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Secretário da Cultura copia discurso de ministro da Propaganda de Hitler

Em vídeo para divulgar concurso de arte, Roberto Alvim parafraseou Goebbels ao som de uma das óperas preferidas de Hitler; Maia pede sua demissão

Roberto Alvim, secretário Especial da Cultura do governo Bolsonaro  (Youtube/Reprodução)

Roberto Alvim, secretário Especial da Cultura do governo Bolsonaro (Youtube/Reprodução)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 10h25.

Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 15h11.

São Paulo - O secretário da cultura do governo Bolsonaro, Ricardo Alvim, parafraseou trechos de um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista entre 1933 e 1945. Ele acabou sendo demitido.

Em um vídeo publicado na noite desta quinta-feira (16) para divulgar um novo concurso nacional de artes, Alvim fala o seguinte trecho:

“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo - ou então não será nada."

A fala é bem parecida a um pronunciamento de Goebbels direcionado à diretores de teatro que consta da obra “Joseph Goebbels: Uma biografia”, do historiador alemão Peter Longerich. :

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada."

O vídeo de Alvim também traz como música de fundo um trecho da ópera "Lohengrin", de Richard Wagner, uma das obras preferidas de Hitler, e foi gravado em uma sala com o retrato de Bolsonaro, uma bandeira do Brasil e uma cruz.

O Prêmio Nacional das Artes que o secretário estava divulgando havia sido lançado horas antes em uma transmissão ao vivo pela internet com a participação do próprio presidente. No vídeo citado, Alvim diz ainda que está atendendo a um pedido de Bolsonaro:

“A cultura é a base da pátria. Quando a cultura adoece, o povo adoece junto. E é por isso que queremos uma cultura dinâmica, mas ao mesmo tempo enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes", disse.

O vídeo gerou ampla repercussão negativa em todo o espectro político com vários pedidos para que Alvim seja retirado do cargo, incluindo do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e de movimentos como o Livres e o Acredito.

Em suas redes sociais, Alvim disse que a citação a Goebbels foi uma "coincidência retórica", que a frase "não tem nada de errado" e culpou a esquerda:

Perfil

Roberto Rego Pinheiro, que usa Alvim como nome artístico, atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

Ele foi proprietário, entre 2006 e junho de 2019, do teatro Club Noir, na Rua Augusta, mantido em conjunto com sua esposa, a premiada atriz e diretora Juliana Galdino.

O apoio do casal à candidatura Bolsonaro desde as eleições gerou incômodo em parte da classe artística, atacada pelo hoje presidente e majoritariamente identificada com ideais progressistas.

Em entrevistas, Alvim credita sua reorientação política à descoberta de um tumor no intestino em 2017 e conversão ao catolicismo, além de reclamar de uma suposta perseguição política da esquerda no direcionamento de verbas de fomento.

No final de setembro, Alvim escreveu em suas redes sociais que sentia “desprezo” por Fernanda Montenegro e a chamou de “mentirosa”. O motivo foi uma capa da revista Quatro Cinco Um que trazia a atriz de 89 anos vestida de bruxa numa fogueira de livros.

“A ‘intocável’ Fernanda Montenegro faz uma foto pra capa de uma revista esquerdista vestida de bruxa”, escreveu Alvim. “Na entrevista, vilipendia a religião da maioria do povo, através de falas carregadas de preconceito e ignorância. Essa foto é ecoada por quase toda a classe artística como sendo um retrato fiel de nosso tempo, em postagens que difamam violentamente o nosso presidente”.

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