Campanhas de Tebet e Ciro articulam pacto de não agressão e agenda comum
A iniciativa visa estabelecer uma convivência pacífica - espécie de pacto de não agressão -, em meio à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de junho de 2022 às 18h08.
Aliados da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) tentam promover uma aproximação dos dois pré-candidatos à Presidência. A iniciativa visa estabelecer uma convivência pacífica - espécie de pacto de não agressão -, em meio à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Eles podem construir uma agenda mínima.
Entre as pautas convergentes estão os desafios da economia - a inflação, o desemprego e a pobreza -, a defesa da democracia e a crítica à radicalização imposta no atual ciclo pré-eleitoral. Simone e Ciro se colocam como pré-candidaturas do centro democrático, mas, enquanto ela se situa na chamada terceira via, ele se posiciona mais à esquerda no espectro político.
Em outra frente, o MDB abriu um canal de diálogo com o Podemos para tentar ampliar a coligação da senadora. O partido chegou até a lançar a pré-candidatura do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Sérgio Moro, mas a iniciativa foi frustrada com a migração do ex-juiz da Lava Jato para o União Brasil. Atualmente após a chancela da cúpula emedebista para representar a terceira via, Simone conta apenas com o apoio do Cidadania e espera pela palavra final do PSDB.
O primeiro sinal do movimento entre Ciro e Simone se deu na participação, na quarta-feira passada, do ex-senador gaúcho Pedro Simon, decano do MDB, em um programa apresentado pelo pedetista nas redes sociais. Na ocasião, Simon classificou como um desastre a "dobradinha" Lula e Bolsonaro e disse que os pré-candidatos do MDB e do PDT precisam "caminhar, discutir e debater com grandeza".
Ciro concordou, elogiou Simone e o pai dela, o ex-senador Ramez Tebet, e se colocou à disposição para o diálogo. "Em qualquer mesa em que o senhor estiver, eu estarei na cabeceira. Me convoque que eu estarei", afirmou ele.
Os presidentes do PDT, Carlos Lupi, e do MDB, Baleia Rossi, reforçaram a ideia. "Estamos abertos para o diálogo com a Simone. Esse é o caminho natural", disse Lupi. "Temos de conversar com todos aqueles que são alternativas à polarização. O diálogo está no DNA do MDB. Não se faz política com veto. Temos de buscar os pontos de convergência", afirmou Baleia Rossi.
A articulação no centro político esbarra, porém, em questões regionais, especialmente no Ceará. No Estado, o MDB e o PDT são rivais históricos. Uma reunião entre Ciro e Simone neste momento dizem aliados, acirraria os ânimos com o grupo do ex-senador Eunício Oliveira, que é próximo de Lula e se opõe à pré-candidatura da emedebista.
Do lado da senadora, enquanto os tucanos caminham para um acordo na disputa presidencial, o MDB abriu um canal de diálogo com o Podemos, que ficou sem candidato próprio. As conversas ainda são preliminares, mas integrantes do MDB avaliam que a chapa de Simone com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) na vice, que já indicou que pode aceitar o posto, tem o que chamam de afinidades históricas com o Podemos.
Há resistências. Segundo o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), a sigla estaria dividida entre lançar candidatura própria ou liberar os filiados.
A solução do impasse entre o PSDB e o MDB teve de ser adiada porque a senadora cancelou uma viagem ao Rio Grande Sul, que estava prevista para começar nesta quinta-feira, 2, em razão da morte de seu sogro, Agostinho Rocha Segura, de 80 anos, em Três Lagoas (MS). Ele morreu em consequência de um AVC que sofreu na quinta-feira passada.
Simone deve ir próxima semana a Porto Alegre para uma rodada de conversas com líderes locais do MDB e com o ex-governador Eduardo Leite (PSDB). O acordo local passa pela desistência do deputado estadual Gabriel Souza (MDB) de disputar o Palácio Piratini para apoiar o candidato tucano, que deve ser Leite.
Após a desistência de João Doria de disputar o Palácio do Planalto, o PSDB estabeleceu como contrapartida ao apoio a Simone que o MDB abrisse mão de lançar candidatos próprios em três Estados para apoiar tucanos: Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Nos dois últimos, já está certo que a pré-candidata terá dois palanques.
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