Tecnologia

Por que o Facebook quer levar internet para todos?

Empresas de tecnologia como Google e Facebook querem levar internet para todo o planeta. O que está por trás dessa iniciativa ambiciosa?


	Facebook: depois de o Google lançar um projeto que leva internet para áreas remotas do planeta por meio de balões, chegou a vez da rede social de Mark Zuckerberg
 (Reprodução)

Facebook: depois de o Google lançar um projeto que leva internet para áreas remotas do planeta por meio de balões, chegou a vez da rede social de Mark Zuckerberg (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2013 às 13h18.

São Paulo - Não faltam motivos para acreditar que a internet é um direito humano. A internet transforma a socialização. Como nos conectaríamos com amigos e familiares virtualmente sem ela? A internet alimenta mobilizações populares. O que seria dos protestos que tomaram conta das ruas do Brasil em junho sem ela? A internet permite o surgimento de novos empreendedores. Quantos empregos deixariam de ser gerados sem ela?

A internet torna as relações entre empresas e clientes mais transparentes. O que seria do atendimento ao consumidor sem ela? A internet aumenta o acesso à informação. Como saberíamos que a nossa privacidade é violada por governos sem ela? A internet ajuda a derrubar ditadores. O que seria da Primavera Árabe sem ela?

Em nome desse direito, defendido pela ONU, gigantes do mundo da tecnologia têm investido pesado em iniciativas que pretendem tornar o mundo mais conectado. Depois de o Google lançar um projeto que leva internet para áreas remotas do planeta por meio de balões, chegou a vez do Facebook.

Na semana passada, Mark Zuckerberg, criador da maior mídia social da atualidade, anunciou o projeto Internet.org, em parceria com empresas como Nokia, Qualcomm, Samsung e Ericsson. O objetivo principal: reduzir os custos do acesso à rede em nações em desenvolvimento. “Atualmente, dois terços da população mundial não têm acesso à internet. Imagine um mundo onde todos nós podemos estar conectados”, disse Zuckerberg.

Essas boas intenções, porém, despertam algumas dúvidas. Além da crença de que a internet é um direito humano, o que motiva as empresas de tecnologia a promover iniciativas do tipo? A principal razão é a busca por novos mercados. Não é de hoje que essas organizações, obrigadas a prestar contas aos investidores de Wall Street, estão sendo pressionadas a aumentar suas bases de usuários fora de mercados saturados como Estados Unidos e Europa.

Ingressar com força em países da Ásia, África e América Latina é o próximo passo obrigatório que Zuckerberg e companhia devem tomar para crescer. Antes disso, é preciso levar internet a esses lugares. O novo Internet.org pretende fazê-lo investindo em ferramentas que aprimorem a transmissão e reduzam o custo do fornecimento de dados.


A segunda dúvida trazida por tais ações está relacionada ao papel da internet no desenvolvimento de uma comunidade carente. O acesso universal à web é realmente o melhor caminho para melhorar a vida de nações pobres? Uma das alegações de Zuckerberg para lançar o Internet.org é a de que a rede promove o desenvolvimento econômico. Essa crença está baseada num estudo da consultoria McKinsey que apontou um crescimento de 21% no PIB de países desenvolvidos nos últimos cinco anos por causa da internet.

Bill Gates, fundador da Microsoft, parece discordar: “Quando uma criança tem diarreia, não há nenhum site no mundo que a alivie”, disse em entrevista à Bloomberg Businessweek. Para ele, antes de conectar as pessoas, é preciso garantir outros direitos básicos, como o atendimento de saúde de qualidade.

Sem precisar recorrer a estudos, Gates fala com conhecimento de causa. À frente de uma fundação que ajuda crianças e adultos carentes, ele já investiu mais de três bilhões de dólares para o tratamento de portadores de Aids, tuberculose e malária.

Isso nos leva a um terceiro questionamento: a internet é realmente um direito humano, como o direito à saúde, educação, moradia, informação e expressão? Para Vint Cerf, considerado um dos pais da internet e vice-presidente do Google, não.

Em artigo publicado no The New York Times, em janeiro de 2012, Cerf defende que existe um critério mais elevado para que alguma coisa seja considerada um direito humano. “Em sentido amplo, ela deve ser uma daquelas coisas das quais nós, seres humanos, precisamos a fim de poder levar uma vida saudável, dotada de sentido, como uma existência sem tortura ou liberdade de consciência. É um erro colocar determinada tecnologia nessa categoria”, escreveu.

Segundo Cerf, a internet é apenas um meio transitório para que direitos básicos como o de expressão e acesso à informação sejam praticados.


Por fim, é possível questionar a extensão do papel da iniciativa privada na promoção do acesso à web ao redor do mundo. Google, Facebook e outras empresas de tecnologia não estariam tomando a dianteira num processo que deveria ser de responsabilidade do Estado?

A verdade é que, em muitas nações pobres, governantes corruptos não investem em internet com medo de fortalecer seus dissidentes. Sem a ajuda da iniciativa privada, dificilmente seriam criados instrumentos mínimos para garantir a liberdade de expressão.

Por outro lado, a força de algumas corporações poderia criar uma dependência perigosa para a população, apontam analistas mais radicais. Para eles, um país desconectado e dominado por um tirano é tão ruim quanto uma nação conectada com a ajuda do Google.

Apesar de todas essas dúvidas, é inegável que a internet trará benefícios para as comunidades afetadas por ações de empresas de tecnologia. Sim, existem interesses mercadológicos por trás das ações. Sim, existem medidas humanitárias mais urgentes do que o acesso à rede. Sim, existe o risco de a iniciativa privada tomar para si um papel que deveria ser do Estado. Mas não faltam motivos para acreditar que vale a pena correr esses riscos para garantir o direito de nos comunicarmos, lutarmos por uma causa e vivermos num mundo mais aberto.

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