Brasil

Cinco conclusões da enxurrada de pesquisas eleitorais

EXAME conversou com analistas políticos para entender o que é concreto e o que continua incerto na corrida eleitoral

A menos de um mês do primeiro turno, os eleitores são bombardeados com novas pesquisas eleitorais praticamente todos os dias (Nacho Doce/Paulo Whitaker/Leonardo Benassatto/Adriano Machado/Reuters)

A menos de um mês do primeiro turno, os eleitores são bombardeados com novas pesquisas eleitorais praticamente todos os dias (Nacho Doce/Paulo Whitaker/Leonardo Benassatto/Adriano Machado/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2018 às 07h35.

Última atualização em 18 de setembro de 2018 às 16h24.

A menos de um mês do primeiro turno, os eleitores são bombardeados com novas pesquisas eleitorais praticamente todos os dias. Somente na semana passada, foram divulgados dois levantamentos do Datafolha, um do Ibope e um do instituto Paraná Pesquisas. Nesta segunda-feira (17), saíram as pesquisas do banco BTG Pactual e da CNT/MDA.

Mas o que é possível tirar de tantos números e gráficos entre os 33% para Jair Bolsonaro (PSL) registrado pelo BTG e os 26% para o mesmo candidato da última pesquisa Datafolha? EXAME conversou com três analistas políticos para entender o que é concreto e o que é incerto da enxurrada de pesquisas eleitorais.

1) Haverá segundo turno

Apesar da insistência (e da esperança) de membros da campanha de Bolsonaro em dizer que podem ganhar no primeiro turno das eleições, os números indicam que deve haver um segundo turno. O cenário mais provável, por enquanto, é uma disputa entre o capitão reformado, ainda internado no Hospital Albert Einstein após ser vítima de uma facada, e Fernando Haddad, oficializado candidato do PT apenas na semana passada.

A existência do segundo turno tem, inclusive, potencial para definir um embolado primeiro turno. Para Maurício Moura, presidente do instituto de pesquisa Ideia Big Data, a diferença desta eleição em relação aos pleitos passados, nos quais 3 candidatos concentraram cerca de 95% dos votos válidos, é que esta é uma disputa de primeiro turno. “O que significa que cada candidato precisa fazer com que sua base vote nele para avançar”, diz Moura.

2) Haddad já está sendo bem sucedido em herdar os votos de Lula

A estratégia do PT em adiar o máximo possível a troca de Lula por Haddad como cabeça de chapa foi construída com base na hipótese de aumentar a transferência de votos do ex-presidente para seu ex-ministro da Educação. Dados das pesquisas indicam que o plano foi bem sucedido. Em uma semana, Haddad saltou de menos de 1% nas citações espontâneas para 4%, segundo os últimos Ibope e Datafolha. O levantamento desta segunda do BTG mostra Haddad com 12% das menções na pergunta espontânea, o que significa que o eleitorado já começou a assimilar o novo candidato petista.

O desempenho de Haddad não melhorou apenas na espontânea. Segundo o Datafolha, na intenção de voto estimulada, saltou de 4%, no final de agosto, antes de ser oficializado candidato, para 13% —empatado com Ciro Gomes (PDT). Quatro dias após ser lançado como o nome oficial do PT, o ex-prefeito de São Paulo cresceu com mais intensidade em parcelas do eleitorado nais quais Lula obtinha seus percentuais mais altos de intenção de voto. É o caso da parcela de eleitores que ganham até dois salários mínimos, na qual Haddad subiu de 10% para 16%, e do eleitorado do Nordeste, região onde saltou de 13% para 20%.

3) Bolsonaro cresceu com exposição

Antes do atentado contra o candidato do PSL, analistas apostavam que ele chegaria a um teto limite de cerca de 20% das intenções de voto. O ataque em Juiz de Fora (MG), seguido por duas cirurgias, no entanto, rendeu a Bolsonaro exposição mais alta do que a dos outros candidatos na mídia, além de ter freado, por alguns dias, os ataques de seus adversários. Tudo isso, deu fôlego a candidatura de Bolsonaro, que aparece como líder em todos os levantamentos.

O aumento no número de seus votos veio, principalmente, dos eleitores que antes declaravam voto em branco ou nulo. O índice de nulos e brancos caiu de 22%, no final de agosto, para 13% no último Datafolha.

Além disso, Bolsonaro apresentou crescimento em praticamente todos os segmentos do eleitorado, de acordo com o Ibope, com destaque para a região Sul, onde saltou 14 pontos percentuais, de 23% para 37%. Seu maior número de apoiadores continuam sendo homens mais ricos. Em análise do Datafolha publicada no jornal Folha de S.Paulo, os diretores do instituto afirmam que o capitão venceria com mais de 50% dos votos já no primeiro turno se o eleitorado fosse composto apenas por homens com renda familiar superior a cinco salários mínimos.

Para Maurício Moura, o atentado também acabou por frear a rejeição contra o candidato, que, mesmo assim, é o mais rejeitado pelo eleitorado: 44% dos eleitores não votariam nele de jeito nenhum no primeiro turno.

4) A narrativa do voto útil chegou para ficar

Para Renato Meirelles, diretor do Instituto Locomotiva, a campanha eleitoral deste ano vem se organizando em ondas. “Primeiro tivemos a onda da dúvida sobre a candidatura de Lula, depois uma onda de crescimento do Ciro, a onda da pós-facada, a onda da oficialização do Haddad, agora estamos na onda do voto útil”, afirma.

O protagonismo do voto útil tem a ver com o desempenho de dois candidatos. À centro-esquerda, Ciro Gomes, que aparece em leve crescimento. À centro-direita, Geraldo Alckmin, que estagnado ou em queda, dependendo do levantamento. Segundo os analistas, ambos ainda estão na briga por um lugar no segundo turno e, para chegar lá, apostam na narrativa do voto útil, um contra Bolsonaro e outro contra o PT.

Ciro Gomes, que ainda pode perder votos que conquistou no Nordeste para Haddad, é o candidato que aparece com maior vantagem para derrotar Bolsonaro no segundo turno. A aposta é que ele deve insistir neste mote para levar votos da esquerda, do centro e mesmo da direita contrária a Bolsonaro e ao PT. Se Ciro se mostrar competitivo até a última semana antes da eleição, pode acabar beneficiado pelo voto útil, dizem os analistas.

Já Alckmin precisará crescer de 3 a 4 pontos percentuais em cada uma das próximas semanas para fazer valer a narrativa em prol do voto útil, ou seja, que ele é o candidato com mais chance de de derrotar o PT no segundo turno.

Para essa estratégia funcionar, tanto Alckmin quanto Ciro vão precisar atirar para todos os lados, contra Bolsonaro, Haddad e um contra o outro. O problema disso é que, quanto mais se abre o foco, mais difícil para a campanha colher resultados e realizar ataques realmente efetivos.

Caso algum deles seja bem sucedido na campanha pelo voto útil, é provável que os percentuais atuais de 3% para Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo) diminuam na última semana antes do primeiro turno. Marina Silva (Rede) também pode ser vítima da migração dos votos.

5) Marina Silva: oficialmente na disputa, mas praticamente carta fora do baralho

A maioria dos analistas ouvidos por EXAME já define Marina Silva como carta fora do baralho. “Nada é impossível, mas, por outro lado, é uma candidata que tem caído sistematicamente. Quanto mais ela se expõe, mais cai. Na semana da entrevista ao Jornal Nacional, que consideramos o melhor momento da campanha, foi quando começou a cair”, diz Thiago Vidal, analista político da consultoria Prospectiva. Para Marina se mostrar ainda competitiva teria que recuperar os votos que perdeu, principalmente para Fernando Haddad (PT), mas também para Ciro Gomes (PDT), e ainda capturar novos votos.

Segundo Moura, do Ideia Big Data, Marina perdeu, principalmente, o eleitorado de baixa renda.

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Nesta terça-feira será divulgada mais uma pesquisa, do Ibope. Ela pode reforçar as conclusões dos levantamentos anteriores, ou trazer abrir novas frente de análise. Nas eleições mais imprevisíveis dos últimos tempos, os 19 dias que faltam até o primeiro turno são tempo suficiente para muita coisa mudar.

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