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Brasil polarizado representa novo obstáculo para Dilma

Eleição apertada de 26 de outubro deixou um clima de polarização e aspereza inédito desde o retorno à democracia


	Manifestação em São Paulo pede impeachment da presidente Dilma Rousseff
 (Oswaldo Corneti/Fotos Públicas)

Manifestação em São Paulo pede impeachment da presidente Dilma Rousseff (Oswaldo Corneti/Fotos Públicas)

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Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2014 às 15h02.

Rio de Janeiro - Antônio Gonçalves descobriu que um adesivo de campanha pode causar problemas após a eleição mais apertada em pelo menos 68 anos.

Gonçalves disse que no dia 1º de novembro saiu para dar um passeio com a esposa, a sogra e a filha de seis anos pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde se deparou com manifestantes que pediam o impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff.

Uma multidão cercou seu carro, que exibia cinco adesivos pró-Dilma, e começou a bater nele. Uma janela estilhaçou e a filha começou a chorar.

“Esse ódio contra outra pessoa só porque ela está do lado oposto vai além da compreensão”, disse Gonçalves, 32, por telefone, de Brasília, onde trabalha como gerente de projeto em um dos ministérios.

“Eu participo ativamente da política porque gosto e nunca havia visto uma atitude parecida”.

A eleição de 26 de outubro dividiu o Brasil em regiões e classes sociais e deixou um clima de polarização e aspereza inédito desde o retorno à democracia, em 1985, segundo Thiago de Aragão, sócio e diretor de estratégia da firma de consultoria política Arko Advice.

Isso tornará o país mais difícil de governar e deixa Dilma com pouco espaço para errar no conserto dos danos, disse ele.

“A vida será muito mais difícil para ela de agora em diante”, disse Aragão, por telefone, de Brasília.

“Ela não tem 100 por cento de fidelidade em seu partido, o principal partido aliado está dividido entre aqueles que a apoiam e os que são contra, e ela não tem absolutamente nenhum diálogo com a oposição”.

Margem apertada

Dilma derrotou o senador Aécio Neves por 3,3 pontos porcentuais, a margem mais apertada em uma eleição presidencial brasileira desde 1945, pelo menos.

Ela ganhou prometendo expandir os programas sociais e atacou Aécio alegando que ele abandonaria esses programas e aumentaria o desemprego, ameaçando os ganhos de mais de 30 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza para trás ao longo dos 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, o PT.

Aécio disse que Dilma havia gerenciado mal a economia e que o PT está envolvido em um escândalo de corrupção descoberto na Petrobras.

Dilma, 66, ganhou de forma arrasadora nas regiões mais pobres do país, como o Nordeste, onde capturou 72 por cento dos votos, enquanto Aécio se saiu melhor em regiões mais ricas, recebendo 64 por cento dos votos em São Paulo, cidade considerada a capital industrial e financeira do país.

Para agravar os perigos da polarização, o Legislativo estará ainda mais fragmentado do que antes. A partir de fevereiro, quando o novo Congresso se reunir, o Brasil terá 28 partidos na Câmara dos Deputados, contra 22 agora, e 17 partidos no Senado, em vez de 15.

A base aliada de Dilma manterá a maioria na Câmara Baixa, mas terá menos deputados.

Aécio voltou ao Congresso no dia 4 de novembro e disse aos repórteres que lideraria a oposição para exigir eficiência e transparência.

Ele disse que os protestos recentes são o começo do momento em que o Brasil encontrou seu futuro, mas qualquer manifestação que defenda um retrocesso em relação à democracia receberia “nossa oposição mais veemente”.

Dilma disse em seu discurso de vitória na noite da eleição que sua primeira meta será pressionar por mudanças nas regras que regem as eleições e os partidos, como a redução do papel das empresas no financiamento de campanhas e o endurecimento das leis anticorrupção.

Ao focar no sistema político, e não em uma economia em recessão, ela está criando “um ambiente desnecessariamente hostil” no Congresso, disse Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara Baixa, em entrevista no dia 30 de outubro.

‘Criam divergência’

Considerando que as tentativas de mudar o sistema político perturbarão sua base aliada, Dilma deveria priorizar reformas tributárias e mudar seu estilo de tomada de decisões centralizada para fortalecer ministros e assessores, segundo Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria Integrada.

Isso permitiria que eles melhorassem os laços com o Congresso, com o tipo de liderança que funciona no sistema de governo de coalizão do Brasil, disse ele.

“Ela precisa encontrar um núcleo de políticos aceitáveis dentro da base aliada”, disse Cortez, por telefone, de São Paulo. “Começar com questões espinhosas que criam divergência só lhe dará mais trabalho”.

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