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Cortez, da Tendências: não vai ter golpe, nem impeachment e nem moderação

Cientista político sócio da consultoria Tendências aposta num cenário de tensão política até as eleições de 2022. De um lado, Bolsonaro seguirá sem forças para uma ruptura. Do outro, falta tempo para impeachment

Cortez, da consultoria Tendências: "Não há sinal de moderação por parte de Bolsonaro. Por outro lado, não há risco de ruptura institucional e tampouco de impeachment" (Germano Lüders/Exame)

Cortez, da consultoria Tendências: "Não há sinal de moderação por parte de Bolsonaro. Por outro lado, não há risco de ruptura institucional e tampouco de impeachment" (Germano Lüders/Exame)

LB

Leo Branco

Publicado em 7 de setembro de 2021 às 17h16.

Última atualização em 7 de setembro de 2021 às 18h02.

O cientista político Rafael Cortez, sócio da consultoria Tendências, vê pouco espaço para moderação no discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos próximos meses. A julgar pela mobilização popular conseguida por Bolsonaro neste 7 de Setembro, contudo, o jogo político deve continuar tensionado e, ao mesmo tempo, sem grandes rupturas nos próximos meses. Para Cortez, falta apoio popular para uma ruptura institucional por parte de Bolsonaro.

Ao mesmo tempo, há pouco tempo para um processo de impeachment contra o presidente, em virtude da aproximação das eleições de 2022. No cálculo político de Bolsonaro a essa altura, diz Cortez, está a sobrevivência do bolsonarismo em 2022 em meio ao avanço das investigações de denúncias de irregularidades de Bolsonaro e seus familiares — como nos inquéritos das rachadinhas e das fake news, por exemplo.

"No cálculo político de Bolsonaro está viabilizar uma candidatura à reeleição em meio ao risco de um processo de inelegibilidade no Superior Tribunal de Justiça por causa dessas investigações", diz Cortez.


O que devemos esperar do Supremo Tribunal Federal e do Congresso nos próximos dias em resposta aos eventos de hoje?

Não há sinal de moderação. A gente seguirá com quadro de radicalização até o processo eleitoral de 2022. O Presidente como principal objetivo constranger o Supremo Tribunal Federal por causa do inquérito das fake news entre outras investigações. No cálculo político de Bolsonaro está viabilizar uma candidatura à reeleição em meio ao risco de um processo de inelegibilidade no Superior Tribunal de Justiça por causa dessas investigações. Em certa instância esse processo de tensionamento nem é para aumentar a chance de eleição em 2022, mas resultado de uma tentativa de viabilizar a candidatura dele e a dos familiares nas eleições do ano que vem frente a tantas investigações na Justiça.

Há algum caminho para a pacificação política do Brasil nos próximos meses?

Bolsonaro está contando com a mobilização popular para desempatar o jogo. Mas, neste ponto, as manifestações de hoje não demonstraram grandes mudanças na tensão política. Não há sinal de moderação por parte de Bolsonaro. Por outro lado, não há risco de ruptura institucional e tampouco de impeachment, pois as eleições de 2022 estão logo aí e o tempo da Justiça é mais lento e pode não haver tempo hábil para mobilizar as forças políticas em prol de um afastamento a essa altura do mandato. O único cenário possível para alguma pacificação seria uma indicação de desistência da reeleição por parte de Bolsonaro, o que dificilmente vai acontecer. O bolsonarismo depende do tensionamento visto hoje, pois do ponto de vista da trajetória do governo em si há pouco a mostrar.

As pautas de cunho antidemocrático nas manifestações de hoje podem afetar de que maneira a agenda do Congresso nos próximos meses? É possível esperar algum tipo de agenda de reformas? Qual?

O governo hoje tem alguma governabilidade no Congresso, não há uma paralisia completa. Só que é uma governabilidade descentralizada, decorrente de três chefes de governo. Por um lado, há o Bolsonaro. Por outro, Artur Lira, presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco, do Senado, cada um com uma agenda política distinta para 2022. Em virtude disso, os temas que geram viabilidade política não necessariamente têm um impacto positivo na economia. Exemplos disso são a discussão da reforma tributária, hoje fatiada e capaz de gerar risco fiscal, ou a discussão sobre o pagamento dos precatórios, que está longe do desejado pelo governo. O viés é negativo na economia. Estamos saindo de uma recuperação em linha com a retomada da atividade para níveis pré-pandemia para um cenário mais pessimista. Ao contrário de 2020, agora não teremos espaço para medidas contra cíclicas, como o auxílio-emergencial, para estimular a economia.

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