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Decisão da Anvisa sobre vacina Sputnik V divide governadores e cientistas

Nesta segunda, a Anvisa negou a importação da vacina russa Sputnik V. Cientistas elogiaram a decisão, enquanto alguns governadores se mobilizam contra negativa

Sputnik V: imunizante russo ainda não tem autorização de uso emergencial (Tatyana Makeyeva/Reuters)

Sputnik V: imunizante russo ainda não tem autorização de uso emergencial (Tatyana Makeyeva/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de abril de 2021 às 13h02.

A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de negar o pedido de importação da vacina Sputnik V, imunizante russo contra a covid-19, recebeu apoio de membros da comunidade científica. Cientistas e especialistas de diferentes áreas usaram as redes sociais para elogiar a agência.

Nesta segunda-feira, 26, os cinco diretores seguiram as recomendações das três áreas técnicas que analisaram o pedido e encontraram falhas nos estudos e processos produtivos da vacina, além da falta do relatório técnico da vacina. A análise feita pela agência era referente ao pedido de importação de 29,6 milhões de doses por dez Estados, entre eles, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso, Acre e Rondônia.

"Verificamos a presença de adenovírus replicante em todos os lotes. Isso é uma não-conformidade grave e está em desacordo com o desenvolvimento de qualquer vacina de vetor viral. A presença de um adenovírus pode ter impacto na nossa segurança quando utilizamos a vacina", destacou Gustavo Mendes, gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da agência durante a audiência extraordinária.

No Twitter, a médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, dos Estados Unidos, Denise Garrett classificou o trabalho do corpo técnico da Anvisa como "exemplar". "Fizeram um trabalho meticuloso e bem respaldado. Não significa que a vacina não venha a ser boa. Significa que faltam dados. A pressão não deve ser na Anvisa - deve ser no Instituto Gamaleya para enviar os dados."

O médico e advogado sanitarista Daniel Dourado também usou a rede social e afirmou que a avaliação da agência foi "criteriosa e correta, semelhante à que foi feita com todas as outras vacinas, inclusive as aprovadas" e que, com os dados disponíveis não seria possível aprovar a importação da vacina. "É totalmente compreensível a pressa de governadores, mas a Anvisa tem obrigação de garantir a qualidade vacina e não há como fazer isso hoje.

O médico epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Universidade de São Paulo (USP), alertou que a aprovação em outros países não significa garantia de que uma substância é segura. "A talidomida indicada para enjoo na gravidez nos anos 50 foi proibida em um único país, os Estados Unidos. Europa e Brasil a aprovaram e o resultado é conhecido até agora com pessoas que nasceram mutiladas. O que importa é a qualidade da avaliação, não o número de aprovações", escreveu no Twitter.

Governadores

Os governadores do Ceará, Maranhão e Pernambuco se manifestaram contra a negativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a liberação da vacina russa Sputnik V. 

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), declarou que respeita o veto da Anvisa, mas afirmou que não podia deixar de expressar "decepção e estranheza". Santana apontou que o produto tem eficácia comprovada e é utilizado em dezenas de países, tendo inclusive aval do Comitê Científico do Nordeste. Segundo ele, o Estado continuará na busca pela autorização, "principalmente diante da lentidão do Governo Federal no repasse de vacinas". "O que não aceitarei jamais é que haja qualquer tipo de politização desse processo", declarou no Twitter.

O discurso do gestor de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), também seguiu na linha de Santana, que destacou que vai continuar na busca pela autorização do imunizante. Já Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, declarou, na rede social, que irá "aguardar manifestação técnica de cientistas brasileiros e russos".

 

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