Conta da pandemia começa a chegar para Bolsonaro? Ouça no EXAME Política
Forçada pelas comparações inevitáveis da vacinação no Brasil em relação a outros países, a classe média que ajudou a eleger Bolsonaro deve começar a consolidar o seu desembarque do governo
Fabiane Stefano
Publicado em 20 de março de 2021 às 12h41.
Última atualização em 29 de março de 2021 às 18h13.
Após ver sua aprovação cair para 26% na última pesquisa EXAME/IDEIA, nesta semana o presidente Jair Bolsonaro bateu um novo recorde de avaliação negativa. Pesquisa Datafolha divulgada na última quarta-feira (17%) mostrou que 54% dos entrevistados disseram reprovar a desempenho do presidente no combate à pandemia. Mesmo assim, os brasileiros se dividem em relação ao impeachment: metade (50%) é contra, enquanto 46% diz ser a favor.
Para a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social Mackenzie e do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, apesar da percepção de que não é o momento para um impeachment, os números mostram que muitos brasileiros já começam a relacionar o trágico desenrolar da crise sanitária ao governo federal - e que isso deve se refletir também na base de apoio do presidente no Congresso.
"As pessoas estão começando a entender que o problema está vindo do governo federal, que as omissões e ações equivocadas estão sendo a causa da crise sanitária", explicou Botelho no último episódio do podcast EXAME Política. "Sabemos o comportamento do Congresso quando a popularidade de um presidente começa a definhar: eles abrem mão de apoiá-lo sem pestanejar."
Botelho pontua que, com o aumento expressivo no número de mortes e o colapso do sistema de saúde em todo o país, além da morte de três senadores pela covid-19, o comportamento do presidente tende a deixá-lo isolado do restante do universo político. "Mesmo com o avanço da vacinação, vai ser muito difícil que essa situação se reconfigure de modo a beneficiar o presidente", explicou a cientista política.
Também no EXAME Política, Maurício Moura, fundador do IDEIA (instituto de pesquisa especializado em opinião pública) e professor da Universidade George Washington, destaca que, forçada pelas comparações inevitáveis da vacinação no Brasil em relação a outros países, a classe média que ajudou a eleger Bolsonaro deve começar a consolidar o seu desembarque do governo.
"Esses grupos, acostumados a contratar saúde, educação e até segurança privada, agora se vê nas mãos do governo para receber a vacina. A medida que as comparações com outros países aumentarem, aumenta também a pressão sobre o governo", explicou Moura no podcast EXAME Política, que é mediado pela editora de macroeconomia da EXAME, Fabiane Stefano.
O podcast EXAME Política vai ao ar todas as sextas-feiras.Clique aqui para ver o canal no Spotify, ou siga em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.