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Avisos sobre risco de impeachment geram irritação com Guedes em Brasília

Sob o pano de fundo do Orçamento de 2021, o ministro da Economia faz alertas ao presidente sobre crime de responsabilidade; leia a coluna Brasília em Off

O ministro da Economia sugere ao presidente que sancione o Orçamento com vetos (Ueslei Marcelino/Reuters)

O ministro da Economia sugere ao presidente que sancione o Orçamento com vetos (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 16 de abril de 2021 às 17h10.

O maior motivo da irritação quase generalizada em Brasília com o ministro da Economia, Paulo Guedes, é o fato de ele estar constantemente alertando o presidente Jair Bolsonaro sobre o risco de um impeachment caso o Orçamento de 2021 seja sancionado sem vetos.

A ala política do governo e o próprio presidente da Câmara, Arthur Lira, asseguraram a Bolsonaro que o texto pode ser sancionado no formato em que foi aprovado -- deixando de fora despesas obrigatórias para acomodar emendas parlamentares. As correções necessárias poderiam ser feitas posteriormente, dizem, apoiados por pareceres da área técnica do Congresso.

Mas segundo interlocutores, Bolsonaro tem arrepios só de pensar em impeachment, o que poderia ocorrer se o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitasse suas contas e entender que ele cometeu crime de responsabilidade. Isso gera insegurança no presidente e faz com que ele não consiga definir o que fazer com o Orçamento -- cujo prazo para sanção é dia 22. Guedes insiste que é preciso alertar o chefe para o risco jurídico e a repercussão que o assunto pode ter, inclusive de torná-lo inelegível.

Eu avisei

A área técnica da Economia já se prepara para a possibilidade cada vez maior de Bolsonaro sancionar o Orçamento sem vetos. Se isso acontecer, querem se resguardar com a mensagem que sugere o veto ao presidente, mesmo que a recomendação não seja acatada. Segundo um auxiliar de Guedes, uma solução política que agrade ao Congresso não corrige o Orçamento. O papel do Ministério da Economia, diz ele, é apontar erros e sugerir soluções.

Lira

Bolsonaro foi aconselhado no Planalto até mesmo a viajar para fora do país com o vice Hamilton Mourão e deixar a sanção do Orçamento inexequível nas mãos de Lira. Isso irritou o presidente da Câmara e seu entorno. Auxiliares do deputado ironizam que, se Lira sentar na cadeira, é melhor o centrão tomar logo conta de tudo e nem deixar Bolsonaro voltar.

Velocípede

A confusão em torno do Orçamento de 2021 piorou a reputação de Guedes como negociador. A própria equipe econômica deu o sinal verde para que despesas obrigatórias fossem excluídas da lei em troca de mais emendas para o parlamento. Um auxiliar do presidente Bolsonaro disse a colegas que não confiaria a Guedes nem a venda de um velocípede a uma criança de 5 anos. O acordo terminaria com a criança levando o velocípede e umas balinhas extras.

Puxão de orelha

Lira procurou parlamentares da oposição para acalmar os ânimos nas sessões da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa. A presidente do colegiado, deputada Bia Kicis (PSL-DF), já havia sido enquadrada por Lira logo que assumiu o posto. Ouviu que se tivesse atitudes extremistas em defesa de pautas bolsonaristas na comissão, perderia poderes, pois o presidente passaria a chamar todas as propostas diretamente para o plenário. A CCJ é responsável por analisar a legalidade e constitucionalidade dos projetos de lei que chegam à Câmara.

O problema é que, segundo um interlocutor de Lira, agora foi Kicis quem passou a ser atropelada pela oposição dentro da comissão. Por isso, o presidente voltou a ameaçar esvaziar a CCJ se a turma não se comportar.

Quem manda?

O comando do Senado pode ter trocado de mãos oficialmente no início de fevereiro, mas isso não fica claro no dia a dia da casa. Quando alguém se refere ao presidente do Senado, virou hábito perguntar ao interlocutor se ele se refere ao presidente de direito, Rodrigo Pacheco, ou ao presidente de fato, Davi Alcolumbre. Isso porque o ex-comandante da casa continua dando ordens. Alcolumbre, por exemplo, teria sido um dos responsáveis pelo aumento do volume de emendas que turbinaram o Orçamento de 2021 e criaram dor de cabeça para Bolsonaro.

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