Desmatamento no Brasil dispara em julho e ameaça acordo comercial com UE
Mais de 1 mil quilômetros quadrados de floresta foram derrubados na primeira quinzena de julho, ou 68% a mais em relação a todo o mês de 2018
Reuters
Publicado em 18 de julho de 2019 às 12h54.
Última atualização em 18 de julho de 2019 às 12h55.
Brasília — O desmatamento na Amazônia brasileira cresceu na primeira metade de julho e superou a taxa do mês inteiro no ano passado, ameaçando o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia .
Mais de 1 mil quilômetros quadrados de floresta foram derrubados na primeira quinzena de julho, o que representa 68% a mais em relação a todo o mês de julho de 2018, segundo dados preliminares de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O desmatamento visto até o momento em julho é o maior de qualquer mês desde agosto de 2016, e ocorre após aumentos importantes na comparação anual ocorridos em maio e junho.
A Amazônia abriga a maior floresta tropical do mundo, e cientistas consideram sua proteção essencial no combate à mudança climática.
Ambientalistas dizem que o aumento do desmatamento no Brasil é resultado das políticas do presidente Jair Bolsonaro e de sua retórica a favor do desenvolvimento da região.
O Palácio do Planalto e o Ministério do Meio Ambiente não responderam de imediato a pedidos de comentários.
No mês passado o Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, firmou um acordo comercial com a UE que inclui compromissos ambientais.
O pacto já enfrenta uma batalha para ser ratificado por países membros do bloco europeu, cujos agricultores temem a competição do poderoso setor agrícola brasileiro, que afirmam estar sujeito a regras ambientais menos rígidas do que as europeias.
O Parlamento da Irlanda e o ministro da Agricultura da Itália pediram que o acordo seja rejeitado.
Partidos verdes e agricultores europeus podem capitalizar a elevação do desmatamento no Brasil para reforçar seus argumentos contra a ratificação do acordo comercial, disse um diplomata europeu radicado no Brasil à Reuters.
"Acho que é munição para eles usarem, especialmente os agricultores, mesmo que não se importem com a Amazônia", disse o diplomata, sob condição de anonimato, uma vez que não tinha permissão para falar com a mídia.
Se o acordo for ratificado, os membros da UE terão procedimentos formais de disputa para apresentar queixas se considerarem que o Brasil está violando uma cláusula que exige que se "implante medidas para combater a extração ilegal de madeira e o comércio relacionado", de acordo com o texto do acordo publicado pela UE na sexta-feira.
Os dados do governo sobre o desmatamento deste mês são preliminares, e os números finais da medição dos 12 meses transcorridos até o final de julho ainda serão divulgados. Segundo o Inpe, um aumento nos dados preliminares quase sempre indica um aumento nas cifras anuais.