Brasil

Saúde propõe fim de exame de CD4 e cria polêmica

Ferramenta é considerada importante por infectologistas para acompanhar o tratamento de pacientes com aids


	Amostra de pessoa que vive com HIV em laboratório
 (AFP)

Amostra de pessoa que vive com HIV em laboratório (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2014 às 20h23.

Brasília - Uma ferramenta considerada importante por infectologistas para acompanhar o tratamento de pacientes com aids, o exame de CD4, deve ser aposentada pelo Ministério da Saúde a partir de 2015.

A proposta - que já provoca apreensão de pacientes e polêmica entre profissionais de saúde - prevê a restrição do exame para casos muito específicos até o fim dos estoques, o que deve ocorrer no fim do próximo ano.

A ideia é não fazer novas compras. "Médicos devem se acostumar com tecnologias mais modernas", disse o diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.

A proposta começou a ser apresentada pelo diretor em alguns encontros regionais de especialistas em laboratórios e deverá ser discutida também com integrantes do Consenso Terapêutico.

"Não é apenas o Brasil que está revendo o uso do CD4", disse o diretor. "A Organização Mundial da Saúde também vai analisar o tema."

A expectativa de Mesquita é a de que o tema seja definido ainda este ano. Entre especialistas brasileiros, no entanto, o assunto está longe de ser um consenso.

"Concordo que a tendência é de redução da indicação desse exame. Mas ele ainda é fundamental e não há perspectivas de que isso mude num curto espaço de tempo", afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Érico Arruda.

O pesquisador do Núcleo de Estudos de Prevenção da Aids, Jorge Beloqui tem avaliação semelhante. "Esse exame não é um ornamento", disse.

A maior crítica de Beloqui, no entanto, está na forma como o assunto está sendo conduzido. "Não há diálogo com associações de portadores do HIV. As propostas vêm de cima para baixo, como um decreto real", completou.

O CD4 é usado para avaliar o sistema imunológico do paciente e é geralmente combinado com outro teste, o de carga viral, que dá informações sobre a quantidade de HIV no organismo do paciente.

O CD4, até pouco tempo, era levado em consideração para definição do início do tratamento com medicamentos antiaids.

Depois de o governo liberar a indicação dos remédios para todos pacientes, independentemente da quantidade do vírus, o exame passou a ser considerado menos importante pelo governo.

"O início do tratamento qualquer que seja o CD4 é uma opção do paciente. Da forma como o governo lida com o tema, não haveria alternativa", disse Beloqui.

Do ponto de vista de saúde pública, o uso precoce do medicamento é considerado essencial: o paciente reduz o vírus circulante, diminuindo o risco de transmitir a doença para outras pessoas, no caso de relações sexuais desprotegidas.

"Mas não está claro se isso traz vantagens para o paciente. Não se sabe qual o impacto do início precoce do tratamento. O direito de escolha não pode ser retirado", disse Beloqui.

A coordenadora do Programa Estadual de DST-Aids de São Paulo, Clara Gianna, também defende a manutenção do CD4.

"Ele não tem a importância do passado, mas continua sendo fundamental, sobretudo no Brasil, onde pacientes ainda descobrem a doença tardiamente", disse.

Assim como Arruda, ela defende que o exame seja feito assim que a doença é diagnosticada. Em caso de níveis considerados não muito bons de CD4, entre 300 e 400, o exame deve ser repetido anualmente.

Além disso, para níveis inferiores a 200, o teste deveria ser indicado para fazer a prevenção de doenças oportunistas. Mesquita considera que o exame é importante apenas nessa terceira hipótese.

"Para avaliar a qualidade do tratamento, o exame de carga viral é suficiente. Ele pode ser associado a outros testes, mais modernos."

Acompanhe tudo sobre:AidsDoençasEpidemiasMinistério da SaúdeSaúdeSaúde no Brasil

Mais de Brasil

Trens e metrô terão tarifa mais alta a partir de janeiro; saiba quando e valores

PM afasta policial que atirou à queima-roupa em rapaz em São Paulo

Tarifa de ônibus em SP será de R$ 5,00; veja quando passa a valer

Alexandre de Moraes mantém prisão do general Braga Netto