Bolsonaro diz que irá estudar se Onyx privilegia estado natal
Presidente afirmou que ministros interinos só poderão utilizar aviões da FAB em casos excepcionais
Agência O Globo
Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 12h03.
Brasília — O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que irá estudar se o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , privilegiou seu estado natal, o Rio Grande do Sul, em ações do ministério, com o objetivo de se cacifar para eleições. Bolsonaro foi questionado sobre o caso de Onyx após afirmar, ao jornal "O Estado de S. Paulo", que irá demitir ministros que utilizem suas pastas para influenciar disputas.
O presidente elogiou o repórter pela pergunta, disse que era um ponto a ser estudado e repetiu que dará "cartão vermelho" a quem agir dessa forma:
"Parabéns pela pergunta. É um ponto a ser estudado, tá ok? Qualquer ministro que, por ventura, queira aí usar o ministério (para), em vez de atender ao Brasil, atender ao seu estado ou ao seu município está fadado a levar um cartão vermelho. Eu não vou confirmar o que você falou aí, mas, em havendo…"
Depois, contudo, afirmou que "até o momento" não percebeu essa atitude em Onyx:
"Os ministros sabem que eu fico ligado, no que for possível, em quase tudo. Percebendo, não conta com a minha simpatia. Até porque eu sempre falei que quem se preocupa com política não vai dar certo. Até porque o pessoal local vai começar a bater. 'Por que está vindo mais recurso para tal estado e não para todos de maneira uniforme?' Se isso estiver acontecendo, né, teremos problemas pela frente. Mas até o momento não notei isso aí no Onyx, não. Até o momento".
Em julho do ano passado, O GLOBO já havia mostrado que Onyx dedicava parcela significativa de sua agenda para receber políticos gaúchos de diversas cidades. Nos primeiros meses de governo, quase 20% dos mais de 350 registros de encontros com parlamentares, prefeitos e secretários estaduais e municipais eram de conterrâneos do ministro.
O ministro teve sua permanência no cargo ameaçada na semana passada, após a demissão do seu então secretário executivo na pasta, Vicente Santini, por ter utilizado uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) em viagens para Suíça e Índia, e depois do presidente retirar o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) da Casa Civil. Bolsonaro, contudo, sinalizou que Onyx permanecerá no cargo.
Nesta quinta, Bolsonaro também disse que definiu "normas verbais" para a utilização de aviões da FAB e que ministros interinos só poderão fazer uso deles em casos excepcionais — Santini respondia interinamente pela Casa Civil, porque Onyx estava de férias. As regras foram discutidas com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
"Falei com o general Fernando, que ele falou com o comandante da Aeronáutica, (sobre) certas normais verbais minhas sobre o uso dos aviões da Força Aérea. Quais normas? Por que não bota no papel? Porque para mim vale mais a palavra. Fio do bigode. E assim está sendo feito. Uma medida vou falar para vocês, suplente, ministro interino, não usa avião. A não ser que tenha uma coisa gravíssima para resolver, e assim mesmo vai ter que chegar no meu conhecimento. Não usa avião. Já tivemos caso aqui que o cara ficou dois dias interino ficou na cidade dele".
O presidente afirmou que, se for possível, ministros devem utilizar aviões de carreira e citou os ministros Tereza Cristina (Agricultura) e Paulo Guedes (Economia) como exemplos positivos. Ponderou, contudo, que ministros de idade avançada podem viajar de primeira classe e que não é necessária uma economia "radical".
"Está um decreto em vigor, vai continuar em vigor, mas, se for possível, vamos até ir de carreira. Quantas vezes eu já vi a Tereza Cristina indo de classe econômica para fora do Brasil? O próprio Paulo Guedes. Com todo o respeito, nós não podemos pagar a classe executiva. É isso, a mais cara? Qual a mais cara, executiva? Primeira classe. O cara vai mais esticado. Você vai pegar o Paulo Guedes, quase 70 anos, chegar igual canguru lá em Davos? Acho que deve pagar...Fica muitos mais barato que um avião da Força Aérea. Então, vamos fazer economia, mas não dessa forma radical como querem que faça".