Dilma: nova presidente do banco dos Brics (JEWEL SAMAD / Equipe/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 24 de março de 2023 às 11h39.
Última atualização em 24 de março de 2023 às 11h54.
A ex-presidente Dilma Rousseff foi oficializada nesta sexta-feira, 24, para presidir o Novo Banco do Desenvolvimento (NDB), o chamado "banco dos Brics". A instituição financeira foi criada em 2014 pelo grupo dos Brics, que reúne originalmente Brasil, Rússia, Índia e China.
A indicação de Dilma foi votada pelo conselho de governadores do banco. O conselho é formado pelos ministros da Fazenda dos países fundadores, como o brasileiro Fernando Haddad, e inclui também os representantes dos quatro novos integrantes (Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito e Uruguai).
Indicada pelo governo brasileiro, a ex-presidente foi sabatinada por autoridades estrangeiras ao longo deste mês para confirmar a nomeação.
Dilma toma posse no dia 29 de março, durante a viagem prevista do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à China. Na agenda oficial de Lula, conforme a EXAME mostrou, está prevista uma ida até Xangai, onde fica a sede do banco.
O presidente anterior também é brasileiro: Dilma substituirá o diplomata e economista Marcos Troyjo, que era indicação da equipe do ex-ministro da Fazenda, Paulo Guedes.
O NDB divulgou nota oficializando a votação de Dilma nesta sexta-feira.
"Em 24 de março de 2023, o Conselho de Governadores do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) elege por unanimidade H.E. Sra. Dilma Vana Rousseff como Presidente do Banco, com vigência imediata, em total conformidade com o Contrato Social do Novo Banco de Desenvolvimento e os procedimentos de eleição do Presidente."
O salário de Dilma à frente do banco dos BRICs não foi divulgado oficialmente, mas deve ficar perto de R$ 220 mil mensais, perto de US$ 500 mil por ano (R$ 2,6 milhões na cotação atual), equivalente ao valor pago pelo Banco Mundial. Procurado pela Agência Estado, o NDB não se manifestou.
A sede do banco a ser comandado por Dilma fica em Xangai, um dos maiores polos econômicos da China.
O mandato de Dilma no NDB vai até julho de 2025.
O banco oferece benefícios como assistência médica, auxílio-viagem para o país de origem, subsídios para mudança em caso de contratação e desligamento, além de transporte aéreo.
Este será o primeiro cargo público de Dilma desde o impeachment em seu segundo mandato como presidente, em 2016. Desde então, a ex-presidente tem atuado na vida partidária do PT e em palestras e organizações acadêmicas, além de ter se candidatado ao Senado nas eleições de 2018.
O banco dos Brics foi criado durante o primeiro mandato de Dilma. A decisão do grupo de países por criar a instituição ocorreu após reunião de cúpula em Fortaleza, em 2014.
Uma das intenções é ampliar fontes de empréstimos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Atualmente, a carteira de investimentos do banco dos Brics é da ordem de US$ 33 bilhões em 96 projetos pelo mundo. A meta, segundo relatório divulgado banco, é investir mais cerca de US$ 30 bilhões até 2026.
Após anunciar Dilma como presidente, o NDB publicou uma nota com perfil da ex-presidente brasileira e realizações em sua vida pública, incluindo o período na Casa Civil do governo do Lula e seu período como presidente, entre 2011 e 2016. "Internacionalmente, promoveu o respeito à soberania de todas as nações e a defesa do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, dos direitos humanos e da paz", diz a nota sobre a indicação de Dilma (leia aqui na íntegra).
O conceito dos Brics perdeu força nos últimos anos em meio às crises econômicas e políticas dos países envolvidos. Quando o grupo foi criado, a expectativa era que o Brasil seguisse a transição de país de renda média para país rico, o que não ocorreu.
Países como Rússia e Índia, dos presidentes Vladimir Putin e do premiê Narendra Modi, também viram deterioração em suas instituições democráticas desde então. A China é hoje a maior força entre os países originais do grupo.
À frente do NDB, Dilma terá como missão mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos Brics e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento. No total, o Brasil já recebeu mais de US$ 5 bilhões do NBD desde sua fundação.
A China lidera esse ranking com mais de US$ 8 bilhões. Segundo um interlocutor da ex-presidente, a indicação de Dilma para presidir o banco seria também uma forma de reaproximar o Brasil da China, já que Dilma mantém boas relações com o presidente chinês Xi Jinping, que já estava no poder durante seu mandato.
O foco do banco é o financiamento de projetos de energia limpa e eficiência energética, infraestrutura de transportes, saneamento básico, proteção ambiental, infraestrutura social e digital. Tanto empresas privadas quanto órgãos públicos podem ter empréstimos aprovados pelo Banco dos Brics.
O NDB é um dos oito grandes bancos de desenvolvimento mundiais, ao lado de órgãos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Europeu de Investimento, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento, Banco Mundial, entre outros.
(Com informações do Estadão Conteúdo e Agência O Globo)