Combate ao crime deve respeitar dignidade da pessoa, diz Gilmar Mendes
Ao rebater as críticas sobre as condições da prisão de Lula, Gilmar apontou que há um "lado animalesco que está se manifestando em cada um de nós"
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de abril de 2018 às 18h35.
Brasília - O ministro Gilmar Mendes , do Supremo Tribunal Federal ( STF ), defendeu nesta terça-feira, 10, o respeito à "dignidade da pessoa humana" no combate à corrupção e na punição de criminosos. Ao rebater as críticas sobre as condições da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gilmar apontou que há um "lado animalesco que está se manifestando em cada um de nós".
"'O ex-presidente Lula vai ter uma suíte, um banheiro...' Gente, onde que nós estamos com a cabeça? Aonde foi a nossa sensibilidade?", questionou Gilmar, durante sessão em que foram julgados dois habeas corpus impetrados pela defesa do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB).
"Ah, 'aborto é direitos humanos'. Isso é coisa (de direitos humanos), ter um banheiro, uma privada (não seria de direitos humanos).... Onde é que nós estamos com a cabeça? Tem um lado animalesco que está se manifestando em cada um de nós, é um tipo de perversão", prosseguiu o ministro.
Na semana passada, Gilmar votou a favor de o ex-presidente aguardar em liberdade até uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no caso do triplex do Guarujá, mas prevaleceu o entendimento de que Lula poderia ser preso após ser condenado em segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Dignidade
Sem citar diretamente nomes, o ministro afirmou que fica com vergonha das pessoas que criticaram as instalações físicas do ex-presidente na superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
"Eu tenho vergonha que pessoas alfabetizadas, que tiveram sempre três ou quatro alimentações durante a vida, se comportem dessa maneira. São pervertidos. Isso não é correto. É preciso denunciar, combater o crime, sim, punir, sim, mas em respeito à dignidade da pessoa humana", frisou o ministro.
"Não pode ocorrer com policial, muito menos com juiz, é preciso que nós repudiemos as matérias que enchem os jornais, inclusive os televisivos, que contam historietas que, se forem verdadeiras, são absolutamente irrelevantes", completou Gilmar Mendes.
Férias
Ex-advogado-geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso, de janeiro de 2000 a junho de 2002, Gilmar disse que passou por vários cargos, sempre na linha de fazer as coisas corretas. "Tanto é que, se eu tivesse vulnerabilidades, eu já teria sido atingido", ressaltou.
"Na AGU, por exemplo, eu combati a ideia de férias em dobro. Por isso tem que acabar com férias em dobro de juízes e procuradores", observou o ministro.