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CEV-RJ apresenta provas de assassinato de Rubens Paiva

Segundo o depoimento do coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos, o ex-deputado teria sido morto sob tortura


	Exposição na Câmara sobre Rubens Paiva: no depoimento, consta que coronel só soube nome do preso político que havia morrido quando retornou de missão
 (Renato Araújo/ABr)

Exposição na Câmara sobre Rubens Paiva: no depoimento, consta que coronel só soube nome do preso político que havia morrido quando retornou de missão (Renato Araújo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2014 às 18h51.

A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ) apresentou hoje (7) documentos que comprovam que os órgãos de repressão do governo militar deram informações falsas sobre o caso do ex-deputado Rubens Paiva, dado como desaparecido em 20 de janeiro de 1971.

De acordo com o presidente da comissão, Wadih Damous, o coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos, em depoimento à comissão em novembro, informou que a versão oficial de que Paiva foi resgatado por guerrilheiros no Alto da Boa Vista e desapareu na mata, não é verdade.

“O coronel Raymundo revela que lhe foi atribuída a missão de montar esse cenário. O então comandante do [Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna] DOI-Codi, o major [Francisco] Demiurgo [Santos Cardoso], determinou a ele que levasse o Volkswagen até determinado ponto no Alto da Boa Vista e lá fizesse o que ele fez, com os dois sargentos que o acompanhavam: tentaram incendiar o carro com tiros de pistola, não conseguindo, riscaram um fósforo e tacaram no tanque de combustível, o carro pegou fogo e explodiu. A partir daí montou-se a farsa que perdurou 43 anos”.

Segundo o depoimento de Campos, o ex-deputado teria sido morto sob tortura. “Essa farsa foi justificada pelo comandante, que interpelado pelo próprio coronel Raymundo, disse que era preciso montar aquela história porque um prisioneiro havia sido morto em interrogatório no DOI-Codi”, informou Damous.

No depoimento, consta que o coronel não viu Rubens Paiva em nenhum momento e só soube o nome do preso político que havia morrido quando retornou da missão, sem ter recebido nenhum detalhe das condições da morte nem do destino do corpo.

Segundo o presidente da CEV-RJ, as conversas com o coronel Campos duraram dez meses, até ele concordar em prestar um depoimento formal. As informações só foram reveladas agora porque poderiam atrapalhar as investigações, além do coronel não ter autorizado, a princípio, a divulgação das informações, mudando de ideia depois.

Damous diz que foram citadas pessoas ainda vivas, que poderiam esclarecer aonde está o corpo de Rubens Paiva.

“O coronel faz menção, no seu depoimento, ao general reformado José Antônio Nogueira Belham e ao então tenente Armando Avólio. O general Belham era comandante no DOI-Codi e, pelas informações que temos, estava em serviço no dia do assassinato de Rubens Paiva, e o tenente Avólio também é mencionado como o autor da perícia no carro incendiado no Alto da Boa Vista, sob alegação de que foi atacado por terroristas. Então, nesse sentido, são duas pessoas chaves que podem esclarecer o que aconteceu com Rubens Paiva e aonde ele está enterrado”.

A CEV-RJ pretende trocar informações com a Comissão Nacional da Verdade para verificar se Avólio e Belham já prestaram depoimento e se o caso Rubens Paiva foi tratado. A comissão também apresentou documentos do acervo do Sistema Nacional de Informação (SNI) do Arquivo Nacional que mostram que os filhos e a viúva de Rubens Paiva foram monitorados até pelo menos 1984, data do último documento encontrado.

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