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Locaweb, Méliuz e Enjoei: o que muda após o IPO

As ações de Méliuz, Enjoei e Locaweb já acumulam altas exorbitantes desde a estreia das empresas na B3. Mas agora o jogo é outro

 (Arte/Exame/Divulgação)

(Arte/Exame/Divulgação)

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Rodrigo Loureiro

Publicado em 18 de março de 2021 às 06h51.

Última atualização em 18 de março de 2021 às 14h34.

Méliuz - Fintech - IPO -cashback

Israel Salmen: fundador e presidente da Méliuz não quis vender ações no IPO (Germano Lüders/Exame)

Quem investiu em ações das empresas Locaweb, Enjoei e Méliuz durante suas aberturas de capital pode ter tido motivos de sobra para comemorar se conseguiu negociar os papéis durante o pico de valorização dessas startups na bolsa. Com desempenhos invejáveis na B3, as três empresas de tecnologia – duas startups e uma veterana – multiplicaram de tamanho. Do outro lado do balcão, porém, o clima não é tão festivo. Não entenda errado: os executivos que comandam essas empresas estão sim satisfeitos (para dizer o mínimo) com o valor das ações. Mas estão também ocupados demais para celebrar qualquer alta (ou lamentar qualquer baixa).

A pressão é um dos obstáculos. Desde novembro do ano passado, o executivo Israel Salmen, fundador da Méliuz, precisou lidar com os desafios de ter que apresentar resultados para um número muito maior de sócios do que estava acostumado desde que captou os primeiros investimentos da startup de cashback no mercado de capital de risco. “Ser uma empresa pública gera uma cobrança gigantesca. E é uma cobrança diária”, diz o empreendedor. “Não tem nada ganho. É uma batalha de cada vez.”

Salmen explica que precisa realizar um trabalho para evitar que as pressões do mercado, positivas ou negativas, influenciem no planejamento estratégico estipulado pela companhia. “O foco tem que ser no trabalho, independentemente do desempenho das ações”, diz o executivo. “É claro que o bom desempenho das ações deixa a gente feliz. Mas se a gente não trabalhar, os preços vão cair. Não tem uma linha de chegada, é um jogo eterno.”

O que também não deve ter fim é a ambição de quem está à frente do negócio. “A partir do momento em que você realiza o IPO, os sonhos são escalados ao infinito”, diz Tiê Lima, cofundador da Enjoei. “A gente tinha um blog e queríamos transformar aquilo numa empresa, que depois virou uma plataforma. Agora queremos alcançar um número cada vez maior de pessoas. A diferença é somente a escala do sonho”, afirma.

Em um IPO realizado em novembro do ano passado, a plataforma de e-commerce de itens usados, principalmente relacionados com vestuário, levantou 1,1 bilhão de reais com uma oferta pública inicial que ficou no piso da faixa indicativa, em 10,25 reais por ação. Desde a estreia na B3, as ações da Enjoei chegaram a dobrar de valor em um determinado momento. Na data da publicação desta reportagem, contudo, os papéis estavam precificados abaixo do preço inicial.

Tiê conta que a estratégia adotada pela Enjoei para enfrentar a turbulência de ser uma empresa com ações listadas na bolsa foi baseada na experiência que a companhia já havia tido ao lidar com um pequeno grupo de acionistas. “As empresas que abrem capital já vêm pautadas por um histórico de trabalhos de governança realizados com a entrada de investidores de fundos de capital de risco. O que muda é que este universo é um pouco mais fechado”, diz.

Ana Luiza Maclaren e Tié Lima - CEO da Enjoei Foto: Leandro Fonseca data: 05/02/2021

Ana Luiza McLaren e Tiê Lima, fundadores da Enjoei, se preparam para lidar com os acionistas após a abertura de capital (Leandro Fonseca/Exame)

Ao mesmo tempo, Tiê explica que apesar de se sentir “no dever fiduciário de gerar valor aos acionistas”, é preciso manter a calma em momentos em que o mercado não se comporta da maneira como a empresa deseja. “As oscilações do mercado não devem fazer com que o empreendedor abra mão de seu objetivo”, diz. Segundo ele, é preciso separar e alinhar os agentes envolvidos no negócio para que, no fim, todos atinjam o mesmo objetivo, que é o sucesso da empresa. Seja no mercado fechado ou no aberto.

O sucesso dessas e de outras companhias de tecnologia no mercado de capitais abertos, coincidentemente ou não, está criando mais uma corrida de startups em direção à B3. Somente em 2020 foram 28 ofertas públicas iniciais realizadas, mais do que quintuplicando o número obtido no ano retrasado (5) e ainda bastante superior à soma dos IPOs feitos nos últimos três anos – 18. Para 2021, a previsão é de que sejam feitas 40 aberturas de capital neste modelo. Os recentes IPOs de Cruzeiro do Sul, Intelbras, Mosaico, Mobly, Espaçolaser e Bemobi entram nesta conta.

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O mercado está empolgado. Numa das mais recentes ofertas iniciais de ações de uma empresa de tecnologia, a Westwing, que atua com e-commerce, os investidores rasparam o pote da oferta-base, do lote adicional e do lote suplementar (greenshoe). A companhia estreou na bolsa de valores brasileira e com ações precificadas em 13 reais, captação de 1,16 bilhão de reais e valor de mercado de 1,55 bilhão de reais.

Mas nem todo mundo deve conseguir repetir o sucesso no jogo das ações. E se o objetivo for tomar o posto de “queridinha da Bolsa” da Locaweb, a missão é ainda mais difícil. “Eu acho que geramos uma pressão”, diz Fernando Cirne, presidente da Locaweb. A companhia viu o valor de suas ações subir mais de cinco vezes desde a estreia no mercado aberto, há um ano. “Trata-se de uma empresa que entrou e entregou”, diz Cirne.

Fernando Cirne - Locaweb Presidente Foto: Leandro Fonseca data: 18/09/2020

Fernando Cirne: presidente da Locaweb agora passa grande parte de seu tempo conversando com acionistas (Leandro Fonseca/Exame)

E que continua entregando. Principalmente em compras. Avaliada em mais de 12,9 bilhões de reais, a Locaweb captou mais de 1,3 bilhão de reais, sendo que 575 milhões de reais foram para o caixa. A maior parte deste dinheiro (74%) foi destinada para aquisições. Já foram seis startups compradas das mais de 107 empresas que estavam sendo analisadas antes a estreia na B3. “Fiz o IPO e peguei dinheiro para fazer aquisições. Agora é preciso entregar”, diz Cirne.

Mais do que as compras, que já somam investimentos acima de 340 milhões de reais e adicionam uma receita recorrente próxima de 107 milhões de reais ao negócio, a Locaweb sabia que teria que fazer mais do que gastar dinheiro para conquistar a confiança dos investidores. Principalmente no período pós-IPO e para evitar um grande movimento de venda das ações após uma valorização repentina durante os primeiros pregões.

Era preciso convencer os acionistas de que o negócio poderia crescer ainda mais e que vender as ações quase que em uma operação de day-trade não seria a melhor opção. E, para fazer isso, não há outra maneira. “Eu gasto grande parte do meu tempo com os acionistas”, afirma Cirne. “Cada um deles precisa entender o que é a Locaweb e quais são os objetivos da empresa.”

E, mesmo que o plano tenha dado certo para Locaweb, essa está longe de ser uma fórmula mágica. Mas na vida após o IPO, certo mesmo é que quem não se comunica, se trumbica.

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