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O que aconteceu quando a Índia baniu o TikTok

Se aprovado no Senado, um projeto dos Estados Unidos pode bloquear o TikTok no país – e algo parecido já aconteceu na ásia

TikTok: a rede social foi banida na Índia em 2020, após um confronto na fronteira do país com a China (Michael M. Santiago/Getty Images)

TikTok: a rede social foi banida na Índia em 2020, após um confronto na fronteira do país com a China (Michael M. Santiago/Getty Images)

Publicado em 25 de março de 2024 às 05h44.

No início do mês, a Câmara dos Estados Unidos aprovou um projeto que, se aprovado no Senado, pode bloquear o TikTok no país – caso a rede social chinesa não consiga encontrar um comprador para suas operações nos EUA. Uma outra nação pode dar pistas sobre o que pode acontecer no país caso a plataforma saia das app stores: a Índia.

Em 2020, o governo indiano proibiu o TikTok, juntamente com outros 58 aplicativos chineses, depois que um conflito latente entre a Índia e a China eclodiu em violência em sua fronteira. Na época, o país era o maior mercado da rede controlada pela ByteDance, e tinha uma audiência de 200 milhões de usuários (hoje, os norte-americanos são os que mais usam o app, com 170 milhões de usuários no país). 

Leia também: Este empresário acha que consegue comprar o TikTok com até 90% de desconto

O TikTok chegou à Índia em 2017 e, assim como em outros países, caiu no gosto da população com seus vídeos curtos, caseiros e embalados por canções "chiclete", tudo em um feed de rolagem infinita e algoritmos extremamente precisos e personalizáveis. Além de vídeos de dancinhas e piadas, o TikTok se tornou abrigo de influencers e empreendedores.

Veer Sharma tinha 26 anos quando a rede social foi banida. Ele havia conquistado sete milhões de seguidores no TikTok, onde postava vídeos de si mesmo e de amigos dublando e brincando com músicas de filmes hindi. Ele era filho de um trabalhador demitido de uma fábrica da cidade central indiana de Indore e mal havia concluído a escola.

Com sua nova fama, o Sr. Sharma estava ganhando 100.000 rúpias, cerca de US$ 1.200, por mês. Ele comprou uma Mercedes, segundo informações do jornal New York Times. "Nosso tempo juntos logo acabará, e não sei como ou quando poderemos nos encontrar novamente", disse aos seguidores quando o app foi banido da Índia em 2020. "Então, eu chorei e chorei", disse ele ao NYT.

Mas a vida online indiana seguiu sem a plataforma da ByteDance. Vídeos originalmente hospedados no TikTok foram disponibilizados de novo em outros lugares, como o Youtube e o Instagram, que lançou o seu Reels. Mas grande parte do charme caseiro do TikTok indiano nunca encontrou um novo lar, segundo especialistas ouvidos pelo NYT. Tornou-se mais difícil para os criadores de pequeno porte serem descobertos.

Nikhil Pahwa, um analista de política digital em Nova Délhi, disse ao NYT que a "fórmula especial do TikTok" era "muito mais localizada para o conteúdo indiano" do que as fórmulas usadas pelos gigantes americanos que o sucederam.

A Índia é agora o maior mercado tanto para o YouTube (quase 500 milhões de usuários mensais) quanto para o Instagram (362 milhões), com aproximadamente o dobro de usuários de cada um em relação aos Estados Unidos, embora eles ganhem muito menos receita por consumidor.

Outro usuário do TikTok que sofreu com a proibição foi Ulhas Kamathe, de Mumbai, que virou um meme ao devorar pratos de frango. Depois de perder seus quase sete milhões de seguidores do TikTok da noite para o dia, ele diz que se recuperou — encontrando cinco milhões no YouTube, quatro milhões no Instagram e três milhões no Facebook.

Índia vs China

Enquanto a decisão de banir o TikTok nos EUA é motivada por questões de segurança cibernética e proteção dos dados dos norte-americanos na plataforma em meio a uma guerra fria com a China, a saída do app na Índia foi um pouco mais dramática.

Índia e China têm tropas posicionadas em sua fronteira desde 1962. Em 2020, esse conflito se intensificou. Em uma noite de combate, 20 soldados indianos foram mortos, junto com pelo menos quatro chineses, o que a China nunca confirmou oficialmente.

Duas semanas depois, a Índia bloqueou o TikTok. Naquela época, a Índia já estava praticando o bloqueio de sites e até desligando os dados móveis em regiões inteiras, em nome da manutenção da ordem pública. A lista de aplicativos chineses que a Índia proibiu continua crescendo, agora para 509. 

Até então, a internet da Índia havia apresentado um mercado aberto para a China. Ao contrário das empresas de mídia domésticas da Índia, as startups de tecnologia eram livres para receber investimentos da China e de outros países. O TikTok era apenas o mais popular entre dezenas de jogos e serviços de propriedade chinesa distribuídos para indianos online.

Em 29 de junho de 2020, a ordem oficial que bloqueou o TikTok e dezenas de outros serviços chineses menos conhecidos não mencionou explicitamente a China, nem a luta sangrenta na fronteira. Em vez disso, a medida foi descrita como uma questão de "segurança de dados e proteção da privacidade" dos cidadãos indianos contra "elementos hostis à segurança nacional e à defesa da Índia".

Nos anos subsequentes, o governo da Índia usou a justificativa de manter a "segurança e a soberania do ciberespaço indiano" para ditar termos até mesmo para empresas de tecnologia americanas. As autoridades reclamaram com a Apple e o Twitter, assim como com a Meta e o Google, às vezes para impedir discursos críticos ao primeiro-ministro Narendra Modi e ao seu Partido Bharatiya Janata.

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