Com visita inédita, Bolsonaro mira evangélicos e Netanyahu, reeleição
Ida ao Muro das Lamentações com israelense é um trunfo para garantir o apoio da bancada evangélica para a agenda governista no Congresso
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de abril de 2019 às 06h57.
Última atualização em 4 de abril de 2019 às 13h38.
Jerusalém — O presidente Jair Bolsonaro fez na segunda-feira, 1º, uma visita histórica ao Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados do judaísmo. Em seu segundo dia de viagem a Israel , ele se tornou o primeiro líder a conhecer o lugar acompanhado de um chefe de governo israelense, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
Foi uma decisão ousada. O Muro das Lamentações, localizado na parte oriental de Jerusalém, é reivindicado pelos palestinos e cercado de simbolismo. Os americanos Barack Obama e Donald Trump , por exemplo, visitaram o muro de maneira privada, para evitar confusão.
A ousadia serve tanto a Bolsonaro quanto a Netanyahu, que quiseram passar mensagens diferentes. O israelense busca votos. No domingo, ele coloca o cargo em jogo nas eleições parlamentares, até agora disputadas palmo a palmo contra o ex-comandante das Forças Armadas, o general Benny Gantz. Há dez anos no poder, ele pode se tornar o premiê a governar Israel por mais tempo.
No entanto, envolvido em casos de suborno, fraude e corrupção, correndo o risco de ser indiciado e preso, Netanyahu precisa passar uma imagem positiva na reta final da campanha. Segundo Emmanuel Navon, cientista político da Universidade de Tel-Aviv, Bolsonaro se transformou em uma plataforma política do premiê. "Netanyahu está sabendo usar bem o presidente brasileiro", disse Navon ao jornal O Estado de S. Paulo.
Já Bolsonaro precisa do apoio da bancada evangélica para avançar sua agenda no Congresso. Parte dela achou pouco a abertura de um escritório de negócios, sem status diplomático, em Jerusalém, e queria a transferência definitiva da embaixada de Tel-Aviv para a cidade, uma promessa de campanha do presidente.
Para representantes da bancada evangélica, Bolsonaro ainda vai cumprir a promessa. "É uma questão de prazo. Não tenho dúvida de que ele vai cumprir com sua palavra", afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ). Ele acredita que o presidente tenha encontrado uma solução temporária para lidar com pressões que recebeu em relação à mudança.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escreveu no Twitter que os jornais "tentam emplacar a retórica" de que o presidente não vai mudar a embaixada para Jerusalém com o objetivo de "desgastá-lo" com os cristãos. "No mundo real, o presidente afirma que vai mudar e muito antes do final de seu mandato", escreveu o filho de Bolsonaro.
Apesar do desejo dos evangélicos, é notória a pressão de países árabes, que representam um dos principais importadores da produção de proteína animal brasileira. Além disso, a chancelaria palestina afirmou que contactaria o enviado ao Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben, por considerar uma "flagrante violação internacional" a abertura do escritório de negócios em Jerusalém.
Na visita ao Muro das Lamentações, os jornalistas acompanharam a cerca de 20 metros, em um palco improvisado. Como sempre as mulheres, à direita, separadas dos homens por uma mureta e com a visão prejudicada.
Na parte final da visita, as duas comitivas entraram em uma sinagoga construída recentemente nos subterrâneos do Muro das Lamentações. Bolsonaro ouviu as explicações de Netanyahu e dos rabinos sobre as tradições judaicas - embora parecesse um pouco desatento. Depois que o presidente assinou o livro de visitantes, ministros e congressistas aproveitaram para tirar uma última selfie.
Mais reza
Na volta ao Hotel Rei David, Bolsonaro foi surpreendido por um grupo de católicos, que rezaram e cantaram para o presidente. Eram cerca de 30 pessoas que mudaram a rotina de um dos mais tradicionais e luxuosos hotéis de Jerusalém, entoando "Derrama senhor, derrama senhor o seu amor". Bolsonaro chorou ao agradecer o apoio e subiu para o quarto.
Na manhã de hoje, o presidente tem um encontro com empresários brasileiros e israelenses. À tarde, visita o Museu do Holocausto e planta uma árvore no Bosque das Nações - um gesto simbólico repetido por mais de uma centena de chefes de Estado que visitam Israel. Desta vez, estará sem Netanyahu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.