Tecnologia

Roupas com QI

Novos tecidos ajudam a cicatrizar ferimentos, eliminar mau cheiro e até reduzir a celulite.

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2010 às 17h32.

Diariamente, a personal trainer e professora Luciene Silva, de 34 anos, comanda pelo menos sete horas de ginástica localizada e alongamento. Ela atende a alunos particulares e dá aulas na academia Competition, em São Paulo, além de fazer seus próprios treinos de musculação. Pode parecer estranho, mas a roupa que ela usa na foto ao lado pode ajudá-la a encarar essa rotina pesada, diminuindo a fadiga muscular.

A bermuda e o top, da linha Red Tech, da Track & Field, fazem parte da geração das roupas inteligentes. Nelas, partículas especiais são incorporadas ao tecido para alterar suas características. O resultado são roupas que podem proteger contra o sol, ajudar na cicatrização de ferimentos, eliminar o odor ou até reduzir a celulite e o ressecamento da pele.

Infravermelho

A linha Red Tech é feita com os fios Emana, da Rhodia Fibras. “Colocamos minerais na estrutura do fio, que conferem ao tecido a propriedade de emitir ondas de infravermelho longo”, explica Elizabeth Haidar, gerente de marketing da Rhodia Fibras, que começou a pesquisar essa tecnologia há 4 anos. Elizabeth faz mistério quanto a substância inserida no fio de poliamida. Mas afirma que esse mineral absorve o calor do corpo e o re-emite com comprimento de onda alterado. As ondas infravermelhas longas chegam à pele e ajudam a melhorar a circulação sanguínea.

O laboratório Kosmoscience testou o Emana e concluiu que seu uso pode aumentar em até 8% a elasticidade da pele. Pode, ainda, reduzir em até 35% o teor de ácido láctico nos músculos, amenizando a fadiga muscular. “Também foi comprovada a redução de celulite com o uso do produto durante 30 dias, por seis horas diárias”, afirma Elizabeth.

A Rhodia também usa minerais para conferir proteção solar fator 50 a alguns tecidos. Nesse caso, o aditivo é o dióxido de titânio, que bloqueia os raios solares. "Foi a primeira modifi cação nos fi os em escala molecular, feita nos anos 1990", diz Elizabeth. Essa tecnologia já é usada por alguns fabricantes de roupas. A UV.Line, por exemplo, produz chapéus, bonés, viseiras, camisetas e outros itens com o tecido bloqueador solar. A empresa vende 10 mil peças feitas com esse material por mês, diz Lyonel Pellegrino, proprietário da UV.Line.


Tecido cicatrizante

No Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), o professor Henrique Eisi Toma desenvolveu um tecido com enzimas que ajudam na cicatrização. "É possível transferir propriedades antibacterianas para tecidos com a incorporação de nanopartículas de prata às fi bras. Isso proporciona uma melhor higiene em roupas hospitalares", afirma. Segundo Toma, substâncias ativas, como tranquilizantes, também podem ser encapsuladas e aplicadas a lençóis e roupas para fins terapêuticos.

Além de ajudar na cicatrização, as nanopartículas de prata podem servir para reduzir o mau cheiro nas roupas. "Imagine jogar tênis três dias seguidos com a mesma camiseta", diz Rogério Seguro, gerente de desenvolvimento têxtil da Tavex, antiga Santista. A empresa já produziu, no laboratório, tecidos com essas características. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com o Instituto de Física da USP, em São Carlos (SP). O desafi o, agora, é fazer com que as propriedades antiodor resistam às lavagens. "Por enquanto, o tecido suporta 50 lavagens sem perder as características. Nosso objetivo é chegar a 100", diz Seguro.

De fato, a durabilidade do material é uma preocupação das empresas que desenvolvem tecidos funcionais, diz Richard Pahl, pesquisador do Laboratório de Têxteis e Confecções do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). "Quando o acabamento é superficial, o material fica mais sensível e menos durável. Já quando as aplicações acontecem em nível molecular, não há tanta dispersão durante a lavagem, e a durabilidade é maior", diz. Segundo ele, as grandes empresas fazem pesquisas e buscam certificações para comprovar os efeitos prometidos pelos seus produtos. "Eles buscam respaldo técnico para se proteger de ações judiciais", afirma.

Preço é barreira

Mesmo assim, os fabricantes nem sempre convencem o consumidor a pagar mais por uma roupa com mais tecnologia. A Tavex, por exemplo, tem um tecido chamado Lotus Effect, que promete a maravilha de não ficar sujo. No entanto, ele ainda não atingiu o sucesso desejado por ser mais caro que os materiais comuns. "Ele imita uma flor de Lótus, que permite que o barro que respinga sobre ela, escorra sobre a superfície lisa", diz Rogério Seguro. Tecidos que não precisam ser passados — pois recebem uma camada de resina que evita que fiquem amassados — também não emplacaram no Brasil. "O mercado brasileiro não aceitou bem esses produtos. Na França, por exemplo, onde contratar uma empregada é muito caro, esses tecidos são um sucesso", diz Seguro.


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