Brasil

Disputa interna faz CUT deixar Fórum Econômico

Na iminência do início da próxima edição do Fórum Social Mundial, a organização tem sido alvo de reclamações e acusações

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2013 às 20h09.

Brasília - Às vésperas de mais uma edição temática em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial, criado pela esquerda para se contrapor ao Fórum Econômico de Davos, está em crise. Uma disputa interna por espaço levou entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) a se retirarem da organização e outras, como o Movimento Sem Terra, a ignorarem sua realização.

Entre acusações de "institucionalização" do fórum, apropriação pela prefeitura e reclamações de que empresários agora participam das discussões, a crise na edição que começa no próximo dia 26 em Porto Alegre é mais um sinal do enfraquecimento de um encontro que já mobilizou até presidentes, como Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela.

"A CUT adotou a posição pública de não participar desta edição temática. Houve uma descaracterização do Fórum, uma intromissão de pessoas que não tem tradição, e não achamos legítimas algumas atitudes", disse o presidente da CUT-RS, Claudir Nestolo. A CUT reclama que a edição temática não estava prevista para este ano, já que a grande reunião do Fórum Social Mundial acontece em março, na Tunísia. Os fóruns temáticos deveriam ser realizados em anos pares, descentralizadamente.

No entanto, a ideia de fazer um encontro sobre democracia foi apoiada pelo criador do Fórum, o empresário Oded Grajew, que levará a Porto Alegre oficinas sobre cidades sustentáveis. "Uma das características do Fórum é a auto-organização. Abre-se espaço para que as organizações façam suas atividades, não tem ninguém que organiza ou controla e participa quem quiser", afirmou.

Uma das maiores reclamações, no entanto, é o fato da prefeitura estar participando mais ativamente da organização. No final do ano passado, foi sancionada uma lei que cria a semana do Fórum em Porto Alegre. Também foi criado um instituto chamado "Amigos do Fórum Social", liderada pela Força Sindical, e que participaria da organização e incluiria, para revolta das entidades, até mesmo alguns empresários da capital gaúcha. A iniciativa é, na verdade, uma tentativa de trazer o encontro de volta para Porto Alegre, onde nasceu, mas de onde foi retirado quando o PT foi derrotado na eleição para a prefeitura, em 2004, mas não foi bem vista por diversas organizações.


Davos

"As entidades avaliam que o esse fórum ganhou uma conotação muito institucional, com várias seções organizadas por órgãos públicos e temas que não tem relação com a agenda do Fórum Social Mundial", disse Mauri Cruz, presidente da Abong. "Fizemos um apelo para que fosse suspenso e pudéssemos nos concentrar em 2014, mas o encontro foi mantido. Não deixa de ser legítimo, mas decidimos não participar". Outras entidades, como o MST, nem sequer começaram a discussão para esse encontro em Porto Alegre.

Na prefeitura de Porto Alegre, a avaliação é de que há um componente político nessa insatisfação, especialmente com a participação do governo municipal. Apesar de ser do PDT, um partido de esquerda, o prefeito José Fortunati ganhou a eleição com apoio de partidos de direita, como o DEM, e infligiu uma derrota histórica ao PT, que pela primeira vez na sua história não foi nem mesmo ao segundo turno.

Apesar de ter como tema central esse ano a primeira árabe e ter como sede o país onde os movimentos começaram, a verdade é que o Fórum Social Mundial perdeu boa parte da sua força. Se até 2005 era palco para discurso de vários presidentes - incluindo Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez -, nos últimos anos têm passado quase desapercebido. Na agenda da presidente Dilma Rousseff, por exemplo, nunca foi sequer cogitado. Em 2011, em Dakar, a grande estrela foi o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Acompanhe tudo sobre:CUTONGsSindicatos

Mais de Brasil

“Estado tem o sentimento de uma dor que se prolonga”, diz governador do RS após queda de avião

Gramado suspende desfile de "Natal Luz" após acidente aéreo

Lula se solidariza com familiares de vítimas de acidente aéreo em Gramado

Quem foi Luiz Galeazzi, empresário morto em queda de avião em Gramado