Brasil

Bolsonaro confirma demissão de Alvim por "pronunciamento infeliz"

Secretário de Cultura usou em vídeo um trecho similar ao de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler

Roberto Alvim: (Youtube/TV Cultura/Reprodução)

Roberto Alvim: (Youtube/TV Cultura/Reprodução)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 12h05.

Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 15h09.

São Paulo - O secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, foi exonerado nesta sexta-feira (17), com pouco mais de dois meses no cargo, após repercussão de um vídeo no qual parafraseia o líder nazista Joseph Goebbels.

"Comunico o desligamento de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura do Governo. Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência", afirmou o presidente Jair Bolsonaro em uma nota.

"Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum", completou.

Alvim já havia afirmado, em publicação no Facebook, que tinha colocado o cargo à disposição:

Vídeo

O secretário publicou um vídeo nesta quinta-feira (16) no qual, ao divulgar um novo concurso de artes, ele parafraseou Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista.

Políticos e movimentos cívicos pediram publicamente pela sua saída, incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

A fala também foi criticada, entre outros, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e por entidades da sociedade civil, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib), assim como pela Embaixada da Alemanha no Brasil.

Alvim se defendeu e culpou uma "coincidência infeliz". O vídeo, no entanto, trazia como música de fundo um trecho da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner, uma das obras preferidas de Hitler.

Alvim fala o seguinte trecho: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada.”

A fala é bem parecida a um pronunciamento de Goebbels direcionado à diretores de teatro que consta da obra “Joseph Goebbels: Uma biografia”, do historiador alemão Peter Longerich:

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.”

Perfil

Roberto Rego Pinheiro, que usa Alvim como nome artístico, foi nomeado em novembro e antes disso atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

Ele foi proprietário, entre 2006 e junho de 2019, do teatro Club Noir, na Rua Augusta, mantido em conjunto com sua esposa, a premiada atriz e diretora Juliana Galdino.

O apoio do casal à candidatura Bolsonaro desde as eleições gerou incômodo em parte da classe artística, atacada pelo hoje presidente e majoritariamente identificada com ideais progressistas.

Em entrevistas, Alvim credita sua reorientação política à descoberta de um tumor no intestino em 2017 e conversão ao catolicismo, além de reclamar de uma suposta perseguição política da esquerda no direcionamento de verbas de fomento.

No final de setembro, Alvim escreveu em suas redes sociais que sentia “desprezo” por Fernanda Montenegro e a chamou de “mentirosa”. O motivo foi uma capa da revista Quatro Cinco Um que trazia a atriz de 89 anos vestida de bruxa numa fogueira de livros.

“A ‘intocável’ Fernanda Montenegro faz uma foto pra capa de uma revista esquerdista vestida de bruxa”, escreveu Alvim. “Na entrevista, vilipendia a religião da maioria do povo, através de falas carregadas de preconceito e ignorância. Essa foto é ecoada por quase toda a classe artística como sendo um retrato fiel de nosso tempo, em postagens que difamam violentamente o nosso presidente”.

Acompanhe tudo sobre:CulturaGoverno BolsonaroMinistério da CulturaNazismo

Mais de Brasil

São Paulo tem 88 mil imóveis que estão sem luz desde ontem; novo temporal causa alagamentos

Planejamento, 'núcleo duro' do MDB e espaço para o PL: o que muda no novo secretariado de Nunes

Lula lamenta acidente que deixou ao menos 38 mortos em Minas Gerais: 'Governo federal à disposição'

Acidente de ônibus deixa 38 mortos em Minas Gerais