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Alckmin vs. Doria: embate de estilos no EXAME Fórum

O governador tem capital político e experiência, o prefeito tem popularidade e o discurso do novo. Nesta segunda-feira, as diferenças ficaram escancaradas

Doria e Alckmin: embate pela atenção dos empresários no EXAME Fórum (EXAME Fórum/Site Exame)

Doria e Alckmin: embate pela atenção dos empresários no EXAME Fórum (EXAME Fórum/Site Exame)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 4 de setembro de 2017 às 17h04.

Última atualização em 5 de setembro de 2017 às 16h24.

São Paulo – Em outubro de 2005, a revista EXAME deu matéria de capa sobre o candidato preferido dos empresários para as eleições presidenciais do ano seguinte. A foto que ilustrava o favorito, com base em pesquisa exclusiva Vox Populi com presidentes das principais empresas atuantes no Brasil, era do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Seu maior adversário, como se sabe, era o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alckmin era muito mais amigável ao livre mercado. Lula, na época, era rejeitado por 77% dos CEOs. “Estou pronto para ser presidente”, disse.

Quase 12 anos depois e com os devidos ajustes no roteiro, a história se repete. Na nona edição do EXAME Fórum, Alckmin volta a flertar com presidentes e executivos de grandes empresas como o nome certo para as urnas em 2018. Desta vez, quer conter a rejeição ao governo Michel Temer e rivaliza não com Lula, mas com seu pupilo, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). O discurso de Alckmin continua soando como música para os empresários. Mas, agora, ele tem um adversário de peso na briga pelo posto de favorito do mercado. A disputa ficou clara durante a segunda-feira.

Antes padrinho e apadrinhado, Alckmin e Doria agora são concorrentes em uma disputa cada vez menos velada. A troca de declarações públicas são sempre respeitosas, mas o jogo de bastidor é feroz. No EXAME Fórum, cada um ensaiou qual será sua estratégia para convencer, não só uma plateia de empresários, mas o eleitorado em si. Alckmin apostou na razão, Doria, na emoção.

A mesa do governador foi precedida de um debate entre os cientistas políticos Bolívar Lamounier e o sócio da consultoria Prospectiva, Ricardo Sennes. As conclusões sobre cenário político para o ano que vem chegaram justamente a este fator comum: perceber se prevalecerá o racional ou o emocional no momento de escolha do eleitor. O aprofundamento das crises econômica e política são pontos cruciais, mas a dupla acredita que a busca será por pacificação e tranquilidade. “Um novo programa e a redução da raiva na sociedade favoreceriam Alckmin, mas é uma agenda que hoje o PSDB não tem”, diz Sennes.

Sentado à primeira fila do evento, Alckmin assistiu satisfeito a conclusão da dupla de analistas de que ele era o mais preparado dos candidatos postos, colocado como experiente e austero. “João Doria é o mais articulado intelectualmente — depois do governador”, disse Lamounier. Alckmin abriu o sorriso, claro. “Talvez precise melhorar a estratégia de redes sociais”, disse Sennes.

No palco, o governador fez questão de ressaltar feitos e vender a imagem de executor e de reformista, como as promessas de entregar 22 estações de trem e Metrô nos próximos meses, as interligações de transporte público aos aeroportos da Grande São Paulo e o plano de concessões de mais ativos da Sabesp. Foi confrontado pelos atrasos nas obras do Metrô, atrasadas em todas as linhas. “Em um cenário que estados não conseguem nem pagar salários, tocar seis linhas de Metrô é fenomenal”, respondeu.

Mesmo ressaltando que gostaria de ser candidato, mas ainda não o é, Alckmin defendeu a ideia de um regime geral de Previdência, que abarca o funcionalismo público e privado pelo INSS, falou de reformas políticas, excluindo marketing de campanha para baratear o pleito, e afastou-se da polarização política. Trata-se da receita perfeita de um candidato de centro, como deseja se posicionar. “O desenvolvimento é o novo nome da paz. Sem briga de comadre. É preciso confiança e estabilidade para o país poder crescer”, disse. “Falar mal do outro não te melhora”. Voltou a afirmar que o novo, no Brasil, não é a idade ou a inexperiência do candidato, mas o fato de falar a verdade.

Alckmin não citou o nome de João Doria, mas seu discurso é direcionado ao adversário de partido. Usa seus feitos no governo do estado para antagonizar com a experiência pouca de João Doria na vida pública. As entregas de obras de oito anos de mandato foram programadas para ofuscar quem tem mandato há oito meses. Demonizar a polarização é fazer crítica ao costume de Doria de fustigar o PT e Lula.

Quando questionado, em entrevista após o evento, sobre as intenções de Doria em ser candidato, Alckmin afirmou que o caminho são as prévias do partido e que jamais sairá do PSDB. Dessa forma, encurrala o prefeito, que diz sempre que não disputaria com Alckmin e seria tido como traidor se o fizesse. “Acho que o João não sai do PSDB. Ele acabou de ser eleito pelo partido”, disse. “Tudo tem seu tempo, o partido tendo mais de um candidato, sempre o caminho é ter a prévia. Mas não é agora”.

A chegada de Doria

Doria fez quase um discurso de apresentação. Sua vez de falar foi durante almoço do EXAME Fórum, logo após o governador. Um não acompanhou a palestra do outro, mas Doria foi prontamente aplaudido ao abrir sua palestra dizendo não ter nada de ácido em suas relações com Alckmin. Os dois adversários dizem ter se encontrado, mas nos bastidores do evento, longe dos olhos do público.

Durante 20 minutos, fez um passeio pelos seus sucessos recentes: o prefeito de São Paulo foi um case de sucesso ao ser eleito em primeiro turno, com 53% dos votos e, por isso, chama-se de exemplo de “empreendedorismo na vida pública”. Diz que sua trajetória é resultado “daquilo que o PT e o Luiz Inácio Mentiroso da Silva não gostam de fazer, trabalhar”. Aproveita também o resultado da eleição contra o candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT), para atacar os petistas. “Não acho que tenha sido bom prefeito, mas ao menos é honesto. Um caso raro de honestidade no PT”.

Os últimos 10 minutos de discurso destinaram-se a feitos da Prefeitura. Citou o Corujão da Saúde, que eliminou filas de exames acumulados até 2016 e o desdobramento para o Corujão das Cirurgias. Os números atualizados da fila não estão disponíveis e a gestão Doria teve dificuldades de liberar os dados até por Lei de Acesso à Informação em meados deste ano. Doria Citou também o Programa Redenção, de combate à dependência química e o tráfico de drogas na região da Cracolândia. O programa foi amplamente criticado por associações de saúde e causou a queda da ex-secretária municipal de Direitos Humanos de São Paulo, Patrícia Bezerra (PSDB), por discordâncias na condução da iniciativa. “Não é fácil enfrentar uma facção criminosa e objeções de frentes de extrema-esquerda, mas é um dever do Estado e de um cristão como eu enfrentar isso”, disse.

Ressaltar a coragem de fazer, mesmo contra o status quo, tem sido uma tônica do estilo Doria de ser candidato. É uma contraposição à pecha de “picolé de chuchu” que Alckmin sofre há anos. A tal coragem e obstinação de Doria pode colocá-lo, inclusive, em outro partido, segundo analistas. “Tenho uma relação de amizade, respeito e consideração por ele. Se essa for a decisão final do PSDB, não vou disputar prévias com o governador”, disse Doria. Questionado se não será candidato à presidente, deu a pista: “Veremos”.

Doria disse ao jornal O Estado de S. Paulo que é assediado por quatro partidos, sendo o DEM e o PMDB dois deles. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mais um dos palestrantes do EXAME Fórum, disse nesta manhã que ter uma estrutura partidária e alianças é fundamental para costurar um plano para chegar à Presidência em 2018. “Chegar lá sozinho é impossível”, disse.

A chance de costurar alianças, portanto, é o fator decisivo para Doria e Alckmin. O prefeito conta com uma popularidade instantânea que precisa resistir ao pequeno portfólio na vida pública e resistência dos políticos mais tradicionais que veem em Alckmin a melhor alternativa. O governador tem controle sobre o partido e habilidade de formatar alianças. E, segundo ele afirmou, uma extensa agenda de entregas para o segundo semestre. Doria, pelo pouco tempo na prefeitura, não terá muito a mostrar.

Na última pesquisa Datafolha de intenção de voto, o governador tinha 8% das preferências, enquanto Doria pontua 10%. O PSDB precisará decidir – e rápido – se a decisão virá de dentro para fora ou vice-versa. Entre os participantes do EXAME Fórum nesta segunda-feira, Doria foi aplaudido sete vezes, ante seis de Alckmin. Um empate técnico. A disputa pela preferência dos empresários ainda vai longe.

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