dias, desde ontem à noite. Já Santa Catarina, com lotação de UTIs no nível de 95%, colocou todo o Estado em lockdown nos próximos dois fins de semana. Mais de cem pessoas aguardavam vaga na terapia intensiva ontem, segundo apurou a reportagem com secretários municipais. A Secretaria Estadual da Saúde não comentou.
Em outros Estados, as mudanças foram menos rigorosas, a maioria com quarentenas noturnas. São Paulo aumentou o controle sobre três regiões do Estado, incluindo a capital e a região metropolitana e terá restrição de circulação à noite. Ceará, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte são os outros em que governadores ou prefeitos endureceram medidas nas últimas semanas.
Os gestores também buscam leitos na rede privada para aliviar a pressão. A gestão João Doria (PSDB) cogita expandir a estrutura paulista do uso de vagas de unidade privada, além de ter reaberto o Hospital de Campanha de Heliópolis, na zona sul, neste mês.
Em Pernambuco, o reforço com leitos da rede particular também é uma alternativa. A expectativa do governo é de contratar 300 leitos de enfermaria e 150 de UTI para adultos.
O governador Paulo Câmara (PSB) também disse que a polícia vai fiscalizar o cumprimento do novo decreto, que prevê toque de recolher das 22 às 5 horas a partir de hoje e até 10 de março. "Caso os índices permaneçam piorando, novas medidas restritivas serão anunciadas já no início da próxima semana", alertou.
"O sistema de saúde e as equipes estão sobrecarregados, mas a população, no geral, é como se estivesse alheia. Isso angustia a gente. É uma sensação de que não vai melhorar e a gente segue a enxugar gelo", diz o médico Silvio Cajueiro, há um ano na linha de frente nas redes pública e privada do Estado.
No Piauí, a falta de medicamentos torna a situação mais delicada. "A taxa de ocupação dos leitos é altíssima, preocupa, mas a principal dificuldade neste momento é que as empresas não estão com capacidade de produção de alguns bloqueadores neuromusculares, que são usados na anestesia a pacientes entubados e estamos com restrição de medicamentos", disse ao Estadão o presidente da Fundação Municipal de Saúde de Teresina, Gilberto Albuquerque. A cidade registrou 100% de ocupação nas UTIs da rede municipal na terça, mas abriu mais dez leitos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.