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Ao depor em 2016, Eike disse que BNDES "é uma área crítica"

Eike Batista é um dos novos candidatos a delator da Lava Jato

Eike Batista: 8 meses atrás, Eike procurou espontaneamente a Lava Jato para falar sobre seus depósitos na conta secreta de João Santana
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 11h11.

Última atualização em 31 de janeiro de 2017 às 13h59.

São Paulo - "Vocês que estão passando o Brasil a limpo, por favor, essa é uma área crítica." O alerta foi sobre concessões de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O autor, o empresário Eike Batista , preso na manhã desta segunda-feira, 30, pela Polícia Federal, ao desembarcar no Rio, procedente dos Estados Unidos.

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A menção a "passar o Brasil a limpo" foi feita em maio de 2016, a dois procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, e repetida pelo empresário, na noite deste domingo, à uma equipe da Rede Globo, antes de embarcar em Nova York, para ser preso no Brasil.

"A Lava Jato está passando o Brasil a limpo de uma maneira fantástica. Eu digo que o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente."

Limpo

Considerado foragido desde quinta-feira passada, dia 26, quando foi decretada sua prisão preventiva na Operação Eficiência, um desdobramento da Lava Jato, que apura repasse de US$ 16,5 milhões em propinas pelo empresário para o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), Eike é um dos novos candidatos a delator - mais de 20 negociações de colaboração premiada estão em andamento, em Curitiba.

Ex-controlador do Grupo EBX, o empresário pode falar a investigadores sobre seus negócios na Petrobras - em especial, sobre a exploração do pré-sal e também dos campos de gás - e expandir as apurações para outras áreas.

Uma delas são as concessões de empréstimos do BNDES. O grupo foi um dos beneficiados com valores do banco, antes da falência. O ex-presidente da instituição Luciano Coutinho é alvo das investigações da Lava Jato, em Curitiba e Brasília.

Oito meses atrás, Eike procurou espontaneamente a Lava Jato para falar sobre seus depósitos na conta secreta do marqueteiro do PT João Santana - preso meses antes, acusado de receber propinas da Odebrecht.

O empresário alertou os procuradores sobre as concessões de empréstimos e os bens oferecidos como lastro oferecidos nas transações financeiras.

"Você bota o que quiser (como garantia), uma fazenda que não vale nada, o cara avalia por um trilhão de dólares, é fácil né."

Eike procurou o Ministério Público Federal naquele dia 20 de maio de 2016 para falar sobre os contratos de construção das plataformas P-67 e P-70, vencidos pelo Consórcio Integra Offshore (formado pela Mendes Júnior e OSX Construção Naval) - negócios de US$ 922 milhões, assinado em 2012.

O delator da Lava Jato, Eduardo Musa, que foi gerente da área responsável pelo contrato na Diretoria Internacional da Petrobras, até 2009, e virou diretor da OSX - na época do negócio - falou sobre propina nesse contrato.

O cerco contra Eike fechou quando seu nome apareceu associado á uma conta de empresa offshore - a Golden Rock Foundation -, que depositou valores na conta secreta do marqueteiro do PT.

Eike decidiu então buscar a Lava Jato. Foi ouvido pelos procuradores da República Roberson Pozzobon e Julio Motta Noronha, da força-tarefa, em Curitiba.

O empresário contou que repassou R$ 5 milhões para uma conta indicada pela mulher e sócia do marqueteiro do PT, Mônica Moura, a pedido do ex-ministro da Fazenda Guido e Mantega - mas negou tratar-se de propina.

O "depoimento espontâneo" de Eike livrou-o de ser preso na 34ª fase da Lava Jato (Operação Arquivo X), deflagrada em setembro de 2016, que levou para a cadeia o ex-ministro Mantega - solto no dia seguinte, pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.

No depoimento, o empresário afirmou que estava disposto a colaborar com as investigações.

BNDES

Antes de encerrar a oitiva, em maio, os procuradores perguntaram a Eike sobre os financiamentos públicos em seus negócios.

"Olha, 2012, nós tínhamos recursos no BNDES. Sim. 10% do nosso",respondeu o empresário. "Eram empréstimos que eram garantidos por bancos privados e meus avais com todo meu patrimônio."

O empresário afirmou que sobre o BNDES, entregou todo o patrimônio como garantia. "Que negócio é esse?", questionou Eike. "O dinheiro do BNDES deve ser investido, então a minha crítica, sinceramente, olhe para os outros que não deram seus avais pessoais, que ai que está a grande sacanagem", advertiu Eike.

O empresário começou seu depoimento espontâneo agradecendo a oportunidade dada pelos procuradores da Lava Jato para "esclarecer" fatos e evitar "mentiras" publicadas. "Eu já constatei três mentiras repetidas três vezes na mídia que acabam virando uma verdade", afirmou o empresário.

Eike ficará preso em uma cela comum, reservada aos encarcerados da Justiça Federal. Se quiser buscar uma colaboração premiada com a Lava Jato, terá que negociar com pelo menos três forças-tarefas: a do Rio - que decretou sua prisão -, a de Curitiba e a de Brasília.

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