Exame Logo

Como dois amigos do Yahoo! construíram o WhatsApp

Jan Koum e Brian Acton fundaram a WhatsApp, que acaba de ser comprada pelo Facebook, depois de anos trabalhando no Yahoo!

Facebook e WhatsApp: o app de comunicação tem 450 milhões de usuários (Justin Sullivan / Getty Images)

Maurício Grego

Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 14h58.

São Paulo -- Comprado pelo Facebook por impressionantes 19 bilhões de dólares, o WhatsApp já é parte da galeria dos fenômenos do Vale do Silício. O app é criação do discreto Jan Koum, fundador e CEO da empresa, e de seu mentor e sócio Brian Acton.

Koum, 38 anos, nasceu perto de Kiev, na Ucrânia, e emigrou para a Califórnia quando era adolescente. Ele e Acton se conheceram no Yahoo! , onde os dois somaram 20 anos de trabalho.

Eles deixaram essa empresa em 2007 e tiraram um ano sabático antes de fundar a WhatsApp em 2009.

O telegráfico currículo de Koum no LinkedIn revela um humor incomum. Ele se apresenta ora como profissional de testes de qualidade, ora como “gerente sênior de tuítes” do WhatsApp.

A descrição de seu cargo diz: “construindo uma porcaria legal usada por milhões de pessoas” (“building cool shit used by millions of people” no original). No Yahoo!, onde trabalhou por nove anos, Koum diz que “fez algum trabalho”.

Ele também afirma que mal conseguiu se formar no ensino médio e que abandonou a faculdade. Sabe-se que cursou a Universidade Estadual de San Jose, no Vale do Silício.

Em 2007, ano em que Koum e Acton deixaram o Yahoo!, o iPhone chegou às lojas e revolucionou o mercado de smartphones.

No blog do WhatsApp, Koum conta que, na visão deles, era só uma questão de tempo até que todas (ou quase todas) as pessoas tivessem smartphones. Havia uma oportunidade ali. Os celulares simples estavam condenados à extinção.

Na mesma época, segundo relatos, Koum passou a usar mais SMS para se comunicar porque a academia de ginástica que frequentava proibiu conversas ao celular.

Koum vislumbrou um serviço que não cobrasse por cada mensagem enviada. As pessoas pagariam apenas pelo acesso móvel à internet e poderiam mandar quantas mensagens quisessem.


A ideia não era realmente nova. O BlackBerry Messenger (BBM) havia sido lançado em 2006 com uma proposta similar. Mas ele exigia a contratação de um serviço específico e só funcionava nos aparelhos da BlackBerry.

Havia também os sistemas de mensagens instantâneas para computadores, que ganharam força na década de 1990 com o ICQ e, nos Estados Unidos, o AOL Instant Messenger.

A ideia do WhatsApp era juntar o custo zero das mensagens instantâneas com a conveniência da internet móvel. Uma inovação importante foi identificar os usuários pelo número do telefone.

Isso permitiu dispensar o cadastro, assim como o uso de um nome de usuário e uma senha. O sistema também facilitou a identificação de contatos, já que bastava o número do telefone de uma pessoa (disponível na agenda do smartphone) para se comunicar com ela.

Resumindo, o WhatsApp jogava a favor do usuário, tornando seu uso tão prático quanto possível. Essa característica se tornaria cada vez mais importante à medida que surgiam inúmeros concorrentes no mercado.

Jim Goetz, executivo da Sequoia Capital, sócia-investidora da WhatsApp, conta, no blog da empresa, que Koum mantém, em sua mesa de trabalho, um recado escrito por Acton. O texto diz: “No Ads! No Games! No Gimmicks!” (“Sem anúncios! Sem joguinhos! Sem truques!”).

Essas palavras parecem ter se tornado um mantra da WhatsApp. Concorrentes como Viber, Line e WeChat tentam vender ao usuário desde joguinhos até “adesivos” com desenhos que podem ser incorporados às mensagens. E muitos desses concorrentes também exibem anúncios.

O WhatsApp, ao contrário, manteve a simplicidade, desprezando as opções de monetização adotadas pelos outros.

O app travava muito no início, mas os problemas foram sendo resolvidos com o tempo. Sua base de usuários cresceu até chegar a 450 milhões de usuários ativos por mês e 320 milhões por dia.


Esse uso diário do app revela um nível de engajamento que nem o Facebook tem. E o WhatsApp chegou lá sem gastar um centavo em publicidade. É o oposto do que acontece com o WeChat, por exemplo, que chegou a contratar o jogador de futebol Lionel Messi para estrelar comerciais na TV.

Sem veicular anúncios no app, o WhatsApp tem como única fonte de receita a anuidade de 0,99 dólar que começa a ser paga pelos usuários após um ano de uso. Mas a  empresa poderá ganhar dinheiro de outras formas no futuro.

Por enquanto, o app não faz chamadas de voz como fazem Skype e Viber. Ele permite apenas enviar recados gravados, de áudio ou vídeo, além de fotos e da localização da pessoa. O recurso de chamadas telefônicas poderá ser acrescentado (e cobrado) futuramente.

Mesmo assim, é improvável que o Facebook consiga um retorno direto dos 19 bilhões gastos na aquisição. Mark Zuckerberg e sua turma parecem estar mais interessados nos benefícios estratégicos da compra.

Com o WhatsApp, o Facebook chega instantaneamente a um público jovem e numeroso, especialmente em países como Índia e Brasil, onde o app é imensamente popular.

Segundo uma estimativa da Forbes, Koum tem 45% do WhatsApp, o que significa que ele agora é dono de uma fortuna de 6,8 bilhões de dólares. Ele passará a ser membro do conselho de administração do Facebook.

Acton, dono de 20% da WhatsApp, também fica bilionário com a venda da empresa para o Facebook. Um detalhe curioso é que em 2009, antes de se juntar a Koum na criação do app, ele chegou a procurar emprego no Facebook e foi rejeitado.

Na época, Acton contou isso no Twitter e escreveu: “estou ansioso pela próxima aventura da vida”. Certamente ele não imaginava que a aventura valeria 19 bilhões de dólares.

Veja também

São Paulo -- Comprado pelo Facebook por impressionantes 19 bilhões de dólares, o WhatsApp já é parte da galeria dos fenômenos do Vale do Silício. O app é criação do discreto Jan Koum, fundador e CEO da empresa, e de seu mentor e sócio Brian Acton.

Koum, 38 anos, nasceu perto de Kiev, na Ucrânia, e emigrou para a Califórnia quando era adolescente. Ele e Acton se conheceram no Yahoo! , onde os dois somaram 20 anos de trabalho.

Eles deixaram essa empresa em 2007 e tiraram um ano sabático antes de fundar a WhatsApp em 2009.

O telegráfico currículo de Koum no LinkedIn revela um humor incomum. Ele se apresenta ora como profissional de testes de qualidade, ora como “gerente sênior de tuítes” do WhatsApp.

A descrição de seu cargo diz: “construindo uma porcaria legal usada por milhões de pessoas” (“building cool shit used by millions of people” no original). No Yahoo!, onde trabalhou por nove anos, Koum diz que “fez algum trabalho”.

Ele também afirma que mal conseguiu se formar no ensino médio e que abandonou a faculdade. Sabe-se que cursou a Universidade Estadual de San Jose, no Vale do Silício.

Em 2007, ano em que Koum e Acton deixaram o Yahoo!, o iPhone chegou às lojas e revolucionou o mercado de smartphones.

No blog do WhatsApp, Koum conta que, na visão deles, era só uma questão de tempo até que todas (ou quase todas) as pessoas tivessem smartphones. Havia uma oportunidade ali. Os celulares simples estavam condenados à extinção.

Na mesma época, segundo relatos, Koum passou a usar mais SMS para se comunicar porque a academia de ginástica que frequentava proibiu conversas ao celular.

Koum vislumbrou um serviço que não cobrasse por cada mensagem enviada. As pessoas pagariam apenas pelo acesso móvel à internet e poderiam mandar quantas mensagens quisessem.


A ideia não era realmente nova. O BlackBerry Messenger (BBM) havia sido lançado em 2006 com uma proposta similar. Mas ele exigia a contratação de um serviço específico e só funcionava nos aparelhos da BlackBerry.

Havia também os sistemas de mensagens instantâneas para computadores, que ganharam força na década de 1990 com o ICQ e, nos Estados Unidos, o AOL Instant Messenger.

A ideia do WhatsApp era juntar o custo zero das mensagens instantâneas com a conveniência da internet móvel. Uma inovação importante foi identificar os usuários pelo número do telefone.

Isso permitiu dispensar o cadastro, assim como o uso de um nome de usuário e uma senha. O sistema também facilitou a identificação de contatos, já que bastava o número do telefone de uma pessoa (disponível na agenda do smartphone) para se comunicar com ela.

Resumindo, o WhatsApp jogava a favor do usuário, tornando seu uso tão prático quanto possível. Essa característica se tornaria cada vez mais importante à medida que surgiam inúmeros concorrentes no mercado.

Jim Goetz, executivo da Sequoia Capital, sócia-investidora da WhatsApp, conta, no blog da empresa, que Koum mantém, em sua mesa de trabalho, um recado escrito por Acton. O texto diz: “No Ads! No Games! No Gimmicks!” (“Sem anúncios! Sem joguinhos! Sem truques!”).

Essas palavras parecem ter se tornado um mantra da WhatsApp. Concorrentes como Viber, Line e WeChat tentam vender ao usuário desde joguinhos até “adesivos” com desenhos que podem ser incorporados às mensagens. E muitos desses concorrentes também exibem anúncios.

O WhatsApp, ao contrário, manteve a simplicidade, desprezando as opções de monetização adotadas pelos outros.

O app travava muito no início, mas os problemas foram sendo resolvidos com o tempo. Sua base de usuários cresceu até chegar a 450 milhões de usuários ativos por mês e 320 milhões por dia.


Esse uso diário do app revela um nível de engajamento que nem o Facebook tem. E o WhatsApp chegou lá sem gastar um centavo em publicidade. É o oposto do que acontece com o WeChat, por exemplo, que chegou a contratar o jogador de futebol Lionel Messi para estrelar comerciais na TV.

Sem veicular anúncios no app, o WhatsApp tem como única fonte de receita a anuidade de 0,99 dólar que começa a ser paga pelos usuários após um ano de uso. Mas a  empresa poderá ganhar dinheiro de outras formas no futuro.

Por enquanto, o app não faz chamadas de voz como fazem Skype e Viber. Ele permite apenas enviar recados gravados, de áudio ou vídeo, além de fotos e da localização da pessoa. O recurso de chamadas telefônicas poderá ser acrescentado (e cobrado) futuramente.

Mesmo assim, é improvável que o Facebook consiga um retorno direto dos 19 bilhões gastos na aquisição. Mark Zuckerberg e sua turma parecem estar mais interessados nos benefícios estratégicos da compra.

Com o WhatsApp, o Facebook chega instantaneamente a um público jovem e numeroso, especialmente em países como Índia e Brasil, onde o app é imensamente popular.

Segundo uma estimativa da Forbes, Koum tem 45% do WhatsApp, o que significa que ele agora é dono de uma fortuna de 6,8 bilhões de dólares. Ele passará a ser membro do conselho de administração do Facebook.

Acton, dono de 20% da WhatsApp, também fica bilionário com a venda da empresa para o Facebook. Um detalhe curioso é que em 2009, antes de se juntar a Koum na criação do app, ele chegou a procurar emprego no Facebook e foi rejeitado.

Na época, Acton contou isso no Twitter e escreveu: “estou ansioso pela próxima aventura da vida”. Certamente ele não imaginava que a aventura valeria 19 bilhões de dólares.

Acompanhe tudo sobre:AppsEmpresasEmpresas americanasEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaFacebookFusões e AquisiçõesInternetInternet móvelRedes sociaisServiços onlineWhatsApp

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Tecnologia

Mais na Exame