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Câmara articula "distritão" para manter mandatos

A medida é apontada pelos parlamentares como uma forma de assegurar a própria reeleição e manter o foro privilegiado em meio à crise da classe política

Distritão: a ideia é apresentar a emenda durante as discussões, em plenário, do texto do relator, deputado Vicente Cândido (Vicente Cândido/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de julho de 2017 às 08h31.

Brasília - Deputados do PMDB , PSDB e de ao menos oito partidos do Centrão firmaram acordo para incluir na reforma política o "distritão". Pelo sistema são eleitos para o Legislativo apenas os mais bem votados em cada Estado. A medida é apontada pelos parlamentares como uma forma de assegurar a própria reeleição e, consequentemente, manter o foro privilegiado em meio ao descrédito com a classe política causado por escândalos de corrupção como os revelados pela Lava Jato.

Hoje um candidato mais votado não garante necessariamente uma cadeira na Câmara. O atual sistema é chamado de proporcional. Ele soma o número de votos de todos os candidatos e na legenda e a partir daí define a quantos assentos o partido terá direito. Os mais votados dentro da sigla são eleitos. Por isso, ocorre o fenômeno dos puxadores de votos, como Tiririca (PR-SP), que podem ajudar a eleger parlamentares com baixa votação.

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Sem considerar esse modelo, a ideia é apresentar a emenda do "distritão" durante as discussões, em plenário, do texto do relator, deputado Vicente Cândido (PT-SP), a ser analisado a partir de agosto. Esse modelo pode dificultar a renovação da Câmara e favorecer a permanência dos deputados no poder, uma vez que eles têm recall (são conhecidos por maior parcela do eleitorado pela participação em eleições passadas), visibilidade midiática e máquina administrativa, como acesso a emendas que garantem verbas para obras em redutos eleitorais.

Como o petista sugere um sistema "transitório" para as eleições de 2018, os parlamentares já articulam o "distritão" como sistema permanente. A proposta foi tema de debate em uma reunião na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na quarta-feira passada. Estavam presentes parlamentares do Centrão, do PMDB, da oposição e do PT, que discorda da medida.

A reportagem apurou que, no encontro, os deputados debateram abertamente a eficácia do sistema para garantir que eles se mantenham nos cargos a partir das próximas eleições.

A emenda será apresentada pelo deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) e vai transformar os Estados em distritos. O parlamentar, porém, negou que a proposta tenha a finalidade de garantir a renovação dos mandatos. "Isso quem vai decidir é o povo. O "distritão" garante a representação das minorias."

A bancada do PMDB deverá votar majoritariamente a favor desse sistema. "Há uma maioria na Câmara a favor da proposta, apenas existe uma discordância se o sistema deve ser transitório ou permanente", afirmou o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), que não estava presente no encontro. "Só não há consenso porque a oposição é contra", disse.

Maia é contra a proposta, mas afirmou aos parlamentares que aceitaria uma articulação no caso de o "distritão" ser usado apenas em caráter transitório. Para parlamentares críticos à medida, esse sistema só poderia ser adotado após a aprovação de uma cláusula de barreira para diminuir o número de partidos. A avaliação é de que o "distritão" vai incentivar legendas nanicas a lançar candidatos populares, como artistas, delegados e apresentadores de TV.

'Atraso'

O cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em sistemas políticos, é crítico ao modelo. "É um sistema atrasado, que reforça o personalismo na política e enfraquece os partidos", afirmou. "O distritão é um sistema com muitos problemas, não é usado em nenhuma democracia tradicional, é um sistema que esteve em vigor no século 19."

Ele lembrou que, há dois anos, praticamente os mesmos deputados já rejeitaram o "distritão", durante a votação da minirreforma eleitoral de 2015. Hoje, disse ser "lamentável" o que chamou de "acordos de bastidores".

O sistema defendido por Cândido em relatório é o distrital misto. Pela regra, o eleitor votaria duas vezes: uma no candidato e outra no partido de preferência.

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