Trybe: a escola de desenvolvedores tem curso de um ano de duração que custa até 36 mil reais (Germano Lüders/Exame)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 3 de março de 2020 às 06h55.
Última atualização em 3 de março de 2020 às 17h58.
São Paulo – São quase 150 alunos divididos em três turmas e ainda nenhum estudante graduado no curso de um ano de duração em desenvolvimento de software. Mesmo assim, a startup-escola Trybe não passou desapercebida aos olhos – e bolsos – dos investidores. Em menos de seis meses após ser fundada, a companhia já recebeu quase 60 milhões de reais em aportes.
Com operação montada desde agosto de 2019 para formar profissionais de tecnologia, a startup de Matheus Goyas, João Duarte, Rafael Torres, Claudio Lensing e Marcos Moura captou 59 milhões de reais no mercado.
Primeiro, em agosto do ano passado com um investimento de seed money de 15 milhões de reais que contou com a participação de Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central) e da Joá Investimentos, fundo cujo um dos sócios é o apresentador Luciano Huck.
Em janeiro, conforme antecipado com exclusividade pela revista EXAME, a companhia finalizou a sua segunda rodada de captação. Dessa vez foram 42 milhões de reais e injetados pelo fundo Atlantico e por empresas já parrudas do setor de venture capital, como Canary, Global Founders Capital, e.Bricks, Maya e Norte.
O que atrai o mercado é o modelo de negócio. Em vez de pagar o curso normalmente, com mensalidades que custam 2 mil reais por mês (totalizando 24 mil), o aluno da Trybe pode por um financiamento chamado de “sucesso compartilhado”.
Neste método, preferido por 90% dos estudantes, o pagamento se dá somente após a formação e durante até cinco anos desde que o aluno esteja empregado e com salário superior a 3.500 reais.
Na prática, o aluno formado pela startup passa a arcar com o pagamento de 17% de seu salário para a escola ao limite de cinco anos ou de 36 mil reais. Isso significa que caso ele ganhe 3.500 reais por mês, vai 59 parcelas de quase 600 reais. Se ganhar 10 mil, serão 21 parcelas de 1.700 reais.
Caso o estudante decida mudar de profissão ou não consiga um emprego nos cinco anos posteriores à formação, o pagamento pelas 1.440 horas de aula não é feito. “Se não conseguir um emprego que remunere acima de 3.500 reais, não precisa nos pagar”, diz Goyas.
A estratégia funcionou. Atualmente são cerca de 150 matriculados e no último processo seletivo, que consiste em prova e entrevista, feito em novembro do ano passado, foram mais de 5 mil candidatos inscritos que concorreram para 100 vagas.
Segundo Goyas, o dinheiro captado até agora será usado para a expansão dos negócios. A expectativa é de que o número de alunos matriculados chegue a 600 até o fim do ano e supere a marca de 3 mil estudantes em 2021.
Fazer isso exige aumentar a quantidade de hubs atuais. A operação atual está presente em São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis e Itajubá. As próximas cidades na mira são Rio de Janeiro, Porto Alegre e Manaus.
Mesmo endinheirada, virar o jogo no mercado de tecnologia da informação não é uma missão fácil. Segundo dados da Brasscom, há a expectativa de que 70 mil novas vagas sejam abertas por ano entre 2019 e 2024. O problema é preencher essas posições. A previsão é de que, ao final de seis anos, sejam 264 mil vagas com as cadeiras ainda vazias.