Dia de Cunha defender Cunha
Mais de um ano depois, Eduardo Cunha volta a comparecer pessoalmente para se defender de acusações frente a outros parlamentares na Câmara. Em março do ano passado, quando foi falar à CPI da Petrobras, disse que não tinha contas no exterior. Em setembro, a Procuradoria-Geral da República confirmou que o então presidente da Câmara era […]
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2016 às 06h30.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h55.
Mais de um ano depois, Eduardo Cunha volta a comparecer pessoalmente para se defender de acusações frente a outros parlamentares na Câmara. Em março do ano passado, quando foi falar à CPI da Petrobras, disse que não tinha contas no exterior. Em setembro, a Procuradoria-Geral da República confirmou que o então presidente da Câmara era titular de contas não declaradas na Suíça. Daí surgiu o processo de cassação contra o deputado, não pelas contas, mas por ter mentido no depoimento de março. Quebra de decoro parlamentar. Nesta quinta-feira, Cunha vai ao Conselho de Ética explicar suas declarações. Depois, o relator Marcos Rogério (DEM-RO) tem dez dias para dar seu parecer, que é votado no próprio Conselho e, se for aprovado, no plenário.
De acordo com a revista VEJA, Cunha já avisou a outros deputados que pode contar histórias controversas e fatos desconhecidos contra aqueles que forem duros nas perguntas. “Ele não pode ser ostensivo nas suas declarações contra deputados para não ativar a opinião pública de maneira mais forte, mas vai querer demonstrar força política”, diz o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). O PSOL e a Rede foram os partidos autores do pedido de cassação.
A estratégia de Cunha deve ser a mesma cantilena de sempre: dizer que é apenas beneficiário de um fundo administrado por terceiros. O processo é o mais longo da história do Conselho de Ética. Várias mudanças aconteceram nos últimos dias na composição do Conselho, a maioria delas porque deputados que se sentiam desconfortáveis em apoiar Cunha frente à opinião pública abrem mão da vaga para que os partidos indiquem novos nomes. Alguns adversários de Cunha admitem que não será uma batalha fácil para que a cassação do deputado se consume.
Na última pesquisa feita, ainda antes da votação sobre o impeachment de Dilma na Câmara, 77% das pessoas apoiavam o afastamento do deputado de acordo com o Datafolha. Ele é réu de no Supremo Tribunal Federal por suspeita de envolvimento em corrupção investigada pela Lava-Jato e foi afastado do cargo pelo tribunal no começo do mês. Por outro lado, e por motivos ainda não totalmente esclarecidos, Cunha exerce controle sobre grande parte dos deputados.
A chamada tropa de choque deve estar em peso no depoimento. A reunião foi mudada de lugar e será realizada em uma sala maior. Independentemente do que fale, dificilmente Cunha mudará algo na composição das forças entre a opinião pública (que decidiu que ele mentiu) e seus aliados (que não se importam com isso). De qualquer forma, a volta de Cunha é um evento a ser acompanhado de perto.