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DNA sintético é aposta de startup francesa

Com apenas 29 anos, Sylvain Gariel é fundador da DNA Script, e planeja faturar 100 bilhões de dólares

Gariel, da DNA SCRIPT: ele virou símbolo de uma geração de empreendedores franceses que tenta se abrir para o mundo (MIT/Divulgação)
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EXAME Hoje

Publicado em 3 de agosto de 2017 às 17h55.

Última atualização em 3 de agosto de 2017 às 17h55.

Paris – Com apenas 29 anos, Sylvain Gariel foi eleito pela renomada publicação MIT Technology Review o inovador francês do ano. Ele derrotou outros nove empreendedores, responsáveis por projetos que iam desde a fabricação de órgãos por impressoras 3D a algoritmos capazes de tirar o preconceito de dados estatísticos. Seu trunfo é a startup DNA Script, que desenvolve uma nova tecnologia inovadora para síntese de DNA. É um negócio na linha de frente da medicina com potencial de faturar bilhões de dólares.

Gariel cresceu em meio a uma família de engenheiros e médicos, o que o fez se interessar pela bioengenharia. Estudou engenharia e se tornou estagiário da petroleira Total. Sua missão era ajudar a equipe que pesquisa novas formas mais eficientes de energia, e para isso eles acabavam analisando a composição química de diferentes produtos.

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“Nessa época, eu não olhava para o progresso das tecnologias de leitura do DNA e não conseguia entender porque ele não era acompanhado por uma evolução equivalente das tecnologias de síntese dos códigos genéticos”, conta.

Nasceu ali a ideia de criar com o amigo Thomas Ybert, em 2013, uma empresa especializada em sintetizar os códigos genéticos e, assim, conseguir, por exemplo, vacinas mais eficientes e plantas mais produtivas. A estratégia para levar a tecnologia de síntese de DNA a outro patamar era deixar de lado os componentes químicos usados pelas outras empresas e apostar nas enzimas naturais que já desempenham esse papel na natureza.

Os dois empreendedores perceberam que todas as enzimas cogitadas haviam sido descobertas e pesquisadas pelo mesmo laboratório: o Instituto Pasteur, que ficava a apenas algumas quadras de onde os dois moravam em Paris. Mandaram um e-mail contando a ideia para representantes do laboratório e logo receberam um convite para levar o projeto para lá. Eles poderiam utilizar a estrutura e teriam acesso aos pesquisadores internos, e o instituto receberia uma parte dos lucros futuros da empresa. Em 2014, a empresa foi oficialmente fundada e a tecnologia começou a ser desenvolvida.

O mercado de síntese de DNA tem décadas de história, mas é nos últimos anos que entrou no radar dos investidores. A maioria das empresas que trabalham na área têm base nos Estados Unidos, como é o caso da Atum e a Blue Heron Biotechnology, mas também há iniciativas em outras partes do mundo, como na Europa, com a Edinburgh Genome Foundry, e na China, com a GenScript. Essas e outras empresas formam um mercado que fatura até 2 bilhões de dólares por ano.

Se o DNA fosse um colar de pérolas, a tecnologia de síntese seria responsável por fabricar cada uma delas. As outras empresas, que utilizam componentes químicos em seus processos, demoram 10 minutos para criar apenas uma pérola. Se a fabricação é feita com as enzimas, porém, esse tempo diminui em até 98%, e o número de pérolas defeituosas se cai 99,8%.

As aplicações para o DNA sintetizado são diversas. No curto termo, o foco da equipe é desenvolver medicamentos que desempenhem a função de anticorpos, e em um segundo momento, quando a tecnologia já estiver mais madura, adaptá-la para criar também plantações que consigam fixar os nutrientes com mais facilidade e precisem de menos fertilizantes, e até novas nanotecnologias. Os produtos devem entrar em pré-venda no ano que vem.

Foco internacional

“Queremos criar uma empresa de 100 bilhões de dólares. Por isso precisamos de parceiros internacionais, já que o mercado francês é muito pequeno para os nossos planos”, disse Gariel a EXAME . O plano de expansão consiste em iniciar as operações na França, partir rapidamente para o resto da Europa e então criar alianças com laboratórios e institutos no mundo inteiro para estabelecer uma operação global. Até o nome da empresa foi escolhido tendo em mente algo que pudesse ser facilmente pronunciado em qualquer lugar do mundo.

Gariel é um exemplo de uma nova geração de empreendedores que o governo do país pretende estimular para combater as críticas de que o cenário de inovação francês é muito voltado para o mercado interno. Com essa intenção foi criado o programa French Tech Ticket, que seleciona startups do mundo inteiro para entrarem em incubadoras francesas e receberam 14.000 euros em investimento. Há também um visto especial de quatro anos para empreendedores, engenheiros e investidores que trabalharem em empresas ou startups com escritório na França.

O empenho do governo parece estar dando certo. Mesmo se Gariel pretende transformar a DNA Script em uma empresa internacional, ele diz que não gostaria de começar a desenvolver a empresa em nenhum outro lugar. “Além de pessoas talentosas, o país tem atualmente um cenário dinâmico para empreendedores. Com o investimento do Banco Público de Investimento francês e de outros fundos recebemos 2,5 milhões de euros na nossa primeira rodada de investimento”, conta. Ele diz que seria muito mais caro começar uma startup como a DNA Scrypt no Vale do Silício ou em Londres.

Seja feita com enzimas naturais ou com componentes químicos, a síntese de DNA é um campo polêmico. A capacidade de criar ou modificar o código genético pode gerar medo não só pela probabilidade de o seu mau uso propagar doenças genéticas, mas também pela alusão a temas sensíveis como clonagem, seleção de características genéticas e a até eugenia.

Gariel reconhece a necessidade da manutenção de uma regulamentação clara e firme sobre essas tecnologias, até porque segundo ele em 20 anos o plano é que seja possível sintetizar um genoma inteiro a partir da tecnologia, algo que deve ser discutido. “Entendo que a tecnologia pode remeter a ameaças em potencial, mas as suas aplicações positivas são tão importantes que simplesmente não podemos olhar para o outro lado”, diz.

Em 2009, as cinco maiores empresas de síntese de DNA, que juntas são responsáveis por 80% da capacidade do mercado, se uniram para criar o International Gene Synthesis Consortium (IGSC). Juntos com governos, essas empresas criaram um banco de dados com as sequências de genes consideradas perigosas por serem relacionadas a doenças. Esses genes não podem ser fabricados e a polícia é informada caso alguém tente fazê-lo. Além disso, cada país tem as suas próprias exigências. Na França, por exemplo, todas as empresas que querem trabalhar nessa área devem apresentar uma lista extensa de documentos para conseguir uma licença. Os riscos éticos não parecem assustar os empreendedores, que acreditam estar sentados numa mina de ouro.

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