Inteligência artificial confirma existência de "nova" espécie de hominídeo
Estudo utilizou pela primeira vez o 'deep learning', algoritmos de aprendizagem automática
EFE
Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 16h38.
Barcelona - Por meio da inteligência artificial , pesquisadores da Espanha identificaram no genoma de pessoas asiáticas a marca genética de uma nova espécie de hominídeo desconhecida, resultado do cruzamento entre neandertais e denisovanos, que se misturou com o homem moderno há milhares de anos.
Já se sabia que denisovanos e neandertais, os parentes extintos mais próximos dos seres humanos atuais, acasalaram e se hibridizaram em algum momento da pré-história, segundo um osso encontrado no ano passado em Denisova (Sibéria).
Agora, o trabalho dos cientistas espanhóis revela que a mistura foi generalizada e deu lugar a uma espécie híbrida que acasalou com o homem moderno.
O estudo, publicado na revista especializada 'Nature Communications", utilizou com sucesso, pela primeira vez, o 'deep learning', que consiste em algoritmos de aprendizagem automática, para explicar a história humana, o que abre as portas para a ampliação do uso desta tecnologia para responder a outras perguntas em biologia genômica e evolução.
Os pesquisadores identificaram no genoma de indivíduos asiáticos a marca desta nova espécie de hominídeos por meio da combinação de algoritmos do 'deep learning' e métodos estatísticos.
A análise computacional do DNA humano atual indica que a espécie desaparecida era um híbrido de neandertais e denisovanos, que depois se misturou na Ásia com os humanos modernos que tinham saído da África.
Participaram da pesquisa cientistas do Instituto de Biologia Evolutiva (IBE-UPF), do Centro Nacional de Análise Genômica (CNAG-CRG) e do Centro de Regulação Genômica (CRG), todos estes na Espanha; e também especialistas da Universidade de Tartu, na Estônia.
Segundo explicou o pesquisador do IBE-UPF de Barcelona, Jaume Bertranpetit, "há aproximadamente 80 mil anos aconteceu o conhecido 'Out of Africa' ('Saída da África', em tradução livre do inglês), quando uma parte da população humana que já era de humanos modernos deixou esse continente e se estendeu para outros, dando lugar a todas as populações atuais".
"A partir de então, sabíamos que tinham acontecido cruzamentos de humanos modernos com neandertais em todos os continentes, menos na África, e com os denisovanos na Oceania e, seguramente, no sudeste da Ásia, mas a evidência de cruzamentos com uma terceira espécie extinta ainda não tinha sido confirmada com certeza", afirmou Bertranpetit.
Até agora, a existência desta terceira espécie era só uma teoria que explicaria a origem de alguns fragmentos do genoma humano atual, mas, segundo o pesquisador do IBE-UPF, foi o uso do 'deep learning' que permitiu passar do DNA para a demografia das populações ancestrais.
Segundo Óscar Lao, pesquisador do CRG, "o 'deep learning' é um algoritmo que imita a forma como funciona o sistema nervoso dos mamíferos, com diferentes neurônios artificiais que se especializam e aprendem a detectar nos dados aqueles padrões que são importantes para realizar uma tarefa determinada".
"Nós aproveitamos essa propriedade para fazer com que o algoritmo aprendesse a prever a demografia humana usando genomas obtidos através de centenas de milhares de simulações para percorrer um possível caminho da história da humanidade", explicou Lao.