4 em 10 PMs se sentem inseguros em favelas pacificadas
51,7% deles consideram que a instrução recebida na corporação não os preparou para trabalhar na UPP
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2015 às 10h05.
Rio - Montadas como primeiro passo de um projeto de policiamento comunitário, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) atravessam uma crise que tem levado os policiais militares que nelas trabalham a relatar hostilidade e raiva por parte dos moradores das favelas.
É o que revela pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) aplicada em 2014 com cabos e soldados de 36 UPPs.
Ao todo, 60,1% dos agentes admitiram ser alvo de sentimentos negativos dirigidos a eles pela população. É o maior índice das três aplicações da pesquisa - em 2010 foram 28%; em 2012, 46,1%. Já 42,4% dos PMs se sentem inseguros nas favelas "pacificadas".
Neste panorama, 65,8% dos policiais contaram que foram xingados no trabalho nos três meses que antecederam a pesquisa. Já 63% foram desrespeitados no período.
O relatório da CESeC, que será divulgado hoje, detecta ainda que 35,5% dos policiais de UPPs estão insatisfeitos com o ofício. Destes, 90% gostariam de atuar em um batalhão convencional ou em uma unidade especial do Comando de Operações Especiais (COE).
Os dados apontam para uma aproximação entre as rotinas das UPPs e dos batalhões convencionais, que não adotam práticas de policiamento comunitário, dizem especialistas.
"Isso mostra uma fragilização da lógica do policiamento de proximidade e a predominância de um tipo de policiamento tradicional dos batalhões", afirmou a cientista social Silvia Ramos, uma das coordenadoras do CESeC.
Um exemplo disso é que só um quarto (25,8%) dos policiais disse realizar com muita frequência práticas de aproximação com moradores. Já os relatos de abordagem de suspeitos são mais comuns - a atividade foi classificada como muito recorrente por 56% dos entrevistados.
Os problemas sofridos pelos PMs em suas unidades podem estar ligados à falta de treinamento, já que 51,7% deles consideram que a instrução recebida na corporação não os preparou para trabalhar na UPP. Destes, 52% sentem falta de formação prática e conhecimento da realidade das favelas.
"No começo, uma das razões para trabalhar nas UPPs era a segurança. Os comandantes chegaram a andar desarmados. Mas isso ficou mais e mais parecido com trabalhar na polícia convencional. O que parece é que tem policial que gosta dessa ideia de que a UPP se tornou algo convencional. Aquele policial que estava insatisfeito por ser chamado de 'babá de bandido' e de 'porteiro de favela' hoje está performando o estilo do policial militar tradicional", analisa Silvia.
Cenário. Questionado sobre os resultados da pesquisa, o subsecretário de Educação, Valorização e Prevenção da Secretaria Estadual de Segurança, Pehkx Jones da Silveira, ressaltou que ela foi realizada em 2014, quando, segundo ele, havia um "cenário de resistência armada" de traficantes em algumas UPPs. "O sentimento de insegurança declarado pelos entrevistados, em 2014, tem a ver com esse processo." Silveira afirmou que o policiamento de proximidade "não se perdeu", mas é adaptado ao "momento emocional de cada comunidade". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Rio - Montadas como primeiro passo de um projeto de policiamento comunitário, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) atravessam uma crise que tem levado os policiais militares que nelas trabalham a relatar hostilidade e raiva por parte dos moradores das favelas.
É o que revela pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) aplicada em 2014 com cabos e soldados de 36 UPPs.
Ao todo, 60,1% dos agentes admitiram ser alvo de sentimentos negativos dirigidos a eles pela população. É o maior índice das três aplicações da pesquisa - em 2010 foram 28%; em 2012, 46,1%. Já 42,4% dos PMs se sentem inseguros nas favelas "pacificadas".
Neste panorama, 65,8% dos policiais contaram que foram xingados no trabalho nos três meses que antecederam a pesquisa. Já 63% foram desrespeitados no período.
O relatório da CESeC, que será divulgado hoje, detecta ainda que 35,5% dos policiais de UPPs estão insatisfeitos com o ofício. Destes, 90% gostariam de atuar em um batalhão convencional ou em uma unidade especial do Comando de Operações Especiais (COE).
Os dados apontam para uma aproximação entre as rotinas das UPPs e dos batalhões convencionais, que não adotam práticas de policiamento comunitário, dizem especialistas.
"Isso mostra uma fragilização da lógica do policiamento de proximidade e a predominância de um tipo de policiamento tradicional dos batalhões", afirmou a cientista social Silvia Ramos, uma das coordenadoras do CESeC.
Um exemplo disso é que só um quarto (25,8%) dos policiais disse realizar com muita frequência práticas de aproximação com moradores. Já os relatos de abordagem de suspeitos são mais comuns - a atividade foi classificada como muito recorrente por 56% dos entrevistados.
Os problemas sofridos pelos PMs em suas unidades podem estar ligados à falta de treinamento, já que 51,7% deles consideram que a instrução recebida na corporação não os preparou para trabalhar na UPP. Destes, 52% sentem falta de formação prática e conhecimento da realidade das favelas.
"No começo, uma das razões para trabalhar nas UPPs era a segurança. Os comandantes chegaram a andar desarmados. Mas isso ficou mais e mais parecido com trabalhar na polícia convencional. O que parece é que tem policial que gosta dessa ideia de que a UPP se tornou algo convencional. Aquele policial que estava insatisfeito por ser chamado de 'babá de bandido' e de 'porteiro de favela' hoje está performando o estilo do policial militar tradicional", analisa Silvia.
Cenário. Questionado sobre os resultados da pesquisa, o subsecretário de Educação, Valorização e Prevenção da Secretaria Estadual de Segurança, Pehkx Jones da Silveira, ressaltou que ela foi realizada em 2014, quando, segundo ele, havia um "cenário de resistência armada" de traficantes em algumas UPPs. "O sentimento de insegurança declarado pelos entrevistados, em 2014, tem a ver com esse processo." Silveira afirmou que o policiamento de proximidade "não se perdeu", mas é adaptado ao "momento emocional de cada comunidade". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.