Brasil

BC corre grande risco ao desprezar expectativas inflacionárias

Economista José Márcio Camargo diz que há dúvidas no mundo inteiro sobre a eficácia do controle de crédito no combate à inflação

Para combater a inflação, BC mescla medidas de controle do crédito com alta de juros (Divulgação/Banco Central)

Para combater a inflação, BC mescla medidas de controle do crédito com alta de juros (Divulgação/Banco Central)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de março de 2011 às 11h34.

São Paulo – O Banco Central do Brasil está correndo um grande risco ao desprezar a trajetória de alta das expectativas inflacionárias, na avaliação do economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, que participou nesta segunda-feira (28) do programa “Momento da Economia”, na Rádio EXAME.

Camargo explica que uma das características mais importantes do Sistema de Metas de Inflação, criado em 1999, é a ideia de que as expectativas inflacionárias ancoram a inflação do futuro, e o instrumento para fazer com que essas expectativas tendam para o centro da meta são variações na taxa de juros. “O Banco Central decidiu introduzir instrumentos de controle de crédito (as chamadas medidas macroprudenciais) e reduzir a importância das taxas de juros no controle das expectativas de inflação. Essas mudanças geraram uma enorme incerteza em relação ao comportamento da inflação no futuro, deteriorando as expectativas.”

O economista diz que é impossível, neste momento, saber quem está certo e quem está errado. “Um ponto que eu acho importante chamar atenção é que o Banco Central está correndo um grande risco quando ele despreza a trajetória das expectativas para a inflação. Nós sabemos que os pontos mais importantes são que, quando as expectativas começam a piorar – principalmente numa economia que está bastante aquecida –, a tendência dos trabalhadores é pedir reajustes de salário em função do que eles esperam que será a inflação futura. Na medida em que os empresários efetivamente acreditam que serão capazes de reajustar seus preços a uma taxa correspondente às expectativas de inflação, você cria uma situação na qual o aumento de salário gera aumento de preço, que gera aumento de salário. Fica um problema muito difícil de ser combatido no futuro.”

José Márcio Camargo, que também é professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, lembra que a pouca experiência, no mundo inteiro, quanto à utilização de controle de crédito para combater a inflação cria um risco de que não aconteça a redução na taxa de inflação desejada pelo Banco Central. “Mas é um risco que, aparentemente, o Banco Central está disposto a correr.”

Na entrevista (para ouvi-la na íntegra, clique na imagem ao lado), o economista-chefe da Opus Gestão de Recursos também analisa o impacto do cenário internacional e dos gastos públicos na inflação brasileira. 

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralInflaçãoJurosMercado financeiroPreços

Mais de Brasil

Quem é o pastor indígena que foi preso na fronteira com a Argentina

Oito pontos para entender a decisão de Dino que suspendeu R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão

Ministro dos Transportes vistoria local em que ponte desabou na divisa entre Tocantins e Maranhão

Agência do Banco do Brasil é alvo de assalto com reféns na grande SP