Volta do presencial prejudica profissionais de tecnologia do Norte e Nordeste
Empresas optam por profissionais locais, dispostos ao modelo híbrido ou presencial, e vagas se concentram no Sudeste
Publicado em 14 de junho de 2024 às 14h53.
Apesar do crescimento contínuo de oportunidades em Tecnologia da Informação (TI) no Brasil, as regiões Norte e Nordeste enfrentam uma disparidade significativa na oferta de vagas. De acordo com o Panorama de Talentos em Tecnologia, do Google for Startups,o Distrito Federal, a Bahia, Pernambuco e o Ceará somam apenas 11% das vagas de TI do país. Em contraste, o Sudeste concentra 62% dessas oportunidades, com 44% localizadas em São Paulo.
Dados do Banco Nacional de Empregos mostram um aumento de 79,6% nas vagas de TI entre janeiro e outubro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, a distribuição desigual dessas vagas agrava a situação de desemprego e informalidade nas regiões Norte e Nordeste, onde as taxas de desocupação são significativamente altas. No quarto trimestre de 2023, o Norte registrou uma taxa de desocupação de 7,7%, enquanto o Nordeste apresentou 10,4%, com os maiores índices no Amapá (14,2%), Bahia (12,7%) e Pernambuco (11,9%).
Desafios para a inclusão no setor de TI
A desigualdade no mercado de TI pode ser explicada, em parte, pelo Índice de Capital Humano (ICH), que mede o potencial econômico e profissional dos cidadãos. O Relatório de Capital Humano Brasileiro, do Banco Mundial, revela que o ICH médio das regiões Norte e Nordeste em 2019 era comparável ao ICH médio das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em 2007,evidenciando uma lacuna de 12 anos a ser superada.
Ana Letícia Lucca, CRO da Escola da Nuvem, uma organização que capacita pessoas em vulnerabilidade social para carreiras em computação em nuvem, destaca que a falta de empresas de TI no Norte e Nordeste contribui para a disparidade. "Essas regiões têm menos empresas do setor, o que dificulta a absorção da demanda. Além disso, a qualidade da educação em tecnologia varia significativamente entre as regiões do país, e a falta de investimento em infraestrutura e comunicação impede o desenvolvimento do setor", explica.
Volta do presencial
A concentração de vagas em regiões mais desenvolvidas, como o Sudeste, leva à migração de talentos qualificados do Norte para onde há mais oportunidades. Isso perpetua a desigualdade social e de renda, limitando o desenvolvimento econômico das regiões menos favorecidas. Durante a pandemia, o trabalho remoto facilitou a inclusão de candidatos de diversas regiões, mas o retorno ao modelo presencial ou híbrido está novamente restringindo as oportunidades.
De acordo com a Pesquisa de Tendências RH 2024, realizada pela Catho, 61% das empresas planejam voltar ao trabalho presencial em 2024, buscando promover a colaboração e a inovação. Contudo, uma pesquisa revelou que 64,4% dos entrevistados sentiram que a qualidade de vida piorou com o retorno ao trabalho presencial.
Lucca ressalta que, na área de Tecnologia, o trabalho remoto tem se mostrado eficaz. "Os resultados foram positivos, especialmente nos grandes centros onde o trânsito é caótico, como São Paulo e Rio de Janeiro. Cada modelo de trabalho tem suas vantagens e desvantagens, e é crucial que as organizações alinhem suas práticas aos seus valores."
Como solucionar?
Segundo Lucca, é necessário um esforço conjunto de empresas, governos e sociedade, com investimentos em educação e infraestrutura tecnológica. "As organizações devem estar preparadas para receber profissionais de diversas regiões, garantindo processos de contratação acessíveis e inclusivos. Ao investir em capacitação e desenvolvimento, podemos reduzir as disparidades regionais e promover um desenvolvimento econômico inclusivo", conclui Lucca.
*Este conteúdo foi produzido com o auxílio de ferramentas de inteligência artificial e revisado por nossa equipe editorial.