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Construtoras na Lava Jato levantam temores sobre concessões

Concessões de aeroportos à iniciativa privada, cuja maioria tem algumas das empresas investigadas como sócias, já estão sendo alvo de preocupações do governo

Operação Lava Jato: temor principal refere-se à limitação do acesso dessas empresas a crédito (Divulgação / Polícia Federal)
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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 14h19.

Brasília/São Paulo - Com acusações de envolvimento de grandes construtoras em esquema de corrupção investigado pela Lava Jato , as concessões de aeroportos federais à iniciativa privada, cuja maioria tem direta e indiretamente algumas dessas empresas entre os sócios, já estão sendo alvo de preocupações dentro do governo federal.

Duas fontes do governo que acompanham de perto o assunto disseram à Reuters que o temor principal refere-se à limitação do acesso dessas empresas a crédito, porque o agravamento da crise causada pelas investigações pode, no limite, prejudicar a capacidade de execução das obras nos terminais.

Segundo uma das fontes, o governo vem monitorando de perto o caso. "Essas empresas têm um monte de investimentos para fazer nos aeroportos e qualquer quebra de fluxo de caixa para esses acionistas pode gerar um problema no caixa da Sociedade de Propósito Específico (SPE) que administra a concessão", disse a fonte, sob condição de anonimato.

A agência de classificação de risco Moody's alertou para o aumento do risco de liquidez de construtoras com executivos envolvidos na investigação da Polícia Federal, enquanto a Fitch disse haver risco alto de que as companhias sofram "defaults" em um esforço para preservar a liquidez num momento de incerteza e com a dificuldade de obterem crédito no mercado.

A OAS Finance, da OAS, deixou de pagar neste mês juros sobre títulos de dívida no exterior. O grupo OAS é sócio indireto da concessão do aeroporto de Guarulhos (SP), uma vez que é acionista da Invepar, que integra o consórcio gestor do aeroporto paulista.

O aspecto financeiro é, por enquanto, a preocupação mais palpável, já que ainda há controvérsia sobre o impacto legal e regulatório de uma eventual condenação jurídica dos executivos de empreiteiras denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF).

O MPF já denunciou 36 pessoas acusadas de participarem de um esquema de propina e sobrepreço em contratos da Petrobras, 23 delas vinculadas aos grupos OAS, Camargo Corrêa, UTC Engenharia, Galvão Engenharia, Mendes Júnior e Engevix.

A Engevix é sócia da concessionária Inframérica, que administra os aeroportos de Brasília (DF) e São Gonçalo do Amarante (RN). O terminal de Viracopos (SP) tem a UTC Engenharia entre os sócios.

Assim como no terminal de Guarulhos, no aeroporto de Confins (MG) a participação é indireta: o Grupo Camargo Corrêa é acionista da CCR, integrante do consórcio responsável pelo aeroporto mineiro.

Para especialistas consultados pela Reuters, problemas de caixa e insolvência nas empreiteiras podem levar o governo federal a interferir nas concessões de aeroportos.     "A empresa que perde condições técnicas e econômicas de habilitação pode ter o contrato de concessão rescindido por inexecução", disse o professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), advogado Carlos Ari Sundfeld, especialista em direito administrativo.

Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as seis aeroportos com a iniciativa privada, parte de um plano de logística do governo da presidente Dilma Rousseff para melhorar a infraestutura do país, deverão receber juntos investimentos de cerca de 30 bilhões de reais durante todo o contrato. Cerca de 8,5 bilhões de reais já foram investidos até 15 de janeiro.

A conta inclui dados relativos ao aeroporto do Galeão (RJ), administrado por Odebrecht Transport e Changi.

Venda é alternativa

Exceto pelo aeroporto potiguar, que foi contruído inteiramente pelo concessionário, os demais transferidos à iniciativa privada incluem terminais em operação que são os mais movimentados do país.

Em meio às dúvidas sobre a solvência de algumas empresas nos consórcios, investidores que estão fora do segmento começaram a sondar os grupos na tentativa de comprar uma participação nas concessões.

Uma das empresas que foi sondada é a Engevix, segundo uma fonte próxima à companhia. Essa mesma fonte afirmou, porém, que o grupo não tem intenção, no momento, de se desfazer da presença que possui em aeroportos.

Segundo essa fonte, eventuais dificuldades em conseguir recursos deverão ser superadas com a possível venda do controle de outra subsidiária, a Desenvix, que atua na área de energia, para o sócio norueguês da empresa, a SN Power.

A OAS anunciou que estuda a venda de determinados ativos. "Neste momento a companhia está em conversas com diversos interessados na Invepar", disse a empresa.

Procurada, a UTC Engenharia afirmou que não negocia venda de participação no aeroporto de Viracopos.

O Grupo Camargo Corrêa explicou que a construtora Camargo Corrêa --que é a empresa do grupo envolvida nas investigações-- não possui participações em concessões aeroportuárias. A participação do grupo na CCR, sócia de Confins, se dá por meio da Camargo Corrêa Investimentos em Infraestrutura e da VBC Energia, empresas do grupo.

Condenação jurídica

Outro aspecto que ainda gera dúvidas refere-se à consequência jurídica de uma eventual condenação de algum executivo ou mesmo de uma empresa envolvida na Lava Jato. A princípio, segundo as duas fontes do governo federal que acompanham o tema, uma eventual condenação na Justiça não geraria necessariamente algum tipo de punição contra as concessionárias de aeroportos.

Uma dessas fontes disse que o contrato de concessão assinado com o governo federal e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tem como titular a SPE formada, e não os sócios das concessionárias. "Além disso, a investigação da Lava Jato está atingindo pessoas físicas, e não jurídicas", disse uma fonte.

Segundo a Anac, a legislação estabelece que as condições de habilitação devem ser mantidas ao longo de toda a duração do contrato de concessão.

Procurada, a concessionária do aeroporto de Guarulhos disse que "vem cumprindo todo o cronograma de obras e de investimentos e que as operações ocorrem normalmente". A de Viracopos preferiu não se manifestar, enquanto a concessionária de Confins, a BH Airport, disse que as investigações da Lava Jato não afetam suas operações.

São Paulo – A empreiteira OAS deu preferência para o PT em suas doações para a campanha eleitoral de 2014. Já a Queiroz Galvão investiu mais no PMDB. A Galvão Engenharia, por sua vez, deu mais dinheiro para PSB e PP.   Os dados são de levantamento feito por EXAME.com, a partir da prestação de contas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas eleições de 2014 , os partidos políticos receberam nada menos que R$ 264 milhões em doações das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato , que apura esquema de corrupção envolvendo a Petrobras . A Operação Lava Jato investiga nove empreiteiras: Engevix, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Galvão Engenharia, Mendes Júnior e Iesa. Destas, sete fizeram doações para a campanha de 2014. Mendes Júnior e Iesa não doaram. Para ver quanto cada empreiteira doou para cada partido, clique na seta à direita na foto acima.
  • 2. OAS - R$ 80.126.630,00

    2 /8(REUTERS/Aly Song)

  • Veja também

    PartidoValor doado pela OAS
    PTR$ 33.226.000,00
    PMDBR$ 15.360.000,00
    PSDBR$ 12.000.000,00
    PSBR$ 4.750.000,00
    PPR$ 3.650.000,00
    DEMR$ 3.050.000,00
    PRR$ 3.050.000,00
    PSDR$ 2.150.000,00
    PTBR$ 700.630,00
    PC do BR$ 600.000,00
    PVR$ 600.000,00
    PTNR$ 590.000,00
    PDTR$ 400.000,00
    TotalR$ 80.126.630,00
  • 3. Queiroz Galvão - R$ 55.843.921,00

    3 /8(Divulgação)

  • PartidoValor doado pela Queiroz Galvão
    PMDBR$ 15.830.000,00
    PTR$ 15.100.000,00
    PSBR$ 3.995.000,00
    PSDBR$ 3.730.000,00
    PSDR$ 3.539.081,00
    PDTR$ 3.050.000,00
    PPR$ 2.900.000,00
    DEMR$ 2.750.000,00
    PRR$ 2.000.000,00
    PTBR$ 1.260.000,00
    PSCR$ 600.000,00
    PROSR$ 400.000,00
    SDR$ 400.000,00
    PPSR$ 200.000,00
    PRBR$ 80.000,00
    PRPR$ 6.000,00
    PSLR$ 3.840,00
    TotalR$ 55.843.921,00
  • 4. UTC - R$ 52.831.521,08

    4 /8(foto/Divulgação)

    PartidoValor doado pela UTC
    PTR$ 21.625.000,00
    PSDBR$ 9.080.000,00
    DEMR$ 4.765.000,00
    PMDBR$ 3.900.000,00
    PC do BR$ 3.040.015,08
    PRR$ 2.550.000,00
    PDTR$ 1.600.000,00
    PRTBR$ 1.453.000,00
    SDR$ 1.400.000,00
    PPR$ 875.000,00
    PSBR$ 750.000,00
    PSDR$ 700.000,00
    PMNR$ 602.050,00
    PPSR$ 150.000,00
    PRBR$ 125.000,00
    PSCR$ 100.455,00
    PENR$ 50.000,00
    PVR$ 50.000,00
    PTBR$ 15.000,00
    PT do BR$ 1.001,00
    TotalR$ 52.831.521,08
  • 5. Odebrecht - R$ 48.278.100,00

    5 /8(jbdodane/Flickr/Creative Commons)

    PartidoValor doado pela Odebrecht
    PMDBR$ 15.290.000,00
    PTR$ 9.495.000,00
    PSDBR$ 9.090.000,00
    DEMR$ 4.440.000,00
    PSBR$ 3.210.000,00
    SDR$ 1.330.000,00
    PTBR$ 703.100,00
    PPR$ 690.000,00
    PSDR$ 630.000,00
    PRBR$ 600.000,00
    PSCR$ 530.000,00
    PPSR$ 400.000,00
    PRR$ 370.000,00
    PROSR$ 300.000,00
    PVR$ 290.000,00
    PC do BR$ 230.000,00
    PT do BR$ 220.000,00
    PDTR$ 200.000,00
    PTNR$ 100.000,00
    PHSR$ 60.000,00
    PTCR$ 50.000,00
    PRPR$ 30.000,00
    PSLR$ 20.000,00
    TotalR$ 48.278.100,00
  • 6. Galvão Engenharia - R$ 15.882.300,00

    6 /8(Divulgação/ Galvão Engenharia)

    PartidoValor doado pela Galvão Engenharia
    PSBR$ 4.450.000,00
    PPR$ 4.080.000,00
    PTR$ 2.800.000,00
    PMDBR$ 1.140.000,00
    PENR$ 1.050.300,00
    PROSR$ 640.000,00
    PT do BR$ 402.000,00
    PTBR$ 250.000,00
    PSDR$ 200.000,00
    PC do BR$ 170.000,00
    PSLR$ 150.000,00
    PRR$ 50.000,00
    PSDBR$ 500.000,00
    TotalR$ 15.882.300,00
  • 7. Engevix - R$ 7.925.000,00

    7 /8(Divulgação/ Engevix)

    PartidoValor doado pela Engevix
    PTR$ 5.825.000,00
    PSDBR$ 260.000,00
    PSBR$ 240.000,00
    PDTR$ 225.000,00
    PSLR$ 200.000,00
    PTCR$ 200.000,00
    PVR$ 200.000,00
    PPR$ 160.000,00
    PTBR$ 150.000,00
    PROSR$ 50.000,00
    PSDR$ 50.000,00
    PMDBR$ 40.000,00
    PPLR$ 25.000,00
    PRR$ 300.000,00
    TotalR$ 7.925.000,00
  • 8. Camargo Corrêa - R$ 3.500.000,00

    8 /8(Germano Lüders/EXAME)

    PartidoValor doado pela Camargo Corrêa
    PTR$ 2.000.000,00
    DEMR$ 1.500.000,00
    TotalR$ 3.500.000,00
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