Diretoria da Petrobras sabia de desvios, diz jornal
Segundo reportagem do jornal Valor Econômico, uma gerente que trabalhava para Paulo Roberto Costa alertou a diretoria da estatal diversas vezes e acabou sendo destituída de seu cargo
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2014 às 14h02.
São Paulo - Uma reportagem do jornal Valor Econômico desta sexta-feira afirma que a diretoria da Petrobras afastou uma funcionária que tentou investigar irregularidades nos contratos firmados pela diretoria de Abastecimento. Segundo ela, Maria das Graças Foster, atual presidente da estatal, teria sido alertada sobre irregularidades no departamento ainda em 2009. Após a denúncia, a oposição pediu afastamento da president e da Petrobras.
Venina Velosa da Fonseca, geóloga da estatal desde 1990, foi subordinada de Paulo Roberto Costa entre 2005 e 2009 na diretoria de Abastecimento da estatal. Costa é um dos 36 denunciados por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras pelo Ministério Público Federal.Então gerente executiva da área, Venina será ouvida pelo MPF.
Mesmo antes de 2012, quando Maria das Graças Foster assumiu a presidência da estatal, a geóloga teria alertado a hoje presidente sobre as irregularidades na diretoria em e-mail enviado em 2009, quando Graça era diretora de Gás e Energia.
Na mensagem, Venina teria relatado oaumento em mais de 4 vezes dos custos das obras da Refinaria Abreu e Lima, que passou de 4 bilhões de dólares para 18 bilhões de dólares. Ela também teria alertadoJosé Carlos Cosenza, que substituiu Costa na diretoria de Abastecimento e que também é responsável pela Comissão Interna de Apuração de desvios.
Um ano antes,aentão gerente procurou Costa para reclamar que o valor dos contratos de pequenos serviços havia superado muito o previsto e que, como eram lançados em diferentes centros de custo, o rastreamento seria difícil.
A resposta dele, segundo a reportagem, foi: "Você quer derrubar todo mundo?". Ele também teria apontado o dedo para um retrato do ex-presidente Lula.
Deste momento em diante, Venina continuou fazendo uma série de denúncias, até que em 2009, deixou o cargo de gerente na Diretoria de Abastecimento. No ano seguinte, foi enviada para trabalhar na unidade da Petrobras em Cingapura, mas chegando lá pediram que ela fosse fazer um curso de especialização.
No exterior, ela teria encontrado outras irregularidades e perdas financeiras - também denunciadas à diretoria da Petrobras.
Graça Foster
Segundo a reportagem, Venina teria procurado Graça Foster, então diretora de Energia e Gás, diversas vezes. Em 2011, ela teria enviado um e-mail a Foster dizendo não ver mais alternativas para mudar a situação dos desvios na empresa e se oferecendo para apresentar a ela a documentação que comprovava as irregularidades.
De acordo com a publicação, a última mensagem sobre o assunto foi enviada por Venina em 17 de novembro deste ano. Dois dias depois, ela foi afastada de seu cargo pela direção da estatal.
Depois de centenas de alertas e recomendações sobre desvios na empresa, a geóloga foi destituída do cargo - sem saber o motivo. O nome da gerente foi listado com o de funcionários suspeitos de envolvimento em esquema de corrupção e investigados pela Operação Lava Jato.
A reportagem traz ainda o e-mail enviado por Venina à Graça Foster, um dia depois de sua demissão.Na mensagem, ela diz que sua vida se tornou um inferno desde que começou a denunciar as irregularidades.
"Desde 2008, minha vida se tornou um inferno, me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro, no âmbito da Comunicação do Abastecimento. Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive", diz.
Petrobras
Em resposta à reportagem, a Petrobras afirmou que as denúncias feitas por Venina foram investigadas. Veja a íntegra da nota oficial:
"A Petrobras esclarece que, em relação à matéria publicada no Valor Pro de 11/12/2014, sob o título " Diretoria da Petrobras foi informada de desvios de bilhões em contratos", instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento.
O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 03 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da companhia. Porém, a demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica, vindo a ocorrer em 2013. O resultado das análises foi encaminhado às autoridades competentes.
Em relação aos procedimentos na área de Bunker, após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.
Como mencionado em comunicados anteriores, a Comissão Interna de Apuração constituída para avaliar os processos de contratações para as obras da RNEST concluiu as apurações e encaminhou o Relatório Final para os órgãos de controle e autoridades competentes.
Assim, fica demonstrado que a Companhia apurou todas as informações enviadas pela empregada citada na matéria."
Se o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, acatar a denúncia, os 35 envolvidos serão julgados por crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro e crime de corrupção. Segundo o relatório divulgado pela Procuradoria, as penas podem chegar a 127 anos de detenção, caso o réu seja considerado culpado pelos crimes de organização criminosa, 3 atos de corrupção e 3 atos de lavagem de dinheiro. A Mendes Júnior, por exemplo, teria acumulado 53 atos de corrupção. Veja a lista de penas possíveis para cada crime:
Crime | Pena mínima | Pena Máxima |
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Organização criminosa | 4 anos e 4 meses | 13 anos e 4 meses |
Corrupção | 2 anos e 8 meses | 21 anos e 4 meses |
Lavagem de dinheiro | 4 anos | 16 anos e 8 meses |
Mendes Junior + GFD | |
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Denunciados | 16 |
Corrupção da empresa (R$) | 71.602.688,48 |
Ressarcimento buscado (R$) | 214.808.065,45 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 8.028.000,00 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 53 corrupções e 11 lavagens + 30 lavagens |
Camargo Corrêa + UTC | |
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Denunciados | 10 |
Corrupção da empresa (R$) | 86.457.578,91 |
Ressarcimento buscado (R$) | 343.033.978,68 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 36.876.887,75 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 11 corrupções e 7 lavagens |
Engevix | |
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Denunciados | 9 |
Corrupção da empresa (R$) | 52.977.089,89 |
Ressarcimento buscado (R$) | 158.931.269,69 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 13.432.500,00 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 33 corrupções e 31 lavagens |
Galvão Engenharia | |
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Denunciados | 7 |
Corrupção da empresa (R$) | 46.063.344,24 |
Ressarcimento buscado (R$) | 256.546.958,55 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 5.512,430,00 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 37 corrupções e 12 lavagens |
OAS | |
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Denunciados | 9 |
Corrupção da empresa (R$) | 29.321.227,22 |
Ressarcimento buscado (R$) | 213.039.145,36 |
Valor envolvido na lavagem (R$) | 10.300.038,93 |
Número de atos de corrupção e lavagem | 20 corrupções e 14 lavagens |