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Dormir mais não melhora desempenho de Musk

Dormir mais e trabalhar menos claramente não parece ser uma boa ideia para Musk

. (Joe Skipper/Reuters)

Lucas Agrela

Publicado em 23 de agosto de 2018 às 11h17.

Na semana passada, Arianna Huffington disse que a falta de sono de Elon Musk está prejudicando seu desempenho. "A ciência é clara", escreveu ela depois que o CEO da Tesla disse ao New York Times que trabalha 120 horas por semana, o que o deixa com pouco tempo para descansar.

No entanto, a ciência não mostra uma relação positiva e clara entre a duração do sono e a capacidade cognitiva. Quando se trata de dormir – assim como em muitas outras coisas - a qualidade é mais importante que a quantidade.

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Embora Huffington tenha publicado um livro sobre sono em 2016 que foi um sucesso de vendas, a única publicação científica citada em sua carta aberta a Musk foi um artigo de 2000 que compara o desempenho de uma pessoa acordada por 17 a 19 horas com o de alguém com um teor de 0,05 por cento de álcool no sangue, o que equivale aproximadamente ao nível de um homem de 82 quilos depois de beber duas cervejas em um intervalo de uma hora. Não é uma condição horrível para o final de um dia de trabalho e não é o suficiente para causar graves prejuízos à capacidade de tomar decisões. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA recomendam pelo menos sete horas de sono, o que significa 17 horas de vigília por dia, o suficiente para produzir aquela lentidão causada por duas cervejas.

Dormir mais não necessariamente ajuda. Um estudo holandês recente revelou uma associação em forma de U invertido entre a duração do sono e o desempenho cognitivo de homens de meia-idade: aqueles que dormiam menos de seis horas ou mais de nove horas por dia tiveram um desempenho pior do que aqueles que dormiam entre seis e nove horas por dia. Outro artigo recente mostrou que, em adultos jovens, uma duração menor do sono foi associada a uma maior persistência e uma melhor capacidade geral de planejar, organizar e realizar tarefas, apesar dos níveis mais altos de fadiga. De acordo com este estudo, realizado no Japão, os jovens que dormem de quatro a seis horas por dia são, provavelmente, melhores trabalhadores do que aqueles que dormem mais.

O grande corpo de trabalhos acadêmicos sobre a relação entre sono e desempenho revela que a baixa qualidade do sono está mais fortemente correlacionada com diferentes tipos de fracasso, depressão e agressão do que a curta duração do sono. Eu não presumo saber o que há, se é que há algo, de errado com a saúde de Musk, mas a julgar pela franca entrevista que concedeu ao New York Times, ele tem um problema com a qualidade do sono. Ele diz que às vezes precisa tomar remédio para conseguir descansar.

Um relatório de 2016 da National Sleep Foundation identificou vários indicadores específicos da qualidade do sono. Alguém que dorme bem, por exemplo, não passa mais de 45 minutos na cama antes de pegar no sono nem fica acordado mais de 41 minutos durante a noite. A "eficiência do sono" saudável - a relação entre o tempo de sono e o tempo passado na cama - é de mais de 74 por cento para adultos. A duração das várias fases do sono também é importante para determinar a qualidade.

Dormir mais e trabalhar menos claramente não parece ser uma boa ideia para Musk. "Você pode achar que isso é uma opção", ele twittou em resposta a Huffington. "Não é."

Ele não está falando apenas de si próprio: mesmo quando você não está fisicamente no trabalho, é difícil não pensar sobre ele se você estiver emocionalmente envolvido e motivado. E, é claro, as pessoas estão sempre disponíveis hoje em dia - e se o que você faz chama a atenção do mundo exterior, você também está exposto às intermináveis e implacáveis instigações, intimidações e interferências mal-informadas das redes sociais.

Por tudo isso, é muito mais difícil dormir bem do que dormir mais. Reservar tempo para férias e para a família não funciona para ninguém se o viciado em trabalho ficar, alternadamente, desapegado e irritado. Eu já passei por isso, assim como todos os outros obsessivos. É difícil imaginar o quanto mais grave tudo isso é para Musk, que agora atravessa, segundo ele, o ano mais traumático de sua carreira. "Descanse um pouco" não é o conselho que ele quer escutar; soa como um convite a admitir o fracasso.

Musk tem apenas duas opções nessa corrida: cruzar a linha de chegada ou bater o carro e pegar fogo. Nem todo conselho bem-intencionado é útil nesta situação. No entanto, se ele conseguir cruzar a linha de chegada, tenho certeza que ele será capaz de colocar a cabeça no travesseiro e satisfazer a todos os critérios de qualidade do sono, mesmo que por apenas quatro ou cinco horas. E ele vai encarar a manhã sorrindo. Este é o efeito da vitória, e eu só posso ajudar torcendo por ele, mesmo com olheiras, com 120 horas de trabalho por semana e tudo o mais.

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