Exame Logo

NETmundial critica espionagem dos EUA e sua hegemonia

A conferência sobre a governança da internet começou com apelo pela regulação global da rede, críticas à espionagem dos EUA e ao seu papel como controlador

Dilma Rousseff: "a participação dos governos deve ocorrer com igualdade entre si, sem que um país tenha mais peso que outros" (Nelson Almeida/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de abril de 2014 às 16h51.

São Paulo - A conferência NETmundial sobre a governança da internet começou nesta quarta-feira em São Paulo com um forte apelo pela regulação global da rede, críticas à espionagem dos Estados Unidos e ao seu papel como controlador da web.

Em um discurso enérgico na abertura do encontro - que conta com a participação de representantes de mais de 80 países, assim como da sociedade civil e de empresas da internet - a presidente Dilma Rousseff afirmou que nenhum país deve ter "mais peso que outros" na governança na web, em uma alusão aos Estados Unidos.

"É importante a participação multilateral. A participação dos governos deve ocorrer com igualdade entre si, sem que um país tenha mais peso que outros", afirmou.

A presidente, vítima direta da espionagem americana, saudou também o recente anúncio de que Washington cederá a uma entidade de caráter multissetorial o controle da ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), a corporação internacional encarregada de administrar o sistema mundial de nomes de domínio da internet, administrada até agora pelo Departamento de Comércio americano e com base na Califórnia.

Por razões sobretudo históricas, os Estados Unidos abrigam os principais organismos que administram os endereços, domínios, normas e protocolos da web, o que irrita há anos vários governos.

Impulsionadora desta cúpula mundial após as revelações do analista Edward Snowden sobre a espionagem dos Estados Unidos a cidadãos, empresas e governantes, a presidente brasileira insistiu que, "para que a internet seja mais democrática, precisa de uma maior presença dos países em desenvolvimento" em sua regulação.

A presidente já havia repudiado a espionagem na Assembleia Geral da ONU em setembro de 2013, quando propôs um modelo multilateral de governança da internet.

Assim como outros países, como Alemanha e México, o Brasil reagiu fortemente às denúncias de que Washington espionou milhares de brasileiros, a Petrobras, assim como Dilma e seus assessores. Devido a estas revelações, a presidente inclusive suspendeu uma visita de Estado a Washington programada para outubro passado.


O Brasil deseja se converter em uma voz de liderança nas mudanças na regulação da internet como anfitrião da NETmundial, realizada até quinta-feira em São Paulo para debater o futuro da internet, que já completou 25 anos.

A inédita reunião de São Paulo ocorre no momento em que o Congresso brasileiro acaba de aprovar o projeto do Marco Civil da internet, considerado um tipo de Constituição da rede.

Com um forte apoio dos internautas, o projeto tem entre seus principais pilares as garantias à liberdade de expressão e comunicação, assim como a proteção da privacidade do usuário e de seus dados pessoais.

Novos atores

Na NETmundial existem diferentes interesses em jogo, entre as vítimas da espionagem americana, os Estados que controlam o acesso e o conteúdo à rede, como China, os atores privados preocupados com sua liberdade, como Google, ou os liberais radicais, como o WikiLeaks.

E o Brasil deseja se converter em um líder dos que querem uma mudança.

"O Brasil apresentou avanços importantes em governança" da internet e, por isso, pode se converter em uma voz forte deste processo, declarou Virgilio Almeida, presidente da conferência NETmundial e funcionário de alto escalão do ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em uma entrevista à AFP.

Nos dois dias de cúpula, a prioridade "é obter resultados concretos que mostrem um avanço na discussão sobre a governança da internet e, em segundo lugar, emitir um documento que seja aceito pela maioria dos participantes", acrescentou.

O documento será um mapa do caminho, não vinculante, sobre o futuro da internet.

"O maior desafio desta cúpula é a concepção de uma governança global, multissetorial, que preserve a liberdade e uma internet aberta, que conte com uma proteção transnacional para os direitos dos usuários", declarou Vint Cerf, vice-presidente do Google e um dos fundadores da internet.

"Isto pode ser histórico. Estamos aqui para fazer uma mudança e atender ao chamado da presidente Rousseff em Nova York ou estamos aqui para perder tempo?", se perguntou Neelie Kroes, comissária da União Europeia para a Agenda Digital.

Há 25 anos, Tim Berners-Lee divulgava a proposta daquilo que daria origem à rede mundial de computadores. Em comemoração à data, o Pew Research Center (PRC) promoveu uma pesquisa na qual mais de 2.500 especialistas indicaram tendências que devem guiar a rede nos próximos 10 anos. As respostas mais comuns foram reunidas num documento. A seguir, veja o que eles acreditam que deve acontecer com a internet até 2015.
  • 2. A rede invisível

    2 /12(Dado Galdieri/Bloomberg)

  • Veja também

    Para os especialistas entrevistados pelo PRC, a internet vai ficar cada vez mais parecida com a eletricidade - que move o mundo hoje quase sem ser vista. "Não pensaremos em 'ficar online' ou 'olhar na internet' - apenas estaremos online", afirmou Joe Touch, diretor do Instituto de Ciência da University of Southern California.
  • 3. Distâncias menores

    3 /12(Getty Images)

  • Um dos efeitos que deve se intensificar ainda mais com a expansão da internet é a aproximação e a cooperação entre pesssoas de diversas partes do mundo. "Veremos mais amizades, romances, equipes e trabalhos em grupo globais", afirma Bryan Alexander, do Instituto Nacional para Tecnologia na Educação Liberal, dos EUA.

  • 4. Dados para decisão

    4 /12(Creative Commons/Flickr/Suicine)

    Outra tendência que promete se desenvolver nos próximos anos é a coleta ininterrupta de dados que, analisados, podem passar a influenciar mais nas tomadas de decisão. "Nós editaremos nosso comportamento mais rapidamente e inteligentemente", afirmou na pesquisa Patrick Tucker, autor do livro Naked Future.
  • 5. Wearables e saúde

    5 /12(Divulgação)

    Além de influenciar as decisões, a coleta constante de dados por meio de dispositivos online terá outro efeito colateral. Ela permitirá a detecção precoce da propensão a certas doeças. Nesta missão, os gadgets de computação vestível ou wearables (como o Google Glass) terão papel essencial. É esperar para ver.

  • 6. Mais protestos

    6 /12(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    O que hoje acontece na Ucrânia e na Venezuela será cada vez mais comum. A internet será cada vez mais uma ferramenta de mobilização social. "Podemos esperar mais e mais levantes à medida que as pessoas se tornem mais informadas e aptas a comunicar seus temores", afirmou Rui Correia, diretor da ONG Netday Namibia.
  • 7. Nações online

    7 /12(Aotearoa / Wikimedia Commons)

    Hoje, cyber-conflitos e Estado virtual parecem coisas de ficção científica. Porém, até 2025, fenômenos como esse podem virar realidade graças à internet. "O poder dos estados-nações para controlar todo homem dentro de limites geográficos pode começar a diminuir", afirmou ao PRC David Hughes, um dos pioneiros da internet.
  • 8. Redes menores

    8 /12(ANDRE VALENTIM)

    "Vai haver várias internets", afirmou ao PRC o escritor David Brin. De acordo com ele e outros especialistas, a existência de redes complementares à internet é uma tendência. Segundo o pioneiro da internet Ian Peter, o uso de canais alternativos será necessário por questões de segurança - entre outras razões.
  • 9. Privacidade = luxo

    9 /12(Getty Images)

    "Tudo - rigorosamente tudo - vai estar à venda online", afirmou ao PRC Llewellyn Kriel, editor da TopEditor International Media Services. A consequência disso é um mundo menos seguro, no qual preservar a própria privacidade pode se tornar difícil. Muitos especialistas acreditam que a internet deve seguir esta tendência.

  • 10. Ferramenta valiosa

    10 /12(Divulgação)

    Com o aumento de sua importância, a tendência é que a internet se torne cada vez mais visada por governos e empresas. "Governos vão se tornar muito mais efetivos no uso da internet como instrumento de controle político e social", afirma Paul Babbitt, professor associado da Southern Arkansas University.
  • 11. Educação

    11 /12(Mohammed Abed/AFP)

    O acesso universal ao conhecimento será o maior impacto da internet. Essa é a opinião de Hal Varian, economista que trabalha no Google. "A pessoa mais inteligente do mundo hoje pode estar atrás de um arado na Índia ou na China", afirmou ele. No futuro, esta pessoa estará conectada.
  • 12. Agora, veja o que acontece ainda em 2014

    12 /12(Getty Images)

  • Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffEspionagemEstados Unidos (EUA)gestao-de-negociosGovernançaInternetPaíses ricosPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Tecnologia

    Mais na Exame